Uma pesquisa realizada pelas universidades da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e de Bocconi, na Itália, publicado na última sexta-feira (1º) indica que cidades onde o presidente Jair Bolsonaro teve maior aprovação estão diretamente relacionadas ao aumento na taxa de contágio pelo novo coronavírus. As capitais com maior número de eleitores tiveram um aumento significativo, que pode ser explicado relaxamento das medidas de proteção após ouvirem a declaração do presidente.
A pesquisa analisou o impacto em 255 municípios brasileiros em relação as atitudes de Bolsonaro no dia 15 de março, quando o presidente subestimou a pandemia e cumprimentou manifestantes pró-governo em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. A alta na taxa de contaminação não se dá apenas pela aglomeração das manifestações pró-Bolsonaro, como também pelo relaxamento de seus apoiadores em relação às medidas de isolamento social para conter o avanço do vírus.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores usaram dados de cidades que tinham ao menos um caso confirmado da Covid-19, no período entre 8 e 26 de março, e levou em conta o percentual de votos pró-Bolsonaro no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial de 2018. Nos municípios com menor concentração de eleitores de Bolsonaro, os protestos que ocorreram em 15 de março fizeram com que a curva de contágio da Covid-19 aumentasse 24,7% em comparação com os locais que não tiveram atos a favor.
Já nos locais que registraram atos e onde ele também teve maioria popular, a taxa de contágio foi bem maior: 43,3% mais rápida do que nas cidades onde o presidente não teve a maioria dos votos e que não sediaram os atos. O aumento pode ser devido aos moradores dessas regiões ter parado de seguir as medidas de distanciamento social após o 15 de março, influenciados pelo comportamento de Bolsonaro.
Até antes das manifestações do dia 15 de março, não havia diferença significativas nas taxas de contaminação entre as cidades que apoiaram ou não o presidente na eleição. A justificativa do estudo para isso é que os três dias entre um evento e outro é o tempo necessário para a aparição dos primeiros sintomas da Covid-19.
Para chegar a essas conclusões, os autores da pesquisa compararam a taxa de contágio e isolamento, mas também a capacidade de cada município de testar sua população. O cálculo levou em consideração as cidades com maior PIB, que tendem a fazer uma testagem maior de seus pacientes. Uma das autoras do estudo, Paula Retti, afirma que esses dados foram incluídos na conta, mas que, ainda assim, a taxa de crescimento dos locais que apoiaram o presidente foi maior do que aqueles em que ele não obteve maioria dos votos, mesmo considerando a capacidade de testar os seus moradores.
Foram utilizados dados do monitoramento de 60 milhões de celulares para avaliar se as medidas de restrições foram respeitadas ou não. Com base nas informações da empresa de tecnologia ‘In Loco’, a pesquisa mediu a porcentagem de aparelhos que permaneceram dentro de um raio a 450 metros do local identificado como “casa”. Aqueles que saiam desse perímetro indicariam as pessoas que burlaram o isolamento. De acordo com o estudo das universidades americana e italiana, em geral, eleitores do Bolsonaro tendem a levar a Covid-19 menos a sério do que aqueles que não apoiam o presidente e cumprem com as medidas de isolamento social.
Fora do Brasil
Em um cenário global, Bolsonaro não foi o único chefe de Estado e de governo a subestimar a pandemia do no coronavírus. O presidente americano, Donald Trump, e o mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o nicaraguense, Daniel Ortega, também menosprezaram os riscos que a doença respiratória altamente contagiosa poderia causar em seus países. Os três, porém recuaram de suas posições após a crise sanitária se agravar. De acordo com o professor de ciência política da Universidade do Texas Kurt Weyland, essa é uma atitude típica de governos populistas, que costumam se considerar “acima de todos”. As informações são do jornal O Globo.