Pessoas que trabalharam para o vereador carioca Gabriel Monteiro (sem partido) relataram episódios de assédio moral e sexual e afirmaram que alguns de seus vídeos foram forjados.
O ex-PM Gabriel Monteiro tem 27 anos e foi o terceiro vereador mais votado do Rio de Janeiro em 2020. Então no PSD, recebeu 60.326 votos. As denúncias foram tema de uma reportagem do Fantástico deste domingo (27).
Nas redes sociais, Gabriel Monteiro posta vídeos com denúncias e vistorias — por conta delas, afirma sofrer ameaças de morte.Seus 23 milhões de seguidores estão assim distribuídos:
– 6,9 milhões no Facebook;
– 6,2 milhões no YouTube;
– 5 milhões no TikTok;
– 4,5 milhões no Instagram;
– 380 mil no Twitter.
Somente no YouTube, a previsão é que o influencer receba até R$230 mil por mês com a monetização de seus vídeos.
O PM
No ano da campanha para a Câmara Municipal do Rio, Gabriel sofreu um processo de deserção na PM por faltar ao trabalho. Ele conseguiu reverter a decisão na Justiça, sob a alegação de que era uma licença médica.
Ao ser eleito, deixou a PM de vez, porque não tinha tempo de carreira suficiente para uma licença de quatro anos.
O vereador
Em seu primeiro mandato, Gabriel apresentou 16 projetos de lei ou de emendas à Lei Orgânica do município — nesse período, só dois parlamentares registraram menos proposições que ele.
Entre as propostas, está a criação da “Rua do Grau” — “espaço destinado à prática de manobras com motocicletas”, e a disponibilização de livro de reclamações nas unidades públicas de saúde.
O escoltado
Em muitos de seus vídeos, Gabriel aparece ao lado de homens com fuzis. Durante a campanha de 2020, a PM e o Ministério Público do Rio abriram uma investigação sobre uma suposta escolta irregular.
Em decisão em junho do ano passado, o juiz Alberto Republicano Macedo Júnior afirmou que o vereador estava se valendo da escolta policial para realizar diligências que fugiam ao escopo da atividade legislativa.
Depois de o pedido ser negado, a Câmara de Vereadores solicitou a escolta à Polícia Militar. A PM não informou por que a escolta do vereador é feita com fuzis.
O denunciante
Entre as denúncias de Gabriel Monteiro, estão:
Ele deu voz de prisão contra uma médica de uma UPA da Zona Norte do Rio que supostamente estava dormindo enquanto havia fila para atendimento. O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) entrou com uma representação por abuso de autoridade.
O vereador acusou o comandante do 19º BPM (Copacabana), coronel Luciano de Vasconcelos, de ser ligado ao crime de contravenção. A Justiça mandou o canal dele apagar os vídeos sobre o tema.
Gabriel insinuou que o coronel da PM Íbis Souza Pereira tinha envolvimento com traficantes da Maré —baseado em uma palestra que Íbis foi dar na comunidade. A Justiça condenou o vereador a pagar 40 salários mínimos ao coronel.
O ex-pm afirma haver uma “máfia dos reboques” no Rio e acusa o dono da JS Salazar, responsável pela administração dos pátios e dos guinchos no município, de suborná-lo. Jailson dos Santos Salazar também foi preso.
Após a denúncia, a Prefeitura do Rio de Janeiro rescindiu o contrato, e três PMs foram exonerados pela Secretaria Estado de Governo. Jailson acabou solto pela Justiça.
O investigado
O Conselho de Ética da Câmara do Rio analisa sete requerimentos questionando o vereador por abuso de autoridade. Um deles, do Cremerj, foi apresentado depois que Gabriel Monteiro invadiu um CTI de Covid pra fazer vídeos.
Outro requerimento foi aberto depois que Gabriel se envolveu em uma confusão durante uma “batida” em um bingo clandestino. A inspeção acabou em pancadaria.
As denúncias no Fantástico
Gabriel Monteiro foi acusado de assédio moral e sexual por cinco pessoas com quem o Fantástico falou.
Entre elas há servidores, ex-funcionários e uma mulher que teve relações sexuais com o ex-PM.
Além destas acusações, a reportagem também mostra que Gabriel forjou cenas de seus vídeos no YouTube, como tiroteios ou ajuda a uma criança carente, expôs seus funcionários a outros tipos de assédio.
Luíza Batista foi assistente de produção de Gabriel Monteiro. “Ele me abraçava por trás, ‘te amo’, beijava o meu rosto, saía de pênis ereto. Cansou de passar a mão na minha bunda”, narrou.
Outra mulher, que não quis revelar a identidade, afirma que consentiu uma relação sexual com Gabriel. O ato evoluiu para um estupro, porque ela diz que pediu para que ele parasse. “Teve um momento que ele usou força. Me segurou e foi com tudo. Me deixou sem saída. Eu pedindo para ele parar, ele não respeitou o momento em que eu pedi para ele parar.”
Um funcionário contou que era obrigado a cumprir expediente na casa de Gabriel, onde presenciou cenas constrangedoras. “Várias vezes ele foi na parte da frente da varanda da casa, e em outros cômodos a gente já viu também, com o órgão sexual para fora. E se vangloriando do tamanho do pênis. E mesmo se masturbando na frente de toda a equipe”, descreveu.
Mateus Souza, assessor parlamentar, afirma que Gabriel exigia carinhos “em todas as regiões do corpo”, inclusive na região genital.
Mateus e Luíza relatam ainda “pressão psicológica” na rotina de trabalho. “Xingamentos, humilhação”, afirma Luíza.
“Muitas vezes, a gente falava: ‘Gabriel, posso comer?’ ‘Não. Termina o vídeo aí rapidinho.’ Beleza. Passava duas, três, quatro horas. ’Posso comer agora?’ ‘Não, termina só esse pouquinho aí.’ E eu acabava não comendo. Do nada, ele: ‘Vamos sair para gravar na rua.’ Aí já não tinha como comer.
Os funcionários relatam ainda adulteração em vídeos. E um deles, Gabriel aparece supostamente encurralado em um tiroteio. Em outro, combina falas com uma criança em situação de rua. Com informações do g1.