Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de dois bilhões de adultos apresentam peso acima do recomendado em todo o mundo. No Brasil, dois em cada dez brasileiros estão obesos e mais da metade da população, 55,4%, sofre de excesso de peso (sobrepeso), de acordo com o Ministério da Saúde. Problema de saúde pública relacionado com fatores genéticos, ambientais e comportamento alimentar, a obesidade é uma doença crônica de difícil controle e a cirurgia bariátrica tem representado uma terapêutica bem sucedida para quadros graves.
Para conhecer o comportamento e preferências alimentares de pacientes que sofrem de obesidade e vão se submeter à cirurgia bariátrica, um grupo da equipe de nutrição e de endocrinologia do Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade (NTCO), clínica de referência no tratamento da doença, em parceria com a Universidade Federal da Bahia, realizou uma pesquisa usando a metodologia de estudo descritivo baseado em dados secundários da clínica.
O estudo, realizado por Jessica Santos Costa, Maria Clara Andrade Vaz, Nadjane Ferreira Damascena, Mônica Leila Portela de Santana, Cláudia Daltro de Sousa e Carla Daltro, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Nutrição da UFBA e levou em consideração variáveis antropométricas, sociodemográficas e outras referentes ao comportamento e preferências alimentares.
“Conhecer mais a fundo o perfil dos pacientes é fundamental para direcionarmos o tratamento multidisciplinar da obesidade de uma forma individualizada”, de acordo com a nutricionista Cláudia Daltro, uma das responsáveis pela pesquisa e coordenadora de nutrição da equipe do NTCO.
Publicado na Revista de Ciências Médicas e Biológicas, o estudo, fruto do TCC de graduação em nutrição de Jessica Santos Costa, avaliou 542 pacientes com idade entre 18 e 71 anos (média de idade de 35,9 anos) e índice de massa corporal médio de 41,5 kg/m2, sendo que 73,6% dos pacientes era do sexo feminino. O estudo levantou informações sociodemográficas (idade, sexo, escolaridade, estado civil) dos pacientes e do comportamento alimentar e das preferências alimentares.
Quanto ao comportamento alimentar foi observado influência do sexo e da idade dos indivíduos, o mesmo não acontecendo em relação ao grau de obesidade. Observou-se, por exemplo, que adultos jovens (65,1%) aderem menos que os mais velhos (75,4%) ao hábito de tomar café da manhã (desjejum) regularmente na proporção.
“Esse é um dado relevante, pois inúmeros estudos apontam que o hábito do café da manhã contribui para um padrão alimentar mais saudável e, consequentemente, menor risco do ganho de peso e de suas complicações”, esclarece Cláudia Daltro. Os adultos jovens também ingerem um maior volume de alimentos nas refeições.
De acordo com o estudo, uma possível explicação para esse resultado é que as pessoas mais velhas, provavelmente, já devem ter buscado outras estratégias para reduzir a quantidade de alimentos ingeridos, e nesse contexto, começaram a aderir refeições sem excessos
Um dos dados que também chamou a atenção no estudo foi o fato dos homens (31,2%) mais frequentemente comerem no período noturno quando comparado com as mulheres (21,6% das avaliadas). Comer no período noturno está associado com excesso de calorias e, consequentemente, com maior dificuldade para a perda e manutenção do peso.
Quando questionados sobre o horário que sentiam mais fome, os pacientes indicaram o turno da noite, apesar da maioria não apresentar o comportamento de acordar para comer neste horário. A maior frequência desse comportamento foi observada entre os adultos do sexo masculino.
O estudo observou que os pacientes portadores de obesidade, independente de idade, sexo e grau de obesidade, têm uma preferência alimentar pelos grupos de cereais e massas (62,4%), seguido por carnes e ovos (58,1%). Ou seja, macarrão, pão e arroz fazem parte da rotina alimentar deles com mais frequência.
De acordo com as pesquisadoras responsáveis pelo estudo, essas informações são importantes para construção de um plano alimentar individualizado, juntamente com um trabalho minucioso de educação nutricional como ferramenta auxiliar direcionada aos pacientes que buscam uma perda de peso. As informações são de assessoria.