A entrevista do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, à Band, ontem à noite, afirmando que a ideia de lançar a candidatura de Otto Alencar (PSD) ao governo poderia ser encarada como uma “punição” ao senador e a seu partido, explicitou o caráter individual do projeto de Rui Costa (PT) de concorrer ao Senado e o grau de isolamento do governador no próprio partido, absolutamente fechado com o nome do senador Jaques Wagner para a sucessão estadual.
“Rui Costa quer ser senador e Otto também quer. Isso (o oferecimento da cabeça de chapa a Otto) poderia ser um gesto negativo. Muito ruim. Otto é um tradicional parceiro do PT”, disse Kassab, demonstrando contrariedade com a possibilidade de o senador não disputar a reeleição. Até então, apesar das especulações de que Rui estaria por trás da proposta de o PT abrir mão da candidatura de Wagner em favor da de Otto a fim de viabilizar seu nome ao Senado, não havia ainda confirmação de sua participação na articulação.
O que se dizia, aliás, era, seguindo uma certa lógica, que o plano teria partido do ex-presidente Lula, maior interessado no apoio do PSD à sua campanha à Presidência. Mas a fala de Kassab mostra que o rumor emergira de um fato. No PT, não há mais dúvida de que, interessado em viabilizar a qualquer custo sua candidatura ao Senado, Rui foi o autor do plano, que apresentou ao ex-presidente como forma de tornar irrefutável o apoio de Lula ao desejo de concorrer pela Bahia.
A ideia é, sem o mais leve juízo de valor, reveladora do senso de oportunismo político de Rui. O PT entregaria a vaga da candidatura ao governo que controla há 16 anos ao PSD para, com o gesto, facilitar o apoio do partido ao nome de Lula nacionalmente. À luz da proposta, pouco importaria que o PT tenha um candidato competitivo ao governo, apoiado integralmente pelo partido, que é exatamente o avesso de Otto tanto política quanto eleitoralmente e estaria sendo sumariamente descartado. Nem que Otto veja o desafio com horror.
Menos ainda que o Estado, por força da renúncia de Rui para poder se candidatar ao Senado, seja entregue ao vice, João Leão (PP), o que desagrada a Wagner, que o considera imprevisível, mas principalmente a Otto, por temer que o progressista parta para cima de suas bases – como são chamados os prefeitos dos quais cuida como uma galinha choca -, com a sanha dos desesperados. Mas Lula deseja o PSD ao seu lado e não tem tempo para avaliar o quadro de cada Estado neste nível de pormenor. Assim como achou que, na Bahia, a decisão estivesse pacificada.
Por este motivo, teria avalizado a reunião em que a proposta foi apresentada por Rui a Wagner, Otto e Leão, na semana passada, em São Paulo. Como daqui registrado, Otto foi o primeiro a estrebuchar, dizendo que não a aceitava, e Wagner, mais cauteloso, embora revelando, com seus olhos azuis, sua decepção, que a acataria em nome do projeto de botar Lula na Presidência. Mas faltou Rui combinar com Kassab, que ficou contrariado com a ideia, e ontem a demoliu, jogando, aparentemente com indignação, o governador na jaula dos leões petistas.
O nível de desgaste de Rui já tinha chegado à estratosfera no ambiente interno do PT desde que se noticiou o encontro de São Paulo. Se antes era era considerado “arrogante” e “grosseiro”, agora é chamado, com reservas, porque tem a caneta na mão, de “ingrato” e “traidor” (de Wagner), além de ter se tornado alvo comum de outros insultos impublicáveis, que às vezes são dirigidos à própria mulher, Aline, vista como a dona da sua cabeça e principal responsável e fiadora do projeto ‘desagregador’ de levá-lo ao Senado.
Não é nem preciso dizer que, desde o princípio, estão na linha de frente da pesada artilharia aqueles que integram o grupo que articula o projeto de retorno de Wagner ao governo e já vinham há algum tempo se queixando do que consideram dificuldades que o governador estaria opondo a suas estratégias e iniciativas no processo de construção da campanha. Mas, sem risco de erro, porém para risco de Rui, parece que eles passaram a representar o pensamento de todo o partido. As informações são do Política Livre.