A Bahia já registra quatro subvariantes da mutação do novo coronavírus batizada de Ômicron. Em maior número de casos está o subtipo BA.1, com 660 infectados. A variação BA.1.1 registra 57 ocorrências, seguida pela BA.2, com 11. A mais recente, identificada em abril, é a XF, com 2 confirmações de pacientes. A preocupação de especialistas é que a transmissão das subvariantes da Ômicron já é maior do que aquela da cepa inicial.
O Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) fez o sequenciamento genético de 873 amostras coletadas durante o primeiro trimestre deste ano. Desse total, 799 sequências foram divulgadas. A análise detectou 730 infecções pelas subvariantes da Ômicron. O número corresponde a 91% dos sequenciamentos realizados e comunicados na Bahia.
As notificações da doença aconteceram em pacientes residentes em 193 municípios baianos. Os maiores números de contaminações ocorreram em Eunápolis, com 176 registros da sub-variante BA.1, seguido de Salvador, com 99, sendo 94 de BA.1 e 5 de BA.2.
O primeiro sequenciamento de 2022, realizado com tiragem de janeiro a março, mostrou que, das 341 amostras analisadas, 80,1% (273) corresponderam à variante Ômicron, sendo 0,9% (03) da sub-linhagem BA.2, 16,7% (57) da sub-linhagem BA.1.1 e 62,5% (213) da sub-linhagem BA.1. Também foram detectadas 10 casos correspondentes a subvariantes da variante Delta.
Os primeiros casos de XF apareceram em abril quando foram sequenciadas 179 amostras, no segundo levantamento do ano. Nele, 98% (176 amostras) foram da variante Ômicron, sendo 1% (2) de XF, 96% (169) da sub-linhagem BA.1 e 4% (7) da sub-linhagem BA.2. Ainda foi identificada 1% (1) da Delta.
A última análise, divulgada na segunda-feira (13), sequenciou outros genomas coletados nos três primeiros meses do ano. Das 279 amostras analisadas, 100% corresponderam a ômicron, sendo 99,64% (278) da sub-linhagem BA.1 e 0,36% (1) da sub-linhagem BA.2.
De acordo com o virologista da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), Jaime Amorim, enquanto a BA.1, a BA.1.1 e a BA.2 são sub-linhagens da Ômicron, a XF é a recombinação da Ômicron com a Delta. O surgimento delas representa as evoluções que o vírus passa para sobreviver, o que faz com que elas sejam ainda mais transmissíveis do que a cepa originária.
“Na medida em que o vírus vai mudando, ele vai ficando mais forte neste ponto. Ele muda justamente para conseguir se espalhar com mais eficiência. É a questão do processo evolutivo que faz com que sua capacidade de transmissão aumente”, diz o virologista.
Mais transmissível e menos letal
Já a virologista da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da UniFTC, Andrea Mendonça Gusmão explica que é difícil estimar o quão mais transmissíveis as subvariantes da Ômicron são em comparação a variante inicial. Mas apesar da maior capacidade de infecção, elas, assim como a própria Ômicron, são menos letais.
Andrea esclarece que a maior transmissibilidade da BA.1, BA.1.1, BA.2 e XF deve-se ao fato dos vírus terem desenvolvido mutações que permitem a eles aderirem mais facilmente às células humanas. As subvariantes também se replicam no trato respiratório superior, facilitando a propagação do vírus, diferentemente de outras variantes que se replicam principalmente no trato respiratório inferior, os pulmões.
Outro facilitador é o chamado “escape de imunidade”, ou seja, a possibilidade de reinfecção mesmo após a doença ou a vacinação. Mas, conforme Andrea, isso não deve ser algo preocupante, pois, as doses de reforço das vacinas são eficientes contra essa característica.
“A mutação ocorre na proteína Spike, e é ela que o vírus usa para se conectar a célula hospedeira e que também escapa a imunidade pós vacinal, mas não totalmente. O indivíduo vacinado continua tendo uma resposta imune elaborada contra a proteína, porque ele não se modifica de uma vez e porque as doses de reforço têm se mostrado muito eficazes contra isso”, explica.
Sobre o menor índice de letalidade, Jaime aponta que são necessários mais dados para saber se a infecção pelas subvariantes realmente causam uma doença menos grave ou fatal em comparação com outras variantes. No entanto, os registros mostram que a maioria dos infectados não apresentam casos graves da doença.
“Trazendo para o Brasil, a maioria das pessoas receberam imunização. Então isso faz com que a gente não veja mais infecções tão graves como vimos quando a vacinação não estava avançada. Então, por enquanto, o que podemos afirmar é que seu poder de transmissividade tem se mostrado maior que o de letalidade”, afirma o infectologista.
Impacto para o São João
A redução nos casos de covid-19 tornou possível o planejamento da festa junina na Bahia em 2022. No entanto, há 10 dias do São João, quando muitos municípios já divulgaram a grade de atrações, Serra Dourada cancelou o seu evento por ter voltado a registrar aumento de infecções.
Para o coordenador do Laboratório de Virologia da UFBA, Gúbio Soares, a presença das subvariantes no estado acende o alerta de que ainda não é o momento de festejar. “O vírus se aproveita de aglomerações para se espalhar e evoluir. Quanto mais gente reunida, mas chance teremos de gerar novas variantes”, adverte.
Ainda segundo Gúbio, mesmo com a aplicação da vacina avançando para a quarta dose, o distanciamento é necessário, pois os vacinados só apresentam uma melhor resposta imune 45 dias após o recebimento do imunizante.
“O melhor seria esperar mais um pouco. Mas se for passar por alguma aglomeração, o ideal é manter o uso de máscaras. Também devemos voltar a reforçar as outras medidas de proteção contra o vírus, como o distanciamento”, aconselha o virologista. Com informações do Correio.