O jornalista Édrian Santos usou as redes sociais nesta segunda-feira (19) para expor uma abordagem da Polícia Militar enquanto andava com sua bicicleta na Avenida Paulista. O profissional de comunicação, que é negro, foi abordado, segundo os PMs, por ter “bike boa” e andar “bem vestido”.
“Fui abordado por dois PMs. Segundo eles, pessoas com ‘bikes boas e bem vestidas’ costumam assaltar na Paulista. Resultado: tive que provar que minha bicicleta e meu celular são meus. De tantos ciclistas brancos que passavam, eu fui o único abordado. Depois, chegaram mais 3 PMs”, relatou no Twitter.
No vídeo compartilhado pelo jornalista, ele aparece questionando a motivação da abordagem e recebe como resposta um comentário sobre a boa condição de sua bicicleta e sua roupa. Outros ciclistas aparecem no vídeo sem serem abordados.
Em entrevista à Revista Fórum, Santos deu mais detalhes do ocorrido. Segundo ele, o que mais incomodou foi justamente o fato de ter sido o único abordado na situação. “Havia vários ciclistas na mesma condições que eu. Eu não tenho problema nenhum em ser abordado pela polícia, seja Militar, seja Civil, seja lá qual for, porque eu não devo nada para ninguém. Mas eu quis questionar porque eu fui o suspeito”, disse.
“Ele veio com um argumento pífio, de que pessoas com bicicletas boas e bem vestidas costumavam furtar na Paulista. Isso me deixou um pouco revoltado e fiquei um pouco constrangido também porque outras pessoas que estavam lá perto estavam acompanhando a situação toda e eu ficava me perguntando ‘estão achando que eu sou um bandido?’”.
Fui abordado por dois PMs. Segundo eles, pessoas com “bikes boas e bem vestidas” costumam assaltar na Paulista. Resultado: tive que provar que minha bicicleta e meu celular são meus.
De tantos ciclistas brancos que passavam, eu fui o único abordado. Depois, chegaram mais 3 PMs. pic.twitter.com/YowiqPidBq
— Édrian Santos (@edriansantos_) July 19, 2021
Nota fiscal
Segundo ele, outros três policiais chegaram no local mesmo depois de já ter mostrado o que tinha de documento, as notas fiscais do celular e da bicicleta, além do código IMEI do celular. “Disse que tava tudo bem e logo vieram mais três policiais e eu não entendi essa ação. Achei meio intimidador, inclusive”, declarou. “Não entendi porque chegaram mais três”, completou.
O jornalista contou que um dos policiais alegou que ele havia “se exaltado” e outro garantiu que a abordagem foi “normal”. “O vídeo mostra que eu não me exaltei, eu só questionei porque era um direito meu. Já fui abordado várias vezes na minha cidade, em São Luís, mas na ocasião todo mundo que estava no mesmo ambiente foi revistado”, afirmou.
Racismo estrutural
Questionado se pretende formalizar uma denúncia sobre o ocorrido, Santos disse que não está disposto a passar por um desgaste ainda maior.
“O que eu senti naquele momento do ponto de vista de um racismo estrutural – não dos policiais terem consciência de que estavam sendo racista, mas o próprio sistema ser racista esse ponto de vista estrutural – é muito subjetivo. Acionar as forças de segurança seria um desgaste, apesar de ser super justo… Eu sou sozinho aqui em São Paulo… Seria um desgaste que talvez eu nem ganhasse. Eu quis alertar por meio daquela publicação algo que milhares de brasileiros passam”, afirmou.
“A gente não pode andar mal vestido, não pode ter uma bicicleta ruim, que é abordado por isso. Mas, ao mesmo tempo, a gente não pode ter uma bicicleta boa, não pode andar bem vestido, que a gente logo vira suspeito de ter furtado aqueles itens. A postagem foi mais pra chamar atenção para o papel das forças de segurança em relação a esses casos. Infelizmente, eu não fui o primeiro, não vou ser o último e vai demorar anos, décadas, séculos para a gente chegar a um nível de equidade, com pessoas negras e não-negras recebendo o mesmo tratamento pelas forças de segurança e demais instituições”, finalizou.
A Fórum entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo pedindo um posicionamento sobre o ocorrido, mas ainda não recebeu retorno. A redação é do site da Revista Fórum.