Toda vez que cientistas desenvolvem um novo estudo com o objetivo de combater o coronvírus, a pergunta logo surge: pode acabar com a pandemia? O médico infectologista Marcos Caseiro afirma que o desenvolvimento da primeira vacina de spray nasal contra a Covid-19 inteiramente brasileira é “uma proposta interessante”. Porém, faz uma observação: “Nós não temos nenhum modelo de vacina desse tipo. Já foi tentado, com pouca efetividade”.
O projeto está sendo realizado por cientistas do Incor, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com a participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A projeção é que chegue ao mercado em 2023.
O coordenador da pesquisa, o médico Jorge Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor, declarou, ao Jornal da USP, que os imunizantes “de injeção intramuscular produzem muitos anticorpos circulantes, que previnem contra os sintomas e o desenvolvimento da doença, mas nem sempre produzem a quantidade desejada de IgA secretório (imunoglobulina), anticorpo presente nas secreções, mais presentes nas mucosas, como no nariz e na boca”.
Porém, na avaliação de Caseiro, os anticorpos são produzidos sistemicamente e localmente. “Nós temos um negócio que se chama imunoglobulina (IgA). E essa IgA é produzida e acaba migrando para as mucosas”, diz, em entrevista à Fórum.
Apesar de admitir que não está a par dos detalhes dessa pesquisa, Caseiro vê dificuldades na viabilidade do projeto. “Eu simplesmente acho muito difícil esses estudos irem para frente. O que ocorre é que é preciso um laboratório grande para fazer os chamados ensaios clínicos, para ver a efetividade”, avalia.
“Outra questão importante é que, agora, é muito mais difícil de se ter uma conclusão sobre a efetividade das vacinas. Normalmente, você testa o imunizante contra um placebo. O problema é que hoje todo mundo já foi vacinado ou já teve Covid. Então, é difícil achar um grupo controle para poder observar a efetividade da vacina”, relata Caseiro.
O infectologista reforça a inconsistência de argumentos negacionistas, de que as vacinas contra a Covid-19, que estão no mercado, foram produzidas muito rapidamente, o que prejudicaria sua eficácia.
Rapidez na produção dos imunizantes ocorreu porque “a doença estava em alta atividade”
“Esse fato aconteceu porque a doença estava em alta atividade. Além disso, havia um grupo controle ainda não infectado. Atualmente, isso é mais difícil”, acrescenta.
“Existem dados, que realmente eu não vi ainda. Não foram publicados dados de fase 2 para a gente ver a efetividade. De qualquer maneira, a vacina nasal é uma coisa inovadora, sem dúvida. Não deixa de ser uma esperança, pelo fato de ter um pesquisador nacional, que é o Kalil. É uma abordagem absolutamente diferente”, completa. As informações são da Revista Fórum.