O ataque de um drone americano, ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resultou na morte do general iraniano Qasem Soleimani. O general era o segundo homem mais importante no país, abaixo apenas do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. A comunidade internacional reagiu. O Irã pede uma “dura vingança”, o Iraque aponta uma “flagrante violação” da sua soberania, o Reino Unido solicita “reduzir a tensão”, e o líder xiita dos iraquianos cobra “moderação e sensatez”. Enquanto isso, o governo brasileiro aposta no apoio aos Estados Unidos.
O Irã convocou na última sexta-feira (3) um funcionário da Embaixada da Suíça — que representa os interesses dos Estados Unidos em Teerã na falta de relações diplomáticas entre os dois países. O presidente iraniano, Hasan Rohani, prevê também represálias pela morte do general: “Sem dúvida, a grande nação do Irã e outras nações livres da região se vingarão por este horrível crime dos criminosos Estados Unidos”. Para o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, o bombardeio representa uma “escalada extremamente perigosa e imprudente”.
Reação iraquiana
O líder espiritual xiita do Iraque, o grão-aiatolá Ali Sistani, condenou o ataque, mas também pediu prudência aos envolvidos. “O brutal ataque é uma violação insolente da soberania iraquiana e dos acordos internacionais. Matou vários comandantes que derrotaram terroristas do Estado Islâmico”, diz Sistani em um comunicado. “O país se encaminha para tempos difíceis. Peço a todas as partes implicadas que se comportem com moderação e atuem com sensatez”, conclui o líder.
O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdelmahdi, que está prestes a deixar o cargo, salientou que o ataque representa “uma escalada perigosa que acende uma guerra destrutiva no Iraque, na região e no mundo”. Em nota, disse que “realizar operações de ajuste de contas contra figuras de liderança iraquianas e de um país irmão em solo iraquiano constitui uma violação flagrante da soberania iraquiana e um ataque à dignidade do país”.
A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, que na terça-feira foi invadida por uma multidão pró-iraniana, reiterou nesta sexta-feira o conselho para que seus cidadãos deixem o Iraque “imediatamente”, deslocando-se “em avião enquanto for possível”, já que o bombardeio teve lugar no aeroporto do Bagdá, ou “para outros países por via terrestre”. Os principais acessos fronteiriços do Iraque levam ao Irã e à Síria, que está em guerra, embora também haja outros passos para a Arábia Saudita e a Turquia.
“Condolências ao povo iraniano”
A presidente da Câmara de Representantes (deputados) dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, denunciou em um comunicado que a operação não tinha sido autorizada e foi levada a cabo “sem consulta ao Congresso”. A principal líder democrata sustentou que a prioridade do Governo deve ser “proteger as vistas e interesses dos norte-americanos”.
“O ataque aéreo desta noite ameaça provocar uma perigosa escalada de violência”, advertiu, para sublinhar que “os Estados Unidos, e o mundo, não podem permitir que as tensões aumentem até o ponto de não ter mais retorno”. Para a Rússia, o bombardeio “levará a um aumento da tensão em toda a região”, segundo nota do Ministério de Relações Exteriores. “Soleimani se dedicou a defender os interesses nacionais do Irã”, expressa a nota oficial, que oferece “sinceras condolências ao povo iraniano”.
O ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab, pediu para reduzir a tensão: “Sempre reconhecemos a ameaça agressiva da força Quds iraniana liderada por Qasem Soleimani. Após sua morte, peço a todas as partes que reduzam a tensão. Um conflito maior não é do nosso interesse”, disse Raab em um breve comunicado.
O líder do partido-milícia libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, prometeu vingança e garantiu que completarão “o caminho do comandante Soleimani”. “Trabalharemos dia e noite para alcançar seus objetivos”, disse o líder no canal de televisão libanês Al Manar, porta-voz do Hezbollah. “Vingar os assassinos dos combatentes será responsabilidade e trabalho de todos na resistência.”
Petróleo iraniano e eleições americanas
Alguns analistas políticos apontam que o ataque e o consequente agravamento na crise entre os dois países tem a ver com o interesse americano nas reservas de petróleo recém-anunciadas. Em novembro no ano passado, o governo iraniano comunicou a descoberta de um campo no sul iraniano, que pode produzir mais de 50 bilhões de barris e aumentar em um terço as reservas do país, que é o quarto maior produtor mundial. Outros apontam quem a jogada arriscada de Trump tinha um motivo especial: as eleições de 3 de novembro de 2020.
A cabeça de Suleimani estava a prêmio faz décadas mas ele só resolveu ataca-lo nesse momento. Acuado pelos democratas, Trump precisa do voto do eleitor independente — homens, brancos, classe média baixa. Eles são minoria, mas formam o pêndulo decisivo do Colégio Eleitoral em estados industriais como Ohio, Pensilvânia e Michigan, por exemplo. São eleitores que respondem aos apelos patrióticos de Trump. No Twitter, internautas retuítaram uma postagem do próprio Donald Trump de 2011 que dizia que o então presidente Barack Obama iria começar uma guerra com o Irã para se reeleger.
In order to get elected, @BarackObama will start a war with Iran.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 29, 2011
Posicionamento do Brasil
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na tarde desta sexta-feira (3), que um eventual conflito entre Irã e Estados Unidos poderia representar “o fim da humanidade”, em virtude do potencial bélico dos dois países. Em entrevista ao Brasil Urgente, do jornalista José Luiz Datena, Bolsonaro adotou pela primeira vez um discurso de distanciamento a uma medida tomada pelo presidente norte americano, Donald Trump. Porém, a noite, por meio do Itamaraty, o governo do presidente Jair Bolsonaro emitiu comunicado, visivelmente favorável à ação de Donald Trump, que resultou na morte do general Qassem Soleimani.
Sem citar expressamente o assassinato do general, Bolsonaro disse que “o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”. Não houve a condenação do assassinato do chefe da guarda revolucionária do Irã, por parte do Ministério das Relações Exteriores, responsável pela redação e publicação do comunicado às 19h57. Com informações do El País, Veja e Viomundo.