Ex-integrante da Lava Jato de Curitiba, Orlando Martello, disse em e-mail enviado a colegas que procuradores da operação podem ter “extrapolado” nas mensagens por meio de aplicativos de mensagens. No entanto, ele disse que as conversas eram realizadas em “uma área livre” e em clima de “botequim”.
Em mensagem enviada a outros procuradores, revelada pelo jornal O Globo, Martello procura se justificar sobre o teor das conversas, interceptadas por hackers e reveladas, inicialmente, por série de reportagens do site The Intercept e outros veículos.
Os diálogos mostram o então juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato, entre eles Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, conversando sobre os rumos da operação. Segundo muitos especialistas em direito, os diálogos mostram práticas irregulares na condução das investigações.
No dia 1º de fevereiro, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a retirada do sigilo dos diálogos entre os procuradores e Moro obtidos pela Operação Spoofing, que apreendeu o material interceptado pelos hackers. Na terça-feira (9), o STF confirmou o direito da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ter acesso integral aos diálogos.
“Não estou aqui para negar as mensagens”
No e-mail enviado aos seus colegas, Orlando Martello diz que não se lembra de muitas mensagens, mas não contesta a existência dos diálogos.
“Sinceramente, não me recordo da grande maioria das mensagens… E digo isso com sinceridade mesmo! Foram tantas mensagens, muitas em finais de semana, em dias festivos, de madrugada. Fizemos várias intervenções em plantão de recesso, uma prisão no dia 31, um pouco antes da virada do ano. Certamente os diálogos da época podem estar permeados com sons de brindes de espumante e cardápio da ceia. Mas não estou aqui para negar as mensagens, mas para dar satisfação!”, escreveu o procurador.
“Sem censura”
Martello garante que as decisões da força tarefa eram tomadas em reuniões presenciais e, sobre o grupo de Telegram, comparou a troca de mensagens ao envio de “nudes”.
“Quanto ao grupo de Telegram, creio que todos têm noção do que ocorre. Era uma área livre, uma área de descarrego, em que expressávamos emoção, indignação, protesto, brincadeiras… Muitas infantis sim. Sem dúvida, podemos ter extrapolado muitas vezes. Eram (ou são) os nossos nudes, uma área em que os pensamentos são externados livremente e sem censura entre amigos, alguns de mais de décadas. Expostos a terceiros, causa vergonha!”, afirmou.
Além disso, o procurador argumenta que algumas mensagens foram tiradas de contexto. À época da divulgação dos diálogos, os veículos que tiveram acesso ao material afirmaram que publicaram os trechos na íntegra.
Martello diz ainda que, ainda que as mensagens possam sugerir conduta “inapropriada”, a Lava Jato respeitou o devido processo legal. “O que sempre prevaleceu, e isso deve-se ao esforço coletivo, foi a razão e não a emoção. Do ponto de vista jurídico, tudo o que era relevante foi para os processos, sem qualquer omissão, fraude, seguindo a lealdade processual”, escreveu.
“Um monte de bobeira”
Ao fim do e-mail, o procurador compara o ambiente dos grupos de Telegram a um botequim. “Quanto a eventuais comentários que alguém possa se sentir ofendido ou entender inapropriado, favor relevar, pois dito em ambiente que se assemelha ao de um botequim, onde se fala um monte de bobeiras”, disse Orlando Martello. A redação foi extraída na íntegra do site Sputnik News.