O presidente Jair Bolsonaro disse, neste sábado (30), que o governo federal não tem responsabilidade sobre a falta de oxigênio que matou pacientes de Covid em hospitais públicos de Manaus; que não tem a obrigação de se antecipar a problemas. Bolsonaro voltou a defender a atuação do ministro da Saúde. Disse que não houve omissão e que o ministro Eduardo Pazuello é um tremendo de um gestor.
Sobre o aumento do número de ministérios que Bolsonaro anunciou, na sexta (29), que poderia fazer, quebrando uma promessa de campanha eleitoral de redução de pastas, neste sábado ele deu outra guinada e disse que não vai recriar ministério nenhum.
O presidente Jair Bolsonaro falou sobre reforma ministerial depois de um passeio de moto até uma concessionária em Brasília na manhã deste sábado. O Jornal Nacional mostrou, na sexta, o presidente quebrando uma promessa da campanha eleitoral de 2018 ao dizer que poderia criar mais três ministérios. Uma forma de acomodar mais aliados e de ganhar votos para os candidatos preferidos dele nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. A promessa de campanha era governar com até 15 ministérios; hoje, tem 23.
“Se tiver um clima no Parlamento, pelo o que tudo indica as duas pessoas né, Luiz Lima, que nós temos simpatia devem se eleger, não vamos ter mais uma pauta travada, a gente pode levar muita coisa avante. (inaudível) ‘Ah, quer criar ministério de novo’. O tamanho do Brasil, só a Amazônia é maior que toda a Europa ocidental todinha”, disse o presidente.
A defesa de um número maior de ministérios ocorreu depois da aproximação do governo com o Centrão para aumentar o apoio na Câmara, e representa uma grande diferença em relação ao que Bolsonaro dizia na campanha e no seu plano de governo. Mas neste sábado, questionado por jornalistas, Bolsonaro mudou o discurso de novo. Disse que não vai recriar nada. Negou planos de uma reforma ministerial.
“Não existe nada, só tem uma vaga aberta, você sabe qual é, que é a Secretaria-Geral, que está lá o Pedro [César Sousa] e está como interino. Então o que pode acontecer é alguém do ministério ir para a vaga do Pedro e abrir uma vaga do lado de lá ou o Pedro ser efetivado. Mas não tem nada mais além disso. Quem está jogando que vai ter reforma está dando palpite. Como todas, se você for olhar, todas… os meses, toda semana, a imprensa troca um ministro meu”, declarou Bolsonaro.
Jornalista: E a recriação dos três ministérios, presidente?
Bolsonaro: Não tem criação de ministério. Eu elogiei os três secretários, que fazem um brilhante trabalho. Não é criar ministério, como deram a entender, para negociar com quem quer que seja. Não, não está previsto. Não está, não é fácil criar ministério, não é fácil. Burocracia, um pouco mais de despesa, não está previsto.
Perguntado sobre a situação do Amazonas, Bolsonaro disse que o governo federal não tem obrigação de fornecer oxigênio aos estados e que não houve omissão. Além disso, o presidente fez elogios à atuação do ministro da saúde, Eduardo Pazuello, que está sendo investigada pela Polícia Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República.
A PGR considerou que houve omissão do ministro em relação ao aviso que recebeu sobre a demanda alta por oxigênio que levaria ao colapso no abastecimento dos hospitais de Manaus e também pelo fato de Pazuello ter mandado para o Amazonas lotes de um medicamento que não tem nenhuma eficácia comprovada contra a Covid.
“Trabalho excepcional do Pazuello, tremendo de um gestor. A investigação é… pequenos partidos de esquerda procuram o Supremo para tudo, para tudo. Agora pode investigar o Pazuello, qual é o problema? Não há omissão. Ele trabalha de domingo a domingo, vira a noite. Eu duvido que com outra pessoa teria tido a resposta que ele está dando. Nós, Manaus, Amazonas… mandamos R$ 9 bilhões para lá. Não é competência nossa levar e nem atribuição nossa, levar o oxigênio para lá, damos os meios. Agora, nós, quando ele ficou sabendo em uma sexta-feira do problema do gás, oxigênio, na segunda foi em Manaus. Na terça, programou tudo e na quarta começou a chegar já o oxigênio lá com aviões da Força Aérea, vindo de balsa. Logo depois, ele começou também a transportar o pessoal doente que não tinha leito em Manaus para outras capitais da redondeza, em especial, os hospitais universitários. Ele faz tudo o que é possível. Agora, em uma investigação como essa, nós não temos nada a temer”, declarou o presidente.
No pedido para investigar a atuação do ministro Pazuello, o procurador-geral da República, Augusto Aras, cita um relatório assinado pelo próprio ministro da Saúde. O documento diz que a gravíssima situação dos estoques de oxigênio hospitalar em Manaus chegou ao conhecimento do ministério no dia 8 de janeiro por meio da White Martins, fabricante do produto, e que o Ministério da Saúde apenas iniciou a entrega de oxigênio em 12 de janeiro. Pazuello foi para Manaus no dia 11.
Os R$ 9 bilhões a que o presidente faz menção não são apenas recursos destinados ao combate à Covid no Amazonas. Segundo o Portal da Transparência, em 2020, o governo federal transferiu R$ 8,9 bilhões aos governos estadual e dos municípios amazonenses, mas o valor inclui transferências obrigatórias e previstas na Constituição.
Em nota, o governo do Amazonas disse que o total de quase R$ 9 bilhões engloba valores do Fundeb, Fundos de Participação de Estados e Municípios, ao fomento às exportações e também o total transferido para entidades sem fins lucrativos, Administrações Públicas Municipais, Pessoas Físicas, Administração Pública Estadual, Entidades Empresariais Privadas, Fundos Públicos, Agentes Intermediários e Organizações Internacionais.
De acordo com o governo do estado, o total de recursos para a saúde vinculados à Covid, enviados pelo governo federal ao Amazonas em 2020, somou R$ 487 milhões.
Depois do passeio de moto, na Granja do Torto, Bolsonaro voltou a falar sobre a situação no Amazonas. “Agora, todo mundo corre atrás. Não é uma obrigação nossa se antecipar a problemas. Até porque problemas nós temos. Os respectivos estados e municípios têm que nos avisar. Não faz parte de nós entregarmos oxigênio. Não é trabalho da Força Aérea entregar o oxigênio. Mas, quando acendeu a luz vermelha, nós fizemos tudo o possível para atender o pessoal de Manaus”, declarou o presidente.
Bolsonaro também foi perguntado sobre auxílio emergencial. Disse que seria bom continuar, mas que há uma questão econômica, o teto de gastos, que, segundo ele, o governo não quer furar.
“Eu não falei de auxílio emergencial. Quem falou foram os candidatos lá à Câmara e ao Senado, né? É o que eu tenho dito, tem gente que quer que a gente continue, eu acho que seria bom continuar, mas eu pergunto, isso veio fruto de endividamento. Podemos continuar nos endividando? Vamos comparar com outros países do mundo. América do Sul. Pelo que me consta, não tenho certeza, mas nenhum país fez isso. Porque talvez não tenham a capacidade de se endividar como nós tivemos. Agora, você tem um limite. Custa caro para gente e essa dívida interna, se eu não me engano, está na casa dos R$ 5 trilhões. A gente não quer furar o teto, porque ele se ajusta à economia”, disse.
O Brasil adotou o auxílio emergencial em abril de 2020 para trabalhadores informais e autônomos que perderam a renda com a pandemia, mas não foi o único. Na América do Sul, Argentina, Chile, Colômbia e Bolívia também implantaram programas emergenciais de auxílio à população mais vulnerável, em modelos semelhantes ao brasileiro.
Na entrevista, o presidente Bolsonaro voltou a se manifestar a favor dos candidatos apoiados pelo Centrão: Arthur Lira, deputado federal do Progressistas, e Rodrigo Pacheco, senador do Democratas. A eleição para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados é na segunda-feira (1º). As informações são do site do Jornal Nacional.