O pastor evangélico Milton Ribeiro, que ocupa o Ministério da Educação desde julho de 2020, praticamente não dá entrevistas e nem faz aparições públicas. Nesta terça-feira (21), no entanto, ele decidiu convocar cadeia nacional de rádio e televisão e fez um pronunciamento à nação para pregar a reabertura imediata das escolas – mesmo diante do fato de que o país ainda registra números elevados de contágios e mortes por covid-19 e de que boa parte da comunidade escolar ainda não foi vacinada.
“Quero neste momento conclamá-los ao retorno às aulas presenciais. O Brasil não pode continuar com as escolas fechadas gerando impacto negativo nestas e nas futuras gerações. A volta é uma necessidade urgente”, disse o ministro, em uma tentativa de pressionar prefeitos e governadores a reabrirem as escolas, uma vez que é prerrogativa de governadores e prefeitos fazê-lo.
À Fórum, o professor Daniel Cara, dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, afirmou que Milton Ribeiro “foi completamente irresponsável na pandemia” e ainda emendou: “Se Bolsonaro é o promotor do vírus, ele é, no mínimo, o assessor do vírus”.
Segundo Cara, ao longo da pandemia, estados e municípios não tiveram nenhum tipo de coordenação ou apoio do governo federal. Ele avalia que o pronunciamento de Ribeiro “não vale nada porque a decisão está em estados e municípios e dependem dos indicadores epidemiológicos e da razão científica versus oportunismo eleitoral de alguns gestores públicos, prefeitos e governadores”.
“E assim que vai se dar o processo de volta às aulas, pra ver qual a variável que predomina. Se é a questão epidemiológica ou o oportunismo eleitoral”, analisa. O professor classifica o pronunciamento do ministro como “vazio” e que serviu “para aparecer e fazer gesto para a base bolsonarista”.
“Em termos concretos não tem nenhum ator público que dá credibilidade ao Milton Ribeiro. Nem na área da educação e nem em qualquer outra área”, atesta Daniel Cara.
“Não nos trate como idiotas”
Em nota divulgada nesta quarta-feira (21), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) subiu o tom contra Milton Ribeiro e seu pronunciamento pregando volta às aulas.
Segundo a entidade, “tratou-se de um discurso vazio, quase sem propósito, a não ser pela intenção explícita de pressionar os governadores e prefeitos a retomarem as atividades presenciais nas escolas das redes de ensino do país”.
A CNTE aponta, ainda, que Ribeiro mentiu ao afirmar que enviou às escolas recursos orçamentários extras que por meio do Programa Dinheiro Direto nas Escolas”, gerido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
“Mais uma notícia falsa! Estudo do INESC que produziu um balanço semestral do orçamento da União, além de explicitar que os ‘gastos do governo com pandemia caem de R$ 218 bi para R$ 49 bi no primeiro semestre’, provou que, no referido programa do FNDE, ‘apesar da grande pressão para o retorno às aulas, o recurso empenhado caiu consideravelmente quando comparamos os primeiros seis meses de 2020, com os de 2021’. Mais um achaque contra o povo brasileiro!”, expõe a entidade.
“Os/as educadores brasileiros/as repudiam mais essa tentativa de iludir a população! Não nos trate como idiotas, Ministro! Fica cada vez mais evidente que, se não cumpres com seu dever constitucional, melhor mesmo que se retire de cena junto com todo o seu governo e presidente”, completam os trabalhadores em educação.
Só depois da vacinação
Em conversa com a Fórum, a deputada estadual Professora Bebel (PT-SP), presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), foi na linha de Daniel Cara e classificou Milton Ribeiro como “omisso”.
“No entanto, para corroborar interesses privados e a política negacionista e genocida do presidente Jair Bolsonaro, aciona os meios de comunicação para forçar a volta às aulas presenciais. Esse ministro desdenha da vida e do direito de todos à vacinação”, declara a parlamentar. Bebel defende que o retorno às aulas só se dê depois que todos os profissionais de educação tenham tomado a segunda dose da vacina contra a Covid-19.
Isso porque os casos e mortes por Covid-19 nas escolas, mesmo diante do fato de que elas não estão recebendo 100% dos alunos, seguem altos. Para se ter uma ideia, somente na rede estadual de ensino em São Paulo, foram registrados, desde fevereiro deste ano, 2.726 casos de Covid e 105 óbitos em decorrência da doença – a maior parte de professores – de acordo com levantamento da Apeoesp. A redação é do site da Revista Fórum.