Sem nunca ter pensado em ser dona de boteco, Giovanna Lima, 33 anos, aderiu a essa condição no ano passado, após o seu pai, Jefferson, morrer e deixar o estabelecimento de Curitiba, ‘Bek’s Bar’. Contudo, aliado a falta de prática, ela passou também a lidar com a incompatibilidade ideológica, por ser simpatizante da esquerda e começar a ter contato com muitos clientes bolsonaristas.
Por muito tempo ela aturou piadas racistas e homofóbicas dos frequentadores do bar. Contudo, recentemente ela começou a se posicionar e responder as pessoas que estavam questionando a sua administração e posicionamento. Assim, começou a deixar explícita a reprovação ao governo Bolsonaro tanto em seu atendimento presencial, como nas redes sociais.
No Twitter, ela publica frases como “combater o fascismo é nosso dever moral” e “Bolsonaro precisa pagar pelas vidas que ele arruinou e pelo luto causado às famílias”. Já no atendimento delivery, o cliente recebe o pedido em sacos de papel com a frase “Fora Bolsonaro”.
Ela conta que com o desafio tenta ficar à altura do amor do pai pelo boteco. “Algo em mim me dizia que ele ficaria orgulho se eu tentasse. Aceitei, com muito medo e com muita coragem também”, pontua.
Em 25 de julho ela publicou nas redes o seguinte texto: “Tem bastante gente que tem se incomodado com o nosso posicionamento, especialmente o político. Isso tem reverberado em comentários do tipo ‘perdeu um cliente’. Deixo aqui avisado que cliente que apoia o genocídio de 500 mil brasileiros e outros milhares de atrocidades DEFINITIVAMENTE não fará falta”.
“Eu prefiro falir com dignidade que ir contra meus princípios. Se você apoia tanto seu presidente, posicione-se também em suas atitudes e não venha mais aqui. Cliente fascista é livramento”, completou. Esta iniciativa fez com que de 600 seguidores no Twitter, ela alcançasse sete mil em menos de um mês.
“Perdi a conta de quantas piadas homofóbicas e racistas eu ouvi lá”, desabafa Giovanna. “Nunca fiz questão de esconder nada. Tenho algumas camisetas com foice e martelo, tenho um boné do MST, tenho uma namorada e faço intervenções urbanas com poesia em Curitiba”, explica.
Além disso, a dona do estabelecimento não descarta o risco de reações mais agressivas, por conta do clima de polarização política e pela cidade ter um perfil conhecido por ser de direita. Contudo, ela ressalta que embora tema a isso, teme ainda mais a viver em uma sociedade fascista. “Prefiro falir com dignidade do que trabalhar num espaço hostil”, crava. Jornal da Chapada com informações de UOL.