Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, se encontraram na manhã desta sexta-feira (4) e, após o encontro, divulgaram um documento onde anunciam uma parceria “sem limites” entre as duas nações e propõem uma nova forma de fazer política internacional.
Essa é a primeira reunião presencial que o presidente da China, Xi Jinping, participa desde o início da pandemia. O encontro entre os dois líderes se dá no momento em que a Rússia e os Estados Unidos vivem sob tensão por causa da adesão da Ucrânia à OTAN.
Na declaração assinada por Putin e Jinping, os líderes afirmam “certos Estado e certas alianças e coalizões políticas e militares se comportam como se estivessem em uma Guerra Fria e tentam impor seus próprios padrões democráticos a outros países”.
Apesar da carta está genérica, é fato que se trata de um recado direto aos Estados Unidos, à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e ao pacto militar firmado no ano passado entre Austrália, EUA e Reino Unido (Aukus).
“As partes opõem-se a uma maior expansão da Otan e apelam à Aliança do Atlântico Norte para que abandone as suas políticas com uma ideologia de Guerra Fria e respeite a soberania, a segurança e os interesses de outros países, a diversidade de seus padrões civilizacionais e histórico-culturais, e trate o desenvolvimento pacífico de outros Estados de forma objetiva e justa”, diz o documento.
Além disso, no texto os presidentes da Rússia e da China “pedem um novo tipo de relacionamento entre as potências mundiais com base no respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação mutuamente benéfica”.
Propondo uma nova etapa nas relações entre os países, China e Rússia afirmam que a parceria entre os dois países “não visa alvos estrangeiros”.
“As novas relações interestatais entre Rússia e China são superiores às alianças políticas e militares da época da Guerra Fria. A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação, o reforço da cooperação estratégica bilateral não visa países terceiros nem é afetado pela mudança do ambiente internacional e pelas mudanças circunstanciais em países terceiros”, diz o texto.
O documento também critica “coalizões militares” que “buscam obter vantagens militares unilaterais em detrimento da segurança de outros”.
“As partes acreditam que determinados Estados, alianças e coalizões militares e políticas buscam obter, direta ou indiretamente, vantagens militares unilaterais em detrimento da segurança de outros, inclusive empregando práticas de concorrência desleal, intensificando a rivalidade geopolítica, alimentando o antagonismo e o confronto, e comprometer seriamente a ordem de segurança internacional e a estabilidade estratégica global”. Por fim, os líderes defendem os protocolos estabelecidos nos pós-Segunda Guerra Mundial.
“As partes pretendem defender fortemente os resultados da Segunda Guerra Mundial e a ordem mundial existente no pós-guerra, defender a autoridade das Nações Unidas e a justiça nas relações internacionais, resistir às tentativas de negar, distorcer e falsificar a história da Segunda Guerra Mundial. Guerra. Para evitar a repetição da tragédia da guerra mundial, os lados condenarão veementemente as ações destinadas a negar a responsabilidade pelas atrocidades dos agressores nazistas, invasores militaristas e seus cúmplices, macular e macular a honra dos países vitoriosos”.
Mais que críticas ao modo de fazer política internacional dos Estados Unidos, o documento também anuncia um contrato de 30 anos de fornecimento de gás da Rússia para a China por meio de um novo gasoduto, que conectará a região do Extremo Oriente da Rússia ao Nordeste da China.
Bolsonaro em Moscou
O encontro entre Putin e Xi Jinping e a divulgação do documento antecedem a visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) a Rússia, que deve desembarcar no dia 13 de fevereiro em Moscou.
Durante coletiva, Bolsonaro falou sobre a sua viagem à Rússia e o encontro com Vladimir Putin. “Ele [Putin] é conservador sim. Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente”, disse Bolsonaro. Bolsonaro afirmou que a crise entre EUA, Ucrânia e Rússia não será abordada.
A crise entre os EUA, a Rússia e os negócios do filho de Biden na Ucrânia
Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, o professor de Relações Internacionais, Reginaldo Nasser, definiu como complexos os conflitos atuais na geopolítica mundial, envolvendo, principalmente, Ucrânia, Rússia e Estados Unidos. Apesar disso, há questões claras que precisam ser debatidas.
“Os Estados Unidos querem expandir sua influência na Ucrânia por várias razões”. O professor mencionou um exemplo do interesse estadunidense no país do Leste Europeu. “O filho do Biden ganhou bilhões de dólares em negócios na Ucrânia”.
Hunter Biden, filho do atual presidente Joe Biden, do Partido Democrata, é advogado e, em 2014, passou a fazer parte da diretoria da Burisma Holdings, a maior empresa privada de gás da Ucrânia. Ele fez esse movimento depois de buscar oportunidades de negócios fora dos Estados Unidos, contando com a influência do pai.
Em relação ao fato de o governo de Biden estudar a possibilidade de mandar US 500 bilhões para a Ucrânia, Nasser disse que essa iniciativa faz parte de uma tradição do país.
“Há uma ambiguidade forte entre os democratas. Esse pessoal que está no governo é a turma do Bill Clinton. Eles sempre pensaram em expandir a influência americana na região, principalmente mandando dinheiro. A Rússia e a China, por sua vez, não têm motivação de ampliar hegemonia usando esse modelo”, explicou.
O professor avaliou que o envolvimento do governo estadunidense no conflito também é uma tentativa de mudar o atual cenário de popularidade baixíssima do seu presidente. “O Biden quer mostrar os músculos americanos”. Redação da Revista Fórum com informações d’O Globo e Brasil 247.