Em busca de uma nova forma de vincular Adélio Bispo à esquerda, e culpar os “comunistas” pela facada que recebeu em Juiz de Fora (MG), o presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com investigadores do caso no Palácio do Planalto no início de dezembro do ano passado.
Segundo reportagem de Laryssa Borges na “Veja”, o objetivo do encontro, nunca revelado na agenda presidencial, era pedir que policiais considerassem novas hipóteses de apuração envolvendo Adélio, que esfaqueou Bolsonaro às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018.
De acordo com a reportagem, no mundo das conspirações bolsonaristas, uma das novas “linhas de investigação” discutidas na reunião de dezembro foi a hipótese de Adélio Bispo ter utilizado um jatinho com um prefixo frio para se deslocar até a cidade mineira e desferir o golpe de faca contra o presidente.
Outra conjectura aventada no passado mas agora revisitada por apoiadores presidenciais é a de que o crime teria tido participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) – desta vez o braço paraguaio da facção.
Desesperado, Bolsonaro tenta ressuscitar a facada
Desesperado com os resultados das pesquisas de intenções de voto, que mostram sua desidratação e a vitória de Lula (PT), Bolsonaro tenta ressuscitar o episódio da facada e atribuir o atentado à esquerda. Recentemente, quando foi internado mais uma vez por obstrução intestinal, ele resgatou sua posição como vítima do “comunista Adélio Bispo”.
Esta estratégia já vinha sendo preparada desde antes do Natal. No fim de novembro, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região autorizou a investida contra Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos advogados de Adélio Bispo, e o delegado Rodrigo Morais Fernandes reabriu o caso.
No entanto, pouco depois, ele foi transferido pelo diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, para um cargo nos EUA. Fernandes fará parte da força-tarefa El Dorado, que é coordenada pela Homeland Security Investigations (HSI), com sede em Nova York.
O delegado, que chegou a ser atacado por Bolsonaro por conta da condução dada por ele às investigações sobre o episódio, concluiu no inquérito policial que Adélio Bispo teria agido sozinho. Tempos depois, o caso foi reaberto e mais uma vez foi definido que o autor da facada não recebeu ajuda de ninguém para cometer o atentado. O caso, ocorrido em Juiz de Fora na tarde de 6 de setembro de 2018, é cercado de mistério e pontos confusos que nunca foram devidamente esclarecidos.
O próprio presidente, já depois de eleito, e que tem predileção por atribuir tudo que ocorre à esquerda, nunca questionou os resultados das investigações e até abriu mão de recorrer do arquivamento do caso, uma atitude absolutamente contraditória em relação à sua personalidade punitivista e que a todo custo tenta jogar culpa nos adversários políticos. Redação da Revista Fórum.