O mundo passou por um quadro de pandemia há 11 anos. Em março de 2009, precisamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou uma pandemia para o H1N1, a gripe A, popularmente conhecida como ‘gripe suína’. Os primeiros registros foram no México em meados do mês de março e, depois, se espalhou pelo mundo e alcançou até a Oceania. Diante disso, temos a sensação de que nunca estaremos preparados. Em pleno século 21 o mundo se depara com uma nova crise que contabiliza mais de 300 mil pessoas infectadas com o novo coronavírus e mais de 11 mil mortes.
O número de óbitos na Itália já superou o da China e bate recordes deploráveis. Atualmente, são mais de 16 mil contaminados em território francês e 674 mortes no país. Países estão usando toque de recolher e fechando fronteiras. No Brasil, são mais de 1,5 mil casos confirmados e 25 mortes até a última atualização neste domingo (22). Na Bahia, cada dia aumenta o número de casos, até a data 22 de março são 57 confirmados. Muitas pessoas não têm levado a sério as consequências e a proporção que o vírus pode tomar. São bares, praias e pessoas umas próximas às outras, quarentena não é férias. Temos a população em vulnerabilidade social que mal tem água para lavar as mãos.
Supermercado em São Francisco – Califórnia – EUA
Diante dessa gravidade, em escala global, o Jornal da Chapada buscou saber de brasileiros que moram fora do país para contar um pouco do que estão vivendo e como estão as medidas de proteção. Conversamos com pessoas dos EUA, da Irlanda, Portugal e Itália. Cada um pôde descrever momentos que estão enfrentando por conta da Covid-19. Thiago Silva, atualmente morador de São Francisco, na Califórnia, trabalha como Uber e nos deu um panorama do que tem enfrentado.
“Aqui, o pessoal tem levado muito a sério [a quarentena]. Ainda que não seja uma ordem oficial, mas sim um decreto voluntário. Não tem carros, movimento bem parado tanto na rodovia quanto na cidade. Porém, o comércio não está autorizando as pessoas a comerem dentro [do local], apenas delivery ou pedidos para pegar e ir embora, para evitar aglomerações”, informa Thiago ao jornal. Corridas com Uber foram diminuindo até não ter mais demandas. Ele aponta que o número de casos e de mortes vem aumentando e que o sistema de saúde dos EUA é pago, tudo muito caro. “O atendimento de saúde aqui é bem complicado, não é como no Brasil que tem o SUS [Sistema Único de Saúde], aqui é tudo pago e um absurdo de caro”, salienta.
Aeroporto de Dallas – Texas- EUA
Thiago ainda fala sobre a situação de compras aos supermercados que foi necessário definir quantidades para o consumidor. “Os itens estão praticamente esgotados nos supermercados. Alguns têm fila para poder entrar de 10 em 10 pessoas. Alguns mercados estão fornecendo luvas para os clientes e dobraram a equipe de limpeza. Para pagamento no caixa, as pessoas estão mantendo um metro de distância no mínimo”, completa Thiago. Zuleide Lima é podóloga e mora a menos de um ano em Portugal. Ela descreve, em poucas palavras, a situação enfrentada. “A situação aqui está bastante caótica. Todos em casa de quarentena e cada dia os números aumentam mais”, reforça a profissional conhecida como ‘Zu Lima’.
Cláudia Tamires, moradora do Dallas, trabalha na companhia American Airlines. Ela informa que até o momento, a moderna metrópole do Texas está sob controle e que Nova Iorque enfrenta a doença. “Aqui as pessoas têm a mesma rotina de sempre. As que estão em casa são pessoas que infelizmente foram mandadas embora do trabalho por duas a três semanas. Eu quase não vejo gente com máscaras e luvas. Hospitais, supermercados funcionando normalmente. Posso afirmar que os aeroportos não estão recebendo muitos voos de fora e, por isso, não tem trabalho. Nova York está em primeiro lugar, porque lá é uma cidade suja e tem muitos moradores de rua, muito mesmo”, afirma Cláudia.
Parque vazio em Dublin – Irlanda
Em seguida, ela atualiza que a cidade confirmou três mortos por coronavírus e que a administração local iniciou protocolos urgentes. Tamires teme que a situação seja pior que a Segunda Guerra Mundial. “Em Dallas tem mais números de coronavírus. São três mortos hoje [segunda-feira, 23]. Eu estou assistindo a TV e eles estão falando várias coisas. Lojas que não for de produtos essenciais vão ser fechadas. Acho que vai ser pior do que a Segunda Guerra Mundial”.
A soteropolitana Liliane Nery nos conta como está a dinâmica em Dublin, capital da Irlanda. “As pessoas estão seguindo à risca a quarentena, o povo respeita e muito. Achei no início que eram melindrosos demais, mas diante da seriedade pude ver que só agindo com essa prevenção é que podemos conter uma situação pior. Os parques costumam ficar lotados em dias de sol, como hoje [domingo, 22]. A primavera acabou de chegar e era para todos estarem nas ruas, mas estão em casa”, conta Nery ao Jornal da Chapada.
Imagens de mercado nos Estados Unidos
Adriana Miranda, 33 anos, é empreendedora digital e mora na Manfredônia, sul da Itália. O relato dela aponta o início de como aconteceu a infecção e de como é grave o que está enfrentando vivendo de perto a realidade do vírus mortal. “No início, o vírus chegou na zona industrial da Itália – que é no Norte. Então, logo começou a se espalhar. No início as medidas poderiam ser mais drásticas, mas não sabiam que tomaria toda essa proporção. Poucos dias depois o número de casos começou a se alastrar por outras as cidades, pois as pessoas trabalham muito viajando de região para região aqui”, conta a empreendedora.
Ainda segundo Adriana, “as primeiras medidas foram fechar escolas, depois os centros comerciais e, em seguida, como não estava tendo avanços, os trabalhos não ‘essenciais’ começaram a não funcionar ou funcionar em tempo parcial. As pessoas até que seguem as normas aqui, mas o problema são os jovens. Eles são habituados a estarem fora, e agora sem universidade e sem trabalho muitos acabam saindo e desrespeitando as ordens do governo”, salienta Miranda.
“Eu moro no sul, aqui o número de casos está crescendo gradativamente, assim como começou no Norte. Mesmo com a restrição das pessoas se manterem em casa, todos os dias descobrem novos casos”. Questionada sobre o serviço de saúde ela nos diz que “os respiradores não são suficientes, mas não é verdade que está se escolhendo quem sobrevive. Estão sendo criados novos leitos e hospitais. A maioria das pessoas que estão morrendo são idosos e principalmente quem já havia algum tipo de doença, como câncer, diabetes e etc”. Adriana nos alerta para a situação. “O povo só vai tomar consciência, infelizmente, quando ver as pessoas ao lado começarem a morrer”.
Jornal da Chapada