Em conversa com jornalistas no início da tarde desta terça-feira (24), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que não acredita que as Polícias Militares embarcarão em uma “aventura” para apoiar manifestações de cunho golpista que estão sendo marcadas por bolsonaristas.
O próprio Jair Bolsonaro já confirmou presença nesses atos, marcados para o dia 7 de setembro, que carregam como pautas, por exemplo, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o que é antidemocrático.
Nos últimos dias, têm surgido notícias de policiais militares, da ativa e da reserva, convocando seus pares para essas manifestações. O temor é que a movimentação se dê no âmbito de um golpe em apoio a Bolsonaro e contra instituições como o STF, visto que essa participação nos atos configuraria, na prática, a presença de grupos armados nos protestos.
“Eu não acredito em nenhuma hipótese que ninguém vai se meter numa aventura dessa. Não acredito nas forças armadas e muito menos nas polícias militares de se meterem numa aventura desastrosa dessa que basta o caos que o Brasil tá vivendo com mais de quatorze milhões de desempregados, que a inflação já batendo a nove por cento com a pobreza e a extrema pobreza aumentando. Qualquer aventura dessa seria um caos completo”, disse Rui Costa durante participação em evento de colégio militar em Salvador.
Se referindo à tentativa de Jair Bolsonaro de promover o “caos” no país, o governador da Bahia afirmou ainda que “o Brasil não é o Afeganistão, não vai virar um Afeganistão e não vai virar um país de décima categoria que qualquer pessoa incompetente, aventureiro vai promover a desordem”.
“Se lá atrás ele [Bolsonaro] tentou explodir um quartel do exército e por isso afastado do exército, hoje ele não vai explodir o Brasil que o povo brasileiro não vai permitir que ele destrua o Brasil, basta esse sofrimento em quatro anos”, completou.
Segundo Rui Costa, casos de policiais que eventualmente desrespeitarem as regras da PM, que impedem manifestação política de militares da ativa “serão tratados dentro da Constituição e da lei”.
Governadores debatem risco de golpe e infiltração nas polícias
Em reunião nesta segunda-feira (23) entre os 24 governadores da federação, os mandatários estaduais se mostraram preocupados com a movimentação de policiais em prol dos atos de apoio a Jair Bolsonaro
“Creiam, isso pode acontecer no seu estado. Aqui nós temos a inteligência da Polícia Civil, que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações e restrições, com empareda mento de governadores e prefeitos”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no encontro.
“Estamos diante de um momento gravíssimo, com constantes ataques à liberdade e à Constituição. Não vamos nos silenciar diante das ameaças aos princípios constitucionais do país”, avaliou o tucano ao término da reunião.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), por sua vez, também tratou da possibilidade de policiais se envolverem em uma intentona golpista.
“Preocupação geral com agressões e conflitos em série, que prejudicam a economia e afastam o país da agenda real: investimentos, empregos, vacinas etc. A democracia deve prevalecer e as polícias não serão usadas em golpes”, declarou o mandatário maranhense.
O assunto ganhou espaço entre os governadores após a notícia de que dois coronéis da PM de São Paulo estavam utilizando as redes sociais para convocar para os atos antidemocráticos.
Um deles, que ainda pregou a presença de “tanques nas ruas” no dia dos protestos, foi afastado pelo governador João Doria (PSDB).
“Bolsonaro estimula motins para criar o caos”
As notícias que dão conta de policiais e militares envolvidos com as manifestações de cunho golpista convocadas por bolsonaristas para o feriado de 7 de setembro sinalizam que Jair Bolsonaro está estimulando motins nas polícias militares. A opinião é do advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais.
“As atitudes dos 2 coronéis não representam o comando geral da PM, nomeado pelo governador João Doria, mas representam alguns oficiais e muitos praças da corporação, que são suscetíveis às influências bolsonaristas, que defende um país governado por militares e com liberdade para policiais cometerem abusos, corrupção, flagrantes forjados e assassinatos”, disse à Fórum Ariel de Castro Alves.
Na última semana, Castro Alves e o padre Júlio Lancellotti tiveram uma reunião com os comandantes da PM de SP, em que foi discutido “o papel dos policiais em defender o Estado Democrático de Direito e respeitar os Direitos Humanos”.
Segundo Ariel de Castro Alves, esses gestos de policiais convocando para manifestações demonstram que Bolsonaro estimula motins nos quartéis com o objetivo de justificar uma intervenção militar.
“Bolsonaro está estimulando motins e rebeliões nas PMs estaduais e nos quartéis. E que também seus seguidores, membros de clubes de tiro e de colecionadores de armas saiam para as ruas, visando um cenário de confronto e guerra civil com a maioria da população, atualmente contrária ao governo genocida, excludente e incompetente dele”, diz o advogado.
“Para depois justificar a intervenção das Forças Armadas, objetivando detonar a democracia brasileira”, completa Castro Alves. A redação é do site da Revista Fórum.