A Polícia Civil do RJ iniciou nesta segunda-feira a Operação Stop Loss, contra golpistas que manipulavam empréstimos das vítimas e sumiam com o dinheiro. Até a última atualização desta reportagem, cinco pessoas haviam sido presas. Agentes da 76ª DP (Niterói) saíram para cumprir, no total, sete mandados de prisão e cinco de busca e apreensão. Os procurados vão responder por estelionato e associação criminosa. Segundo as investigações, o bando tinha duas modalidades de golpe: “no amor” e “na dor” (entenda mais abaixo).
Em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, os policiais prenderam os chefes da quadrilha: Paulo Roberto Rodrigues Venerando e o filho, Rodrigo dos Santos Venerando. Na casa deles havia três automóveis de luxo da marca Audi. As empresas usadas no golpe eram a Destak Soluções Financeiras, a Red Cred e a Imperial Gestão de Finanças — esta foi aberta no nome de uma senhora de 80 anos e portadora da doença de Parkinson. Já a Destak foi aberta na Bahia e lesou pessoas sobretudo na capital, Salvador.
Segundo o delegado Luis Henrique Marques, essas firmas foram abertas exclusivamente para o golpe. “Os principais alvos eram funcionários públicos”, disse. “Somando todos os inquéritos, chegamos a 100 vítimas”, destacou o delegado. “Não se iluda com promessa fácil. Não existe lucro de 10% ao mês”, alertou.
O golpe “no amor”
O golpe “no amor” consistia em convencer correntistas a contrair empréstimos para um suposto investimento na empresa dos criminosos, numa espécie de “pirâmide invertida”. A quadrilha “prometia” às vítimas que todas as parcelas do empréstimo seriam quitadas pela companhia e que, no fim, 10% do valor tomado seria devolvido.
Um exemplo: o golpista instruía o correntista a pegar R$ 100 mil de empréstimo no banco e a transferir tudo para ele. O criminoso “garantia” que todas as mensalidades do crédito seriam pagas pela empresa e, quando estivessem quitadas, R$ 10 mil voltariam limpos para o tomador. A vítima acreditava que não teria gasto algum e que ainda ficaria com parte do empréstimo. A empresa chegava a pagar algumas parcelas, mas depois sumia, deixando a vítima inadimplente.
O golpe “na dor”
O golpe “na dor” contava com informações privilegiadas de correntistas, compradas pela quadrilha. Os criminosos sabiam detalhes de empréstimos já pedidos e entravam em contato com os tomadores oferecendo uma “portabilidade vantajosa”, para mover a dívida a um outro banco. Os golpistas “prometiam” reduzir as parcelas e devolver às vítimas a diferença obtida nas mensalidades.
Um exemplo: um empréstimo com 36 parcelas de R$ 1.300 viraria um de 24 vezes de R$ 800. Os R$ 500 da diferença seriam depositados na conta do tomador. Mas, para que a “portabilidade” fosse efetivada, o bando pedia à vítima — sobretudo aposentados e pensionistas — que tomasse um segundo empréstimo, justificando que o novo banco pedia uma “fidelidade”. Essas parcelas seriam “pagas” pela empresa.
Como na modalidade anterior, algum dinheiro era depositado, mas depois a empresa desaparecia. Segundo as investigações, nenhuma portabilidade foi feita de fato, e a vítima acabava com dois empréstimos para pagar. Um dos lesados acabou com 80% da renda comprometida.
Empresa na Bahia
Durante a fase próspera do negócio, os líderes do grupo decidiram expandir suas ações abrindo uma nova empresa em Salvador, na Bahia, onde iniciaram as atividades da Destak Soluções Financeiras, registrada em nome de uma pessoa ligada ao grupo. Entre 2019 e meados de 2021, a empresa lesou centenas de clientes na capital baiana.
A mesma dinâmica foi usada para a Red Cred, que entrou em processo de falência após dois anos e meio e deixou milhares de clientes do RJ com o prejuízo das parcelas vencidas dos empréstimos, contratados em até 96 meses.
A última empresa a ser criada foi a Imperial, cujas atividades duraram apenas dois meses, entre julho e setembro de 2021. O nome da operação, Stop Loss, é uma referência a um termo do mercado financeiro para interromper as perdas. Com informações do g1.