Com poucas palavras e sem citar nomes, o presidente Jair Bolsonaro atiçou sua militância contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), nesta segunda-feira (5), ao postar um vídeo de integrantes de um grupo sem terra no Twitter. Nas imagens, é possível ver membros de um movimento social – não é possível afirmar se são ligados ao MST – que aparecem, e uma propriedade rural, proferindo palavras de ordem ligadas à luta pela reforma agrária.
No vídeo ainda é possível ouvir a voz da pessoa que estaria filmando. Ela afirma que não foram constatadas armas de fogo entre os integrantes do grupo. “Tenho a minha opinião, qual a sua?”, escreveu Jair Bolsonaro junto ao vídeo. A postagem foi suficiente para que, rapidamente, dezenas de seguidores começassem a responder se referindo ao MST como “terroristas”. O termo, inclusive, foi parar no topo dos assuntos mais comentados do Twitter.
– Tenho a minha opinião, qual a sua? pic.twitter.com/rDlLI3RGXW
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) October 5, 2020
Em resposta aos ataques contra o MST, outros internautas, bem como políticos do campo da oposição, começaram a fazer postagens destacando as ações de solidariedade do movimento social e também a importância do MST para a agricultura familiar e o combate à fome.
“A Rede Glóbulo mostrando empresários fazendo marketing… ops… digo… doações… mas ignorando as TONELADAS DE ALIMENTOS que os “terroristas” do MST tem doado, quase que diariamente, desde o início da pandemia”, escreveu o usuário @FabrettiVictor em resposta a Bolsonaro.
A sua "opinião" é forjada, baseada em mentiras e polêmicas para manipular politicamente o debate público. Seu único objetivo é favorecer interesses privados de fazendeiros, ruralistas e grandes latifundiários, contra os quais o @MST_Oficial luta há décadas pelo direito à terra.
— Chico Alencar 50500 (@chico_psol) October 5, 2020
“O MST : Recebeu prêmio por sua produção sustentável Ganhou prêmio por programa educacional Em 2018, assentamento do MST alcança safra recorde de sementes (IDEB) das duas escolas do MST obtém maiores índices na educação básica. Ah esses terroristas”, postou a usuária @JanaDahoui.
O ex-deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) respondeu diretamente ao presidente: “A sua “opinião” é forjada, baseada em mentiras e polêmicas para manipular politicamente o debate público. Seu único objetivo é favorecer interesses privados de fazendeiros, ruralistas e grandes latifundiários, contra os quais o @MST_Oficial luta há décadas pelo direito à terra”.
Quem também repercutiu o assunto foi o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP): “Se ‘terroristas’ na visão da extrema direita são aqueles que lutam contra as desigualdades, que defendem os mais pobres e exigem o direito a um espaço para plantar orgânicos sem as mãos da grande indústria alimentícia que só pensa no lucro, então eu tô junto do @MST_Oficial”.
Se "terroristas" na visão da extrema direita são aqueles que lutam contra as desigualdades, que defendem os mais pobres e exigem o direito a um espaço para plantar orgânicos sem as mãos da grande industria alimentícia que só pensa no lucro, então eu to junto do @MST_Oficial
— Alexandre Padilha (@padilhando) October 5, 2020
MST responde
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou, no final da tarde desta segunda-feira (5), uma nota em que rebate a indireta feita pelo presidente Jair Bolsonaro, que atiçou ataques de bolsonaristas contra o movimento.
Mais cedo, o capitão da reserva postou um vídeo de um grupo de sem terra, sem citar nomes, dizendo que “tem opinião” sobre a questão da luta pela terra, o que motivou apoiadores do presidente a chamarem membros do MST de “terroristas”. O termo chegou aos Trending Topics do Twitter.
O grupo que aparece no vídeo divulgado por Bolsonaro, no entanto, não é ligado ao MST. “Essa é mais uma ocasião em que Bolsonaro utiliza de informação falsa para criminalizar um movimento social legítimo. O vídeo em questão não se trata de uma ação do MST. Aliás, vale destacar que a procedência e a data de gravação do mesmo são desconhecidas. Ainda assim, Bolsonaro incita seus seguidores ao ataque baseando-se em um material de cunho duvidoso”, diz um trecho da nota do movimento.
No texto, o MST ainda fez questão de destacar que já doou mais de 3,4 toneladas de alimentos produzidos pelos integrantes do movimento durante a pandemia. “Diante disso, continuamos reafirmando o nosso compromisso pela Reforma Agrária Popular e com a produção de alimentos saudáveis”, prosseguem os sem terra. As informações foram extraídas do site da Revista Fórum.
Confira abaixo a íntegra da nota.
Nesta segunda-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) publicou em sua conta oficial no twitter um vídeo de uma suposta ocupação de terra, indiretamente, atribuída ao MST.
Em virtude disso, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra afirma que essa é mais uma ocasião em que Bolsonaro utiliza de informação falsa para criminalizar um movimento social legítimo.
O vídeo em questão não se trata de uma ação do MST. Aliás, vale destacar que a procedência e a data de gravação do mesmo são desconhecidas.
Ainda assim, Bolsonaro incita seus seguidores ao ataque baseando-se em um material de cunho duvidoso.
É sabido que o uso de fake news é parte da estratégia do atual governo que não tem qualquer compromisso com a democracia e com a transparência.
Diante disso, continuamos reafirmando o nosso compromisso pela Reforma Agrária Popular e com a produção de alimentos saudáveis.
Compromisso esse traduzido nas mais de 3400 toneladas de alimentos doados em todo o Brasil desde o início da pandemia do novo coronavírus (COVID-19).