Apesar da Bahia ter uma pronúncia feminina, entre os seus 417 municípios, o Estado tem apenas uma cidade que homenageia uma mulher com nome e sobrenome, em meio à tantos municípios que carregam citações compostas ao enaltecerem heróis ou figuras políticas.
Dentre os nomes de cidades femininos, apenas ícones religiosos do gênero conseguem ser aprovadas, com livre trânsito, nas Casas Legislativas, como Santa Bárbara, Santa Teresinha, Conceição de Feira, Livramento de Nossa Senhora, Campo Alegre de Lourdes (uma menção à Nossa Senhora de Lourdes) e outras.
Conforme pesquisa do colunista André Uzêda, publicada no Correio 24 horas, a cidade de Amélia Rodrigues é a única, sem referência religiosa, que homenageia uma mulher – uma notável professora, escritora, teatróloga e poetisa brasileira. Ela defendeu a educação, as artes e ideais abolicionistas e a cidade com o seu nome foi desmembrada da costela de Santo Amaro em 1961.
De acordo com o professor de história, Rafael Dantas, no começo da colonização, muitas cidades foram fundadas com nomes católicos ou geográficos. Apenas nos séculos 18 e 19, os nomes de figuras políticas e pessoas da elite começaram a ser valorizadas.
“A ausência de mulheres é porque a política e a história seguiam viés machista, de quem estava no poder. A exceção de Amélia Rodrigues é porque ela era uma figura de destaque, e isso teve um peso na sua escolha”, explica.
Doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, Sônia Brito destaca o machismo em relação à essa falta de representatividade. “Fora do ambiente religioso, mulheres que se destacaram nas ciências, nas artes ou na política são solenemente ignoradas e não recebem o mesmo tratamento [dos homens]”, comenta.
A falta de representatividade não significa ausência de mulheres com uma biografia destacada, segundo a professora de história, Carolina Ledoux. “No Brasil Colonial, no Império e até na Primeira República as mulheres brasileiras estiveram à margem das grandes decisões e, ainda assim, muitas delas tiveram posições fundamentais no processo histórico. É o caso de Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro, que assinou o documento da Independência do Brasil, mas não tem seu nome destacado, pela opção da invisibilidade”, frisa.
‘Cidade Trans’
A cidade de Glória, no nordeste da Bahia, é um curioso caso de uma ‘cidade trans’. O município, que nasceu Santo Antônio de Glória, em 1886, e passou a se chamar apenas Glória em 1931, fica localizado na divisa entre Pernambuco e Alagoas. Jornal da Chapada com informações de texto base do colunista André Uzêda e Correio 24 horas.