No último sábado (22), os termômetros atingiram 45,2ºC na Cidade do Cabo, na África do Sul, recorde absoluto de temperatura máxima em toda a história. O recorde anterior, marcado em 3 de março de 2015, era de 42,4ºC. Trata-se de um nível extraordinário de temperatura máxima para uma cidade que não costuma chegar a um patamar tão extremo, devido à sua posição geográfica mais ao Sul, além de costeira.
De acordo com o MetSul, esse registro colocou a cidade na posição de uma das mais quentes do planeta e no topo na lista das mais quentes do continente africano naquele dia.
Segundo Max Herrera, que apura recordes meteorológicos no mundo inteiro, o calor continuou extremamente forte no Sul da África no domingo. Em Luderitz, na costa do Sul da Namíbia, um local geralmente agradável pela brisa do mar, a mínima foi de 30,5ºC e a máxima de 42,7ºC, apenas 0,2ºC abaixo do recorde absoluto.
Um recorde absoluto de máxima foi registrado na cidade litorânea de Tulear, em Madagascar, com 43,2ºC. Até então, o recorde era de 40,4ºC, marcado em fevereiro de 1962. É a maior temperatura em janeiro em Madagascar desde 1936, quando fez 42,4ºC em Ampanihy.
Ainda segundo o MetSul, o calor na Cidade do Cabo foi intensificado por uma área de alta pressão em altitude e o vento Berg que aumentou ainda mais a temperatura. O vento Berg ocorre quando o ar que é aquecido no extenso planalto central da África do Sul desce as encostas e flui até a costa. Nesse processo, ele sofre um aquecimento adicional por processos chamados de adiabáticos.
Por esse fator, é um vento muito seco e quente que sopra ao longo da costa da África do Sul em um processo semelhante ao vento Norte muito quente e seco que sopra na região de Santa Maria e nos vales com temperatura noturna muitas vezes próximas de 30ºC em pleno inverno, em condição pré-frontal, com ciclone extratropical.
Embora os ventos Berg sejam por vezes chamados de ventos de Föhn, que sopra nos Alpes europeus, os processos de origem são distintos. O vento seco e quente Föhn, assim como o Zonda na Argentina, ocorre por chuva no lado oposto ao do vento na cadeia montanhosa, o que libera calor latente na atmosfera. Esse calor é então aquecido ainda mais à medida que o ar desce no lado de sotavento.
Por outro lado, os ventos de Berg não se originam na precipitação e sim no planalto central, via de regra seco e muitas vezes árido, da parte sul da África.
Ondas de calor estão mais frequentes e severas na África do Sul
Cabo e outras grandes cidades da África do Sul não estão preparadas para o calor que fez no sábado. À medida que o clima muda, o número, a intensidade e a duração das ondas de calor – definidas como temperaturas excepcionalmente altas que duram três ou mais dias consecutivos – na África do Sul aumentarão acentuadamente no futuro, de acordo com François Engelbrecht, climatologista do Instituto de Mudanças Globais de Witwatersrand e autor do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
No século passado, a temperatura média global aumentou 1,2°C, no entanto, no interior da África do Sul, de onde parte o vento Berg que atingiu a Cidade do Cabo, a temperatura está subindo cerca de duas vezes a taxa global. Já está 2°C mais quente do que há um século.
De acordo com Engelbrecht, os aumentos de temperatura devem variar entre 4°C e 7°C no interior da África Subsaariana até o final do século, se os esforços para reduzir ou impedir a emissão de gases de efeito estufa continuarem tão lentos. “Em um clima em mudança, nas partes subtropicais do mundo, como o Sul do Brasil e a África do Sul, esses grandes sistemas de alta pressão se formam com mais frequência e também estão se tornando mais fortes”, disse Engelbrecht.
“Portanto, as ondas de calor estão começando a ocorrer com mais frequência. É uma tendência que pode ser claramente detectada, assim como podemos detectar o aumento das temperaturas médias”, afirma. “E os próximos 20 anos estão projetados para trazer ondas de calor de magnitude e duração sem precedentes para a África. Isso significa que eles durarão mais do que nunca”, alertou, “e então também serão mais intensos. Assim, os próprios sistemas de alta pressão se tornarão mais fortes, mas também podem trazer temperaturas de superfície mais altas do que no passado”, conclui. Redação do Olhar Digital.