O presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães disse ao “Jornal Nacional” que o veto a espetáculos na Caixa Cultural “não é censura”. Ele disse que os projetos não foram aprovados para patrocínio e ocupação de salas “para dar espaço a posicionamentos políticos”. “Essa seleção já foi feita, ela tem contratos normais. Mas ela é para você falar da sua peça, não é para você fazer um posicionamento político no meio de uma peça. A gente não fez nenhuma contratação para fazer posicionamento político. Então, não há censura”, afirmou o presidente da Caixa.
Guimarães se referia ao espetáculo infantojuvenil “Abrazo”. Sem nenhum comunicado ou esclarecimento prévio formal, a peça havia sido cancelada pela CEF em sua noite de estreia, no último dia 7 de setembro, e não teve uma segunda sessão (estavam previstas oito). No último dia 4, o Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco (PE) ajuizou uma ação civil pública para que a peça do grupo teatral Clowns de Shakespeare seja retomada. Na ação, as procuradores da República Carolina de Gusmão Furtado e Ana Fabíola Ferreira requerem que a peça tenha mais pelo menos oito sessões na Caixa Cultural, no Recife, ou em outro teatro, às custas da Caixa. Também requerem indenização por danos morais ou coletivos, não inferior a duas vezes o valor do patrocínio da peça teatral.
De acordo com o MPF, configurou-se a prática de censura. A peça “Abrazo” tem direção de Marco França, e foi criado em 2014 na ocasião dos 50 anos do golpe militar de 1964. Ela é inspirada no “Livro dos abraços”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e não tem diálogos, o ambiente de repressão é criado apenas através do gestual dos personagens. O público acompanha uma jornada através do olhar de um menino que vive em um país onde o regime opressivo impede as pessoas de se abraçarem ou demonstrarem afeto uns com os outros.
Na época do cancelamento, o Clowns de Shakespeare entrou com uma ação judicial e explicou, em nota, que “as tentativas de comunicação com a Caixa tiveram retornos inconsistentes, resumindo-se a alegar que havíamos infringido o inciso VII da Cláusula Quarta, que prevê que a contratada seja obrigada a ‘zelar pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo’, e que isso teria ocorrido no bate-papo realizado após a primeira sessão”.
O texto continua: “Ainda sem ideia do que poderia ser alegado, uma vez que não reconhecemos nada que pudesse gerar esse tipo de reação, e diante da ausência de informações adicionais, não conseguimos imaginar outra razão para essa rescisão que não seja censura ao nosso trabalho e pensamento”. Jornal da Chapada com as informações do jornal O Globo