O antipetismo, decisivo nas últimas disputas eleitorais, deve ceder o lugar para o antibolsonarismo nas eleições de 2022, segundo cenário analisado por cientistas políticos. Os fatores como a queda da popularidade de Bolsonaro, registrada em pesquisa do DataPoder, e a recuperação dos direitos eleitorais do ex-presidente Lula, são decisivos, conforme especialistas.
“O antibolsonarismo é ainda maior que o antipetismo, pois todos aqueles que se colocam em uma condição de democratas e se afastam de qualquer discurso que busque solapar a democracia formaram um percentual enorme que não vota de jeito nenhum no presidente. A questão é que se o bolsonarismo tem, em média, cerca de 30% de uma base resiliente, podemos dizer que os outros 70% não estão com ele”, diz Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
“O sentimento de desgaste do Bolsonaro e o alinhamento do antibolsonarismo são mais fortes [do que o antipetismo], porque hoje o Bolsonaro está no poder. Quem está no poder torna-se vidraça. O presidente deixa de ser o outsider e vai ter que se acertar com tudo que fez de certo e errado em sua gestão”, acrescenta o professor.
No entanto, ele acredita que a rejeição de Lula e do PT ainda deve ter peso, embora seja menor, na próxima eleição. “É improvável que o sentimento desapareça”, avalia
Até o momento, a disputa está afunilada entre Lula e Bolsonaro. A tendência é que o atual presidente busque reacender o sentimento antipetista. “Entre os eleitores do Bolsonaro, [o antipetismo] ainda é um assunto fundamental. [Nas eleições, os bolsonaristas] não vão defender o governo, vão defender a necessidade de derrotar o Lula e o PT”, avalia o cientista político pela Universidade de Brasília Gabriel Elias.
A pandemia da covid-19 é o fator de maior desgaste do presidente em seu mandato. De acordo com Elias, os próximos meses serão cruciais para o presidente manter as chances de reeleição.
“O Bolsonaro não chegou no seu pior momento ainda”, pontua. “Nos próximos meses, ele vai enfrentar um teste de fogo: o auxílio deve acabar e a terceira onda deve chegar com mais força. Tudo isso pode coincidir com a entrega dos resultados da CPI”.
Para Elias, o cenário ainda não é uma certeza e até mesmo o ex-presidente Lula, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto para 2022, pode sofrer reveses.
“Se a situação se agravar nos próximos meses, há chances de impeachment. Caso aconteça, o que vamos ver é uma profusão de candidaturas e o segundo turno vai ficar muito incerto, sem saber quem vai enfrentar o Lula”, diz.
“Se o Bolsonaro se enfraquecer a ponto de não chegar ao segundo turno ou sequer chegar às eleições, o resgate do antipetismo e antilulismo volta com muita força”, afirma, ao lembrar que o antipetismo não acabou.
Mas conforme os especialistas, a disputa hoje aponta para um favoritismo do petista. “Em 2022, mantido o cenário atual, vence quem tiver menor rejeição. Creio que potencialmente o Lula tem mais condições de dialogar com o centro. O Bolsonaro, nesses anos de governo, continua falando só com os apoiadores”, afirma o professor da Mackenzie.
“O Lula deve chegar mais fortalecido do que estava nos últimos anos e tem o Bolsonaro mais enfraquecido por conta da pandemia, por não ser mais uma novidade e pelas acusações de corrupção”, prossegue. Jornal da Chapada com informações de Carta Capital.