O prefeito de Jequié e presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Zé Cocá (PP), defende que é hora de o PT virar a página sobre a questão do rompimento com o Progressistas na Bahia sob pena de sair desgastado. O prefeito salienta que, apesar de versões em contrário, o traidor na história é o petismo baiano. “Se for avaliar, quem foi traído foi o PP”, disse Cocá, nesta entrevista concedida a este Política Livre na última quarta-feira (23).
Cocá também acredita que somente um castigo tira a vitória do ex-prefeito de Salvador e pré-candidato do União Brasil ao governo estadual, ACM Neto. O progressistas aposta em vitória de Neto em primeiro turno; quanto à disputa entre João Leão e Otto Alencar (PSD) pelo Senado, aposta em vitória do líder do PP no Estado, mas em uma eleição muito mais disputada que a disputa pelo Palácio de Ondina.
O presidente da UPB também garantiu que a gestão da entidade se manterá inalterada após a ruptura entre PP e PT na Bahia. Salientou que, mesmo quando estava na base de Rui Costa, foi eleito e geriu a UPB de forma suprapartidária, com apoio de todos os partidos. Aliás, falando em apoio e eleição, afirmou ser injusta a avaliação de que ele só conseguiu vencer as eleições em Jequié devido ao apoio do governador Rui Costa e da primeira-dama Aline Peixoto. “Foi um conjunto de partidos, não foi somente o governador – o governador não decidiu a eleição aqui”, declarou.
Confira abaixo os principais trechos dessa entrevista:
Na última segunda-feira, o senhor fez uma coletiva de imprensa no mesmo momento em que o governador Rui Costa estava inaugurando o Hospital da Criança. O senhor, dentre outros pontos, defendeu o vice-governador João Leão, que vem sendo acusado de ser um traidor. Esse clima de animosidade deve permanecer até as eleições, após esse rompimento entre o PP e a base do governo?
Eu acho que é um momento do PT virar de fato a página com relação a isso porque, se isso continuar acontecendo, só vai desgastar o PT. Porque, de fato, foi quem traiu. Quem traiu, na minha concepção, foi o PT: foi avisado pela imprensa que um acordo que estava formalizado, que estava tudo ok, que teve o aval de Lula em São Paulo, tinha sido quebrado; e Leão soube disso em uma entrevista que Jaques Wagner deu na Rádio Metrópole. Traição, se for avaliar, quem foi traído foi o PP. Eu, sendo o PT, viraria a página em relação a isso. A nossa, no PP, graças a Deus, nós já viramos.
Temos visto uma série de exonerações de cargos do PP no governo após o rompimento, mas outra questão que chama a atenção são os anúncios feitos pelo governador de que está recebendo apoio de vários prefeitos do PP. Esses prefeitos estão sendo de alguma forma “chantageados” para continuar ao lado do governador?
Os prefeitos estão buscando os benefícios deles, não acho que é [questão] política no momento. O prefeito está firmando convênio, o governador chega no município dele e libera convênio, libera ambulância, libera obra de calçamento, obra de asfalto, praças … então qual é o prefeito, principalmente nessas pequenas cidades, que não quer receber esses benefícios? Mas a maioria absoluta dos prefeitos do PP com certeza irá acompanhar o partido. Não tenho dúvidas disso.
Outra alegação de petistas é que o senhor teria sido eleito aí em Jequié com o apoio tanto do governador quanto da primeira dama Aline Peixoto. Como o senhor enxerga essa crítica?
É uma crítica injusta [dizer] que o governador me elegeu. O governador me ajudou também. Quando o governador veio aqui em Jequié, eu tinha 66% [de intenção de votos] nas pesquisas; no começo da eleição, eu tinha 76% das pesquisas. Quando você avalia, no final, eu ganhei com 38%. Houve várias distorções no meio do caminho, mas minha eleição era quase definida. Então não foi o governador quem me elegeu, foi um conjunto de apoios: do PDT, do Democratas, do PT; juntaram-se todos os partidos em formação de nosso grupo. Foi uma construção nossa e, com certeza, do governador também, a primeira dama veio. Foi um conjunto de partidos, não foi somente o governador – o governador não decidiu a eleição aqui.
Tem saído pesquisas sobre o pleito eleitoral de outubro. Qual perspectiva o senhor enxerga para esse disputa de chapas de ACM Neto com João Leão contra Jerônimo Rodrigues e Otto Alencar?
A eleição já era dura, mas, com a formação do grupo [do governo] todo, com certeza, ACM Neto já tinha grandes chances na eleição, pois é um nome novo, pujante. Com o grupo unido, haveria um embate muito grande e poderia ganhar dele. Fora disso, acho que Neto ganha a eleição no primeiro turno: Neto tem uma conjuntura muito boa, fala bem, os eleitores estão satisfeitos com isso, ele casa bem com o sentimento do momento, fez uma gestão magnífica de Salvador, foi considerado um dos melhores prefeitos do Brasil. Então é aquele ditado popular: é testado e aprovado. Não estamos falando de um simples prefeito, de um simples político. É um cara que tem uma condição grande de ser um dos maiores governadores da história.
Fala-se que a disputa pelo Senado entre Leão e Otto pode ser até mais disputada e mais interessante de acompanhar do que a disputa entre Neto e Jerônimo. O senhor acredita que isso pode acontecer?
Na minha concepção, Leão e Otto será uma eleição mais acirrada de fato porque, pelo que se vê na eleição de Neto, pelo momento que se vive, pela condição política, é uma eleição quase definida, a não ser [que haja] um castigo. Na lei normal do homem, quando se avaliam os detalhes, a eleição de Neto é muito tranquila. Sobre Leão, além de Neto ajuda, Leão é conhecido na Bahia inteira. Para mim Leão vai ganhar a eleição, mas a eleição de senador com certeza será mais disputada que a de governador.
Como fica agora sua gestão na UPB a partir de agora? Essa nova conformação dos grupos políticos na Bahia muda sua atuação à frente da entidade?
Não, não muda nada. Eu sempre disse que a UPB é uma entidade suprapartidária, onde respeitados, com certeza, toda a diversidade política. Nós temos prefeitos do DEM, do PT e ligados a [Jair] Bolsonaro: prefeitos das três vertentes. Tem prefeito que diz que não vai votar em ninguém nesse momento, que não vai votar para governador nem para presidente, que está chateado e nós respeitamos do mesmo jeito. Na UPB, é o que eu peço à nossa equipe, à nossa diretoria para não misturar política [com a atenção aos municípios], até porque, nessa presidência, eu tive apoio de Bruno Reis [prefeito de Salvador, do União Brasil], do PT, tive apoio dos partidos ligados a Bolsonaro; todos os partidos, tanto que fui candidato único, me apoiaram. Foi uma eleição suprapartidária, e olha que eu estava, naquele momento, na base do governo do Estado. As informações são do Política Livre.