As baianas de acarajé de todo o estado ganharam mais uma forma de homenagem na capital da resistência. A instalação da Super Baiana de Acarajé, monumento do artesão Zaca Oliveira, em frente à Praça da Cruz Caída, no Pelourinho, foi feita durante o lançamento do primeiro Museu Digital das Baianas, em um evento descrito pelos presentes como “amparador” para os profissionais.
“Para as baianas, isso é uma maneira de salvaguardar o ofício. Somos patrimônio cultural imaterial reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e símbolos de uma tradição culinária que se iniciou no período colonial brasileiro, então isso é de uma importância para a disseminação do nosso legado histórico”, diz Rita Santos, Presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM).
Com dois metros de altura, a estátua de fibra de vidro, tecido resinado e plástico será uma substituição ao monumento que ficava em frente à associação, destruído em um incêndio em 2017. O caso foi registrado na Delegacia de Proteção ao Turista (Deltur), onde foi investigado, mas ninguém chegou a ser punido. Rita, entretanto, acredita que o caso foi de natureza intolerante.
A instalação da estátua foi só uma das ações do projeto Histórias, Memórias e Acervos do Memorial das Baianas de Acarajé, que também incluiu a produção de um documentário, curso de especialização e o museu.
Acervo on-line
Criada em abril deste ano, a iniciativa já disponibilizou o acervo on-line do Museu Digital das Baianas. Nele, você pode conferir registros documentais e iconográficos sobre o ofício da profissão, seu legado ancestral e histórico e a catalogação dos arquivos pertencentes à ABAM. Além, é claro, de fotos de todos os produtos do projeto.
Já o Curso Reprodução dos Saberes, Fazeres e Identidade, exclusivo para baianas de acarajé cadastradas na ABAM, foi disponibilizado a todas as profissionais do estado. As baianas que completaram 90% da carga horária do curso receberam certificado e um tabuleiro em madeira exclusivo para exercer o seu oficio. Com isso, profissionais de nove cidades da Bahia já ganharam seus tabuleiros, e as de 12 municípios ainda aguardam o recebimento.
Para Rubens Pereira, ou Ray do Acarajé, como é mais conhecido, essa foi a melhor parte da iniciativa. “Os direitos devem ser iguais. Se uma baiana pode ter um tabuleiro bonito, elegante e arrumado, as outras também podem ter. O tabuleiro que elas ganharam no curso é profissional. Eu já tenho o meu, mas até queria o que elas ganharam”, brinca.
Paulista, Ray chegou em Salvador há 11 anos. Aterrissou na capital de paraquedas, seguindo um amor. O amor não deu certo, mas o negócio deu. Baiano de acarajé há oito anos, ele estava no evento à trabalho, mas, numa surpresa, foi homenageado pela presidente durante o discurso. “Rita me apresentou para todos que estavam no evento. No acarajé, não existe esse negócio de preconceito e o reconhecimento foi gratificante”, relata.
O projeto cultural também proporcionou encontros online com mulheres de diversas atividades profissionais para capacitação e conhecimento dos direitos e deveres das baianas de acarajé. Delegadas, professoras e empreendedoras fizeram parte. No evento, também foi lançado o documentário historiográfico intitulado Do Dendê ao Acarajé. O curta-metragem se debruçou sobre a cadeia produtiva do azeite de dendê e sua relação direta com a produção de acarajé.
O Histórias, Memórias e Acervos do Memorial das Baianas de Acarajé teve apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) – (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, tendo o Grupo Cultural Ska Reggae como realizador.
A Lei federal 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc, tem como objetivo central estabelecer ajuda emergencial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural e atravessam dificuldades financeiras durante a pandemia. A redação é do Correio 24h.
Confira a produção da estátua abaixo: