O Dia internacional do Combatente de Incêndios Florestais foi criado em 1999 como uma forma de homenagear cinco combatentes que perderam as suas vidas em um incêndio na Austrália, em 2 de dezembro deste mesmo ano. Na Chapada Diamantina, os combatentes são responsáveis por controlar os vários focos de incêndios florestais que ocorrem na região há muito tempo e com frequência, em meio a grandes problemas estruturais que acabam enfrentando.
São os combatentes voluntários que revezam entre dia e noite, ininterruptamente, para evitar catástrofes, mesmo com problema de acesso aos locais, falta de estrutura de fiscalização, ausência de policiamento ambiental na região, e com a falta de equipamentos adequados.
“Nós precisamos ter condições mínimas para combater os incêndios florestais arriscando um pouco menos nossas vidas, temos Brigadistas sem EPI’s e sem equipamentos adequados, estamos sempre precisando pedir e implorar por ajuda emergencial durante os incêndios e isso é desgastante demais”, comenta Giovana Ribeiro, da Brigada Voluntária de Combatentes de Incêndios Florestais de Andaraí (Cifa), em entrevista ao Jornal da Chapada (JC).
“Os desafios são inúmeros, desde a topografia onde o relevo e a vegetação dificultam o nosso acesso até às condições climáticas e a temperatura altíssima que nós enfrentamos dentro do fogo que pode acontecer de queimar nossas roupas, coturnos e nossa pele”, complementa ao JC.
O brigadista Homero Vieira, que coordena a Cifa e atua como combatente há mais de 40 anos, conta a sua experiência. “Não dá para contabilizar os incêndios florestais em que participei, mas graças aos esforços destes bravos combatentes, sempre saímos vitoriosos. Nos incêndios do ano passado perdemos no Brasil alguns companheiros que foram pegos pelas chamas. Ser combatente florestal é mais que uma obrigação, é atender o chamado da terra para proteger a vida”, pontua ao Jornal da Chapada (JC).
A brigadista conta que a missão não é de combater o fogo, e sim de controlar ele. “E conseguir evitar que o máximo da flora e da fauna venham a morrer, não é o quanto de área queimou, é muito mais sobre o quanto de área conseguimos salvar e não deixar queimar”, relata ao JC.
Para Vieira, o grande problema em relação aos incêndios florestais é o governo e a indústria “perversa do fogo”, como chama. “No Brasil é triste ver como os governos tratam suas unidades de conservação, as criam e depois as abandonam. Não existem guardas parques, fiscais. Considero isso um absurdo. Há anos lutando para que seja criada uma diretiva de prevenção e controle aos incêndios florestais, onde possamos ter todas as responsabilidades, regras, protocolos estabelecidos a nível nacional. Uma legislação nacional que dite os procedimentos em todo território nacional”, ressalta ao JC.
Representatividade
Por ser um ambiente em que a sociedade associa como predominantemente masculino, a brigadista conta que “apesar de posturas por vezes machistas, hoje conseguimos ser respeitadas e valorizadas pelos brigadistas homens”. No entanto, comenta que “existem sim momentos que nos sentimos quase que uma presa rodeada de caçadores, e graças a voz que nós mulheres conseguimos ter hoje em dia, a gente impõe o respeito que queremos e precisam nos dar”.
Importância
Em seu relato, Giovana pontua que a sociedade acaba enxergando a importância dos combatentes apenas enquanto o fogo está acontecendo. “Depois que a gente consegue fazer o controle a sociedade e os governantes esquecem de nós”, disse ao JC.
“Existem pouquíssimos grupos da sociedade que vez ou outra perguntam do que estamos precisando, porém a ajuda só vem durante os combates e isso faz com que plantas e animais percam suas vidas e vilarejos e cidades corram risco de pegar fogo literalmente. Não dá para equipar uma brigada em poucas horas e nisso o fogo vai destruindo tudo que ele encontra pela frente”, complementa ao JC.
Necessidade
Para realização dos trabalhos, os combatentes pontuam que precisam de qualificação por via de cursos e treinamentos, equipamentos de proteção individual (EPIs), equipamentos de combate, veículo próprio, verba para manutenção e despesas com monitoramento de prevenção, dentre outros.
“Precisamos parar com essa cultura de combater e instalar a cultura de prevenção, e para isso precisamos estar diariamente monitorando e cuidando”, informa ela, ao JC.
Jornal da Chapada