O sagrado e o profano mais uma vez se misturaram no tradicional cortejo da Lavagem do Bonfim, que conduziu uma multidão de pessoas, entre fiéis, festeiros, baianos e turistas, da Igreja da Conceição da Praia, no Comércio, à Colina Sagrada, em Salvador, na manhã desta quinta-feira (16). A festa, uma das mais belas do ciclo de eventos da alta estação na Bahia, é uma tradição que se mantém desde o século XVIII.
No cortejo se misturam manifestações artísticas, culturais e religiosas, com pessoas de várias crenças irmanadas pela fé. Outras são movidas pelo espírito de descontração, avançando por cada trecho do percurso entre cantorias e muita confraternização. Para os turistas atraídos por esta singular manifestação da cultura popular baiana, o cortejo é um momento único.
“Salvador tem uma energia maravilhosa e a energia que tem esta festa não dá para explicar”, disse Lila Andere, de Curitiba, que veio à Bahia pela primeira vez e pretende seguir até a Igreja do Bonfim. No mesmo grupo de amigos, o paulista Emerson Matos destacou o jeito de viver do baiano como importante atrativo: “É muito bacana ver uma das manifestações tão bonitas de Salvador, estas expressões genuínas daqui. O ritual e a vida normal nesta cidade são a mesma coisa e isto eu acho lindo”.
Lis Barreto, de Porto Alegre, que acabou de chegar a Salvador com o marido Vinícius Giordani, para passar a lua de mel, também elogiou a Lavagem do Bonfim. “Este evento é único em todo o Brasil, e na Bahia é onde se vê esta mistura bonita de religiões”. O pensamento dos visitantes é compartilhado pelo secretário estadual de Turismo, Fausto Franco, que considera a Lavagem do Bonfim uma celebração de grande destaque no calendário de festas populares da Bahia.
“Tem a fé de baianos e turistas que andam esses oito quilômetros de forma tão emotiva. Todo mundo que vem retorna, prova de que a festa também é única. E essa mistura do sagrado e do profano, do catolicismo com o candomblé é uma mistura que só a Bahia sabe fazer. É uma festa de fato especial, não é à toa que está fazendo 275 anos e ela está se tornando cada dia mais forte, mais importante pra nós todos, baianos e turistas”, explicou durante o percurso.
Tradição
O ponto alto é a lavagem das escadarias e do adro da Igreja do Bonfim pelas baianas tipicamente vestidas, que conduzem jarros com água de cheiro durante o cortejo. O ritual é repetido desde os tempos da escravidão, como um preparativo para a festa do Senhor do Bonfim, comemorada no domingo (19).
O sincretismo religioso é a principal marca da Lavagem, que une adeptos da fé católica e do candomblé. O Senhor do Bonfim tem como correspondente na tradição religiosa afro-baiana o orixá Oxalá, daí o predomínio de roupas brancas usadas pelas pessoas que acompanham o cortejo e a lavagem. As informações são da Setur.