Por Joy de Utinga*
A partir de hoje esqueceremos que nos equivocamos quando, emergimos da pobreza extrema (nome charmoso da miséria), para a pobreza, e já pensando que éramos ricos, crucificamos os enviados do quase milagre econômico-social. Condenamos os nossos pares, exaltamos os nossos algozes, alçamos eles ao poder e apagamos os sofrimentos dos nossos antepassados, invertemos tudo.
Festejamos queimadas, mares oleosos, chacinas, catástrofes, queimas de arquivos ou conflitos entre policiais e milicianos. Esquecemos o desemprego, a vida indigna nos grotões e periferias, a saúde caótica, a estagnação educacional, esquecemos os ataques à democracia e a à liberdade de expressão, esquecemos os ataques aos direitos trabalhistas, à destruição das aposentadorias.
Esquecemos a greve dos petroleiros que, sequer tem sido noticiada. Vamos esquecer o caos que vivemos e vamos nos aventurar na festa da carne, na festa do prazer e da distração.
Como ninguém é de ferro, é chegada a hora de anestesiados, festejarmos efusivamente, deletando da memória, os mortos e desaparecidos nas avalanches, as famílias enlutadas pelos deslizamentos, desmoronamentos, rompimentos de barragens e até mesmo, dos alagamentos que ainda, sequer, tiveram tempo de secar.
Até a próxima quarta-feira, quando acordaremos para, em profunda ressaca, percebermos que, novamente, estamos nas cinzas.
Já é carnaval cidade, já é carnaval Brasil!
*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.