Ao ser questionado por um apoiador sobre a possibilidade de implantação de um modelo educacional nos moldes do adotado por Adolf Hitler na Alemanha nazista, o presidente Jair Bolsonaro deu a entender que tenta ir por esse caminho, mas que os servidores do Ministério da Educação resistem às suas investidas. Não é de hoje que o presidente Bolsonaro flerta com o neonazismo, mas o comentário chocou as redes sociais.
“Presidente, quando a história, né, de Hitler, a gente via muito a questão que ele começou com as crianças. No caso, o senhor acha que o nosso Ministério da Educação já poderia estar também fazendo um trabalho com as crianças para gente voltar, retomar, né, a consciência, a conscientização?”, perguntou um apoiador de Bolsonaro presente no “cercadinho” do Palácio do Alvorada. Apesar da pergunta chocante, o presidente tratou a sugestão de adoção do modelo nazista de Hitler como natural.
“Você não consegue, tem ministério que é um transatlântico. Não dá pra dar um cavalo de pau. Eu gostaria de botar também educação moral e dívida, um montão de coisa, coisas boas”, afirmou Bolsonaro, sem repreender o apoiador pela exaltação a Hitler.
“Governo Bolsonaro tem fortes inclinações nazistas e fascistas”, diz manifesto de judeus
Um manifesto assinado por 260 judeus em maio associa o governo de Bolsonaro com o nazismo alemão e o fascismo italiano e afirma que “é preciso chamar as coisas pelo nome”. “É perceptível que o governo encabeçado por Jair Bolsonaro tem fortes inclinações nazistas e fascistas”, apontam.
Desde a campanha eleitoral, o Jair Bolsonaro já demonstrava traços de inspiração no nazifascismo. Em seu governo, alguns ministros e secretários expuseram claramente uma aproximação com o ideário neonazista e alguns episódios reforçaram isso.
Apoiador de Bolsonaro cita exemplo de Hitler para abordagem educacional de crianças.
“A gente via que Hitler trabalhava muito com as crianças. Nosso Ministério da Educação já poderia estar fazendo também um trabalho de conscientização?”, questionou.
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— Metrópoles (@Metropoles) November 22, 2021
Em julho, Bolsonaro recebeu, no Palácio do Planalto, a neonazista alemã Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler (Johann Ludwig Schwerin von Krosigk) e filiada ao partido ultradireitista AfD (Alternativa para a Alemanha).
Carta aos neonazistas
A antropóloga e pesquisadora da PUC de Campinas Adriana Dias, que há anos rastreia pela internet grupos extremistas de ultradireita que atuam no Brasil, encontrou uma carta do então deputado federal Jair Bolsonaro, datada de 2004, dirigida a neonazistas de um site que propagavam tal ideologia, retirado do ar em 2006: o Econac.
Dias entende que a forma como Bolsonaro se dirige aos neonazistas é reveladora, mas o ponto principal é o engajamento do grupo com o deputado. “Na verdade, o teor do documento (carta) não é o mais importante. O mais importante nessa carta é que ele diz que essas pessoas são a razão do mandato dele e essa carta só foi publicada em sites neonazistas e em nenhum outro canto”, disse à Fórum.
Servidores da educação frustram Bolsonaro
Um exemplo da resiliência do MEC a Bolsonaro foi a prova do Enem aplicada no domingo (22). Apesar das pressões do mandatário, o Inep produziu uma exame muito próximo do que costuma fazer e ainda pareceu incluir uma provação ao presidente, com a canção Admirável Gado Novo em uma questão. Durante viagem internacional, o presidente Jair Bolsonaro sinalizou que teria interferido no Enem para que a prova tivesse “a cara do governo”. Com informações da Revista Fórum.