A Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro rejeitou por 25 votos contra e 23 a favor da abertura de processo de impeachment contra o prefeito Marcello Crivella (Republicanos) por improbidade administrativa no uso de funcionários da prefeitura para cerceamento da imprensa às portas de hospitais.
Os pedidos de impeachment haviam sido protocolados na última terça-feira, 1º de setembro, e foram votados na quinta, dia 3. Os pedidos de impeachment de Marcelo Crivela foram protocolados um dia depois de reportagem da TV Globo revelar a existência dos chamados “Guardiões do Crivella”, que são ocupantes de cargos de confiança escalados para atrapalhar a imprensa e impedir depoimento dos usuários da rede pública de saúde.
A Globo denuncia a prática que está sendo utilizada em várias capitais do país onde os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro tenta calar o povo e imprensa quando vê seus interesses contrariados. O plantão foi suspenso depois de sua revelação pública. Conforme a Globo, o plantão funcionava das 5h45m às 14h.
Em duplas ou sozinhos, os funcionários batiam o ponto na frente de hospitais municipais mandavam fotos para comprovar a presença em um grupo no WhatsApp. O trabalho desses funcionários era acompanhado em três grupos no WhatsApp: “Guardiões do Crivella”, “Plantão” e “Assessoria Especial GBP” [Gabinete do Prefeito]. Os funcionários eram escalados também para constranger beneficiários das cestas básicas distribuídas durante a pandemia da covid-19, impedindo críticas à qualidade dos produtos.
Segundo denúncias, pelo menos 20 funcionários, com pagamentos que variam de R$ 2.700 a R$ 18 mil brutos, são escalados para abordar jornalistas e entrevistados para interromper gravações. Secretários municipais, colaboradores diretos de Crivella e até o procurador-geral do município do Rio participam de um dos grupos usados para controlar o “plantão” de funcionários na frente de hospitais da cidade para impedir divulgação de denúncias.
A matéria ainda revela que o chefe da Casa Civil, Ailton Cardoso da Silva, é um dos administradores do grupo Guardiões do Crivella, que inclui também Marcelo da Silva Moreira Marques, procurador-geral do município, e a secretária de Saúde, Bia Busch. A Polícia Civil abriu inquérito e cumpriu nove mandados de busca e apreensão. O caso será investigado pelo Ministério Público. A chefe de gabinete de Crivella foi convocada a depor.
A votação na Câmara de Vereadores foi marcada por bate-boca entre apoiadores e opositores de Crivella. Em oposição ao prefeito, o vereador Célio Luparelli (DEM) comparou a atuação dos guardiões à ação de milicianos. “Uma verdadeira atitude de milícia. Ficou nítido o desvio de função. Negar isso é negar as evidências. É virar as costas à população”, comentou.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) que é filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e é colega de partido do prefeito Crivela, votou contra a abertura do processo de impeachment. Leonel Brizola (PSOL) chamou os integrantes do grupo de “jagunços contratados pelo poder público”. As críticas foram reforçadas por Paulo Pinheiro (PSOL): “Quem nomeou esses guardiões, esses capangas para trabalhar nessa função? Tentando impedir o trabalho da imprensa e que familiares tenham informações”.
A religiosidade, uma das aliadas de Crivela, não ficou de fora da votação. O vereador Inaldo Silva (Republicanos), do mesmo partido de Crivella, defendeu o prefeito. “Faltam menos de três meses para a eleição e um processo desse vai acrescentar o que? Será que estão querendo desestabilizar o prefeito? O prefeito é forte. A força dele não vem dele e sim da fé dele. Por isso que forte não é quem bate, e sim quem apanha e resiste”, comentou Silva.
O vereador Marcelo Siciliano (Progressistas) também saiu em defesa do prefeito. Ele citou o legado que o prefeito deixará à cidade, como os tomógrafos comprados durante a pandemia. “Que atire a primeira pedra quem nunca errou”. As informações são do site Cidade Verde.