Após deixar o grupo liderado pelo governador Rui Costa (PT), o prefeito de Itaberaba, Ricardo Mascarenhas (PP), avalia, em entrevista exclusiva ao site Política Livre, que o time petista perderá – e muito – sem a base e a força eleitoral que o município possui.
“A gente entende que perder uma base importante como Itaberaba afeta o grupo, afinal Rui Costa teve 18 mil votos em nossa cidade, 67% dos votos válidos na eleição de 2018, além de elegermos os mais votados deputados”, afirma Mascarenhas.
Segundo ele, romper com o petista “não foi uma decisão fácil pela relação construída com o governo estadual”. Mascarenhas seguiu os passos do vice-governador João Leão, também do PP, que se despediu de Rui para caminhar com o ex-prefeito ACM Neto (UB) nas eleições deste ano.
Apesar de agora apoiar Neto, pré-candidato ao governo do Estado pelo União Brasil, Mascarenhas prega cautela em relação ao “oba oba” da base netista quanto a eleger o ex-gestor da capital baiana já no primeiro turno. Para ele ainda não há nada garantido.
“Acredito que ele e o grupo têm trabalhado para isso. Não existe lógica na política, não existe resultado antecipado, é preciso ter os pés no chão. A gente trabalha para eleger quem melhor nos representa, então esse é nosso foco: que ele seja o mais votado aqui em Itaberaba, não aceitamos menos do que isso para todos aqueles que apoiamos”.
Confira a entrevista na íntegra:
Política Livre: Por que o senhor decidiu romper com ooverno Rui Costa?
Ricardo Mascarenhas: Não foi uma decisão fácil pela relação que construímos com o governo estadual, mas tenho que seguir o meu partido e nosso líder político João Leão. Imagina estar em um grupo de que seu deputado federal não faz mais parte; onde o deputado estadual – depois de receber 8 mil votos nas urnas – não deu atenção ao município, só um “obrigado”; onde o vice-governador não está mais. Parei e me perguntei: o que vai ser de Itaberaba agora? Fora os adversários também da linha estadual que lutaram contra a minha eleição, mas felizmente foram derrotados. O povo não quer a turma do ódio e do rancor fazendo política. A minha linha de diálogo era com Rui. A gente entende que perder uma base importante como Itaberaba afeta o grupo, afinal Rui Costa teve 18 mil votos em nossa cidade, 67% dos votos válidos na eleição de 2018, além de termos eleito os mais votados deputados. Mas é preciso deixar claro que existe uma relação anterior com João Leão e Cacá, que estão conosco há anos, intercedendo e trabalhando por Itaberaba. João Leão foi uma figura muito importante no governo, é o vice-governador; foi quem articulou muito, mediou projetos, enfim, nosso anfitrião. Não podemos esquecer do tamanho de João Leão. A decisão foi dele e da majoritária do grupo e seguimos o nosso partido.
O governo da Bahia e o governo federal fizeram proposta pelo Hospital Regional de Itaberaba. Qual é a proposta mais atrativa? Qual imbróglio com a administração estadual envolvendo esse equipamento?
O hospital está pronto para ser inaugurado, então é muito importante, nessa altura do campeonato, o interesse do governo federal. Já o governo do Estado, de uns tempos para cá, percebemos entraves anormais para o fechamento do convênio. E com a morosidade no retorno, ficou nítido que havia algo de cunho político na questão, mas não vou comentar muito esse assunto. Obviamente que isso foi antes da decisão de Leão de aderir ao movimento de ACM Neto, e, martelo batido, começou essa especulação de o governo do Estado assumir o hospital. É preciso deixar claro que o Hospital Regional de Itaberaba foi uma luta do município com o governo do Estado e com emendas do deputado federal Cacá Leão. Ninguém dava nada por esse prédio, foram 15 anos fechado. Somos muito gratos pelo apoio do governador Rui Costa à nossa cidade, mas não podemos permitir que uma estrutura desse porte, que representa muito mais para nós que números, não seja tratado como prioridade. Pessoas morreram pela ausência de um serviço desse porte, inclusive meu pai. Então não posso permitir que depois de três anos lutando, de tudo que enfrentamos, um equipamento desse seja tratado dessa forma, de jeito nenhum. Tentei de tudo, até o último momento, como não obtive retorno efetivo, tive que procurar o Ministério da Saúde. Para mim o que está em jogo é a saúde da população da Chapada Diamantina, que é a minha região. Talvez a minha pressa e a pressa da população não sejam a pressa dos governos.
Vê como positiva a estratégia do ex-prefeito ACM Neto em não colar a sua imagem em um dos pré-candidatos à presidência da República?
Acho que a política nacional será discutida no tempo certo. Agora precisamos estruturar nossos municípios, fortalecer as bases e definir projetos. Independentemente de quem seja o presidente, Neto fará uma gestão de excelência, vide a atuação dele em Salvador durante a pandemia, tocando com Rui Costa, adversário político: juntos fizeram uma inquestionável gestão de crise. Estou vendo muito voto espontâneo em Neto, acredito que seja a vez dele. Mas seja quem for o próximo presidente, Neto governará bem.
O senhor chegou a ter sido especulado como vice-governador pelo deputado petista Valmir Assunção na época em que o nome de Jaques Wagner ainda era ventilado ao governo. O senhor, naquele momento, teria aceitado o convite?
Valmir é um amigo, já votei com ele e acho uma peça importante no PT. Mas nunca houve um convite formal para isso, apenas comentários e especulações. Mesmo assim, me senti honrado pela lembrança. Afinal, um prefeito da Chapada ser cogitado ou entrar na discussão dos partidos para uma possível composição? É importante pra nós, com certeza! E Wagner fez um bom governo no Estado da Bahia.
Acredita que ACM Neto vence as eleições no primeiro turno?
Acredito que ele e o grupo têm trabalhado para isso. Não existe lógica na política, não existe resultado antecipado, é preciso ter os pés no chão. A gente trabalha para eleger quem melhor nos representa, então esse é nosso foco: que ele seja o mais votado aqui em Itaberaba, não aceitamos menos do que isso para todos aqueles que apoiamos. Vou lutar para isso.
Como o senhor, prefeito de uma das maiores cidades da Bahia, viu a proposta do presidente Jair Bolsonaro de impor um limite para o ICMS nos Estados?
Acho que o primeiro ponto é analisar se essa medida não é, mais uma vez, uma tentativa de terceirizar a responsabilidade – aos Estados – da alta dos combustíveis e do gás de cozinha. Em segundo lugar, é tentar garantias desses repasses, pois reduzir um imposto que representa a maior fonte de renda fiscal dos Estados, é complicadíssimo. Os municípios também perdem, e o povo, principalmente, não pode mais sofrer esses impactos da Petrobras. Vimos a demissão do presidente da Petrobras, o governo federal precisa ser enérgico e dar um basta nisso. Do Política Livre.