O machismo é um comportamento enfrentado cotidianamente por diversas mulheres. Essa atitude discriminatória aparece de forma enraizada e estrutural, inclusive, em profissões, no qual alguns homens ainda acreditam que há determinações para a classificação de profissões femininas ou masculinas.
E é exatamente esse machismo que mulheres guias da Chapada Diamantina costumam driblar no exercício da sua profissão. Por situações inconvenientes vivenciadas, algumas delas chegam a tomar medidas mais severas, como deixar de guiar homens que estão sozinhos ou em grupo com outros amigos do sexo masculino.
Experiências como a de enfrentar machismo durante a realização da sua função trabalhista nunca chegaram a ser imaginadas pela guia nativa da região Juliana Lopes, 30 anos, antes de começar a guiar em todo o Parque Nacional.
No entanto, um episódio machista vindo de um brasileiro, que estava em companhia com três homens holandeses, fez com que ela decidisse parar de guiar homens sozinhos ou em grupos por conta de atitudes preconceituosas, levando até a criar a agência ‘Trilha para Mulheres’, destinada apenas às mulheres, casais heterossexuais e homossexuais e pessoas LGBTQIA+.
“O homem brasileiro era muito machista, não acreditava em nada que eu dizia, ficava na ironia e só queria ir na frente da expedição. Eu precisei manter a calma e explicar para ele que quem estava mandando naquele momento era eu, que eu sabia conduzir o caminho.
Então ele se acalmou, mas a trilha ficou com uma energia estranha. Desde este dia eu decidir não guiar homens, apesar de já ter trabalhado com homens sensatos e legais”, conta ao Jornal da Chapada (JC).
Diferentemente de Juliana, a guia Joana Alvarez, 27 anos, já tinha a ciência de que enfrentaria o machismo, mas sempre lidou com a vontade e determinação de ocupar espaços “pouco prováveis” para mulheres, como ela classifica. Joana, que costuma guiar em Lençóis, Capão e Vale do Pati, algumas vezes precisa levar a sua filha pequena nas guiadas, o que aumenta, segundo ela, as críticas por parte de homens.
“Uma vez um guia me perguntou o que eu pensava que estava fazendo guiando no Pati com uma criança, de forma bem grosseira. Eu logo perguntei quem era ele, pois eu não o conhecia. Falamos nossos nomes. Em seguida, ele me respondeu: ‘coincidência, seu nome é igual ao da minha ex, cuidado comigo’. Como se não bastasse, ainda comentou na minha frente que o quarto de guias naquela noite tinha ‘carne nova’”, relata ela ao comentar que neste episódio, de 2019, ela estava amamentando a sua filha no colo.
“Outro episódio vindo de um colega de trabalho foi uma vez que estávamos conversando no Pati, de noite, e eu era a única mulher na roda e um deles comentou que os hormônios de todos estavam aflitos pois só tinha uma ‘fêmea’ no grupo”, pontua.
Apesar de vivenciar diversos episódios machistas, Joana não pensa em parar de guiar homens. “Vejo o machismo como um obstáculo a ser enfrentado. Para mim, ele incomoda psicologicamente. Eu queria que fosse diferente a forma como os homens olham para a gente, que fosse sem sexualizar. Queria que nos olhassem de igual para igual, tendo as mesmas capacidades físicas e como corpos livres que circulam onde quiserem”.
Já para a guia Izabelle Serafim, 35 anos, que realiza guiada em toda a região chapadeira, o machismo vem, inclusive, além dos homens, das próprias mulheres. “Quando comecei a guiar em 2012, fui sem esse pensamento de machismo, mas me surpreendi quando houve e mais ainda quando fui questionada por mulheres sobre ter força física para ajudar nas trilhas”.
Ao Jornal da Chapada (JC), ela conta que quando chegou na região chapadeira, foi primeiro brigadista. “Nos dois primeiros anos, ouvi e presenciei absurdos em rodas de homens. O que me incomoda, inclusive, é justamente algumas de nossas irmãs não acreditarem na capacidade física de uma mulher”.
Neste dia da mulher, comemorado nesta terça-feira (8), as três palavras-chaves, conforme as guias, para as mulheres que desejam ingressar nessa profissão são “paciência”, “resistência” e por fim, “persistência”. “Não se calem diante de machismo, não mudem seus planos e roteiros por comentários negativos vindos de homens. Nossa atuação é super necessária e cada vez mais, estamos conquistando o nosso espaço”, reforça Joana.
Jornal da Chapada