Uma pesquisa sobre a presença indígena na rua conhecida como ‘Panelada’, localizada na cidade de Rio de Contas, na Chapada Diamantina, será defendida nesta segunda-feira (17), às 10h, pelo estudante de mestrado da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Márcio Matos, 36 anos, através da plataforma Meet. A pesquisa durou um pouco mais de 24 meses, por conta da pandemia da covid-19.
Ele narra que uma experiência afro-indígena no Alto Sertão de Rio de Contas em 2017, para participar de uma atividade de extensão, possibilitou que ele desenvolvesse “um tema para o Trabalho de Conclusão de Curso [TCC] na Uneb, e, em paralelo, elaborar um anteprojeto para concorrer a uma vaga no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Ufba”.
“Em 2019, já mestrando, um de meus interlocutores mencionou que ‘em Rio de Contas só tinha índio na Panelada’, de modo que surgiu com isso o interesse em ter as famílias afro-indígenas da ‘Rua da Panelada’ parceiras de pesquisa”, diz. O nome da rua, oficialmente, é Doutor Marcolino Moura.
“Eu fui percebendo que ela [rua] se molda no afro-indígena, por conta de ter uma dupla ancestralidade, de origem africana e uma de origem indígena”, o que caracterizou a pesquisa com título: “‘Meios índios’, ‘Meios Negros’: Etnicidade e pobreza em Rio de Contas”.
“Ingressei no mestrado com um projeto que constituía em uma etnografia de arquivo acerca da experiência de ser negro em Rio de Contas durante o final do século XIX, através dos processos-crimes disponíveis no arquivo municipal da cidade. Porém, ainda no começo da construção do corpus da pesquisa, soube das demandas da comunidade da Panelada e, então, resolvi mudar o foco da pesquisa. Além de ser uma produção realmente nova”, conta.
O estudante, logo, foi conhecer o lugar e os moradores, pois, de acordo com ele, os estudos antropológicos realizados no município não mencionavam a presença de remanescentes indígenas. “A emergência deste fato me levou a alterar os estudos para tratar de questões étnico-raciais e identitárias que envolviam especificamente as pessoas ‘identificadas’ e que se ‘autorreconhecem’ como ‘Povo da Panelada’”, comenta.
Na dissertação, ele partiu do pressuposto de que as famílias observadas e os antigos indígenas da cidade de Serra Preta possuíam laços étnicos comuns. Com isso, esse ponto mudava a relação com o território em ambas as cidades.
“Apesar da ‘Panelada’ ter se convertido em um ‘território étnico’ provisório, é possível que seus atores sociais passem pela experiência da reterritorialização, consequência da reivindicação de um território ancestral, que pode ser atendida pela Funai [Fundação Nacional do Índio]”, diz. “Considero minha pesquisa desafiadora e estimulante, já que pretendo ingressar no doutorado para dar continuidade ao tema”, finaliza.
Jornal da Chapada