O árbitro de futebol brasileiro Igor Benevenuto, de 41 anos, declarou, nesta sexta-feira (8), ser homossexual. A revelação foi feita durante entrevista ao podcast “Nos Armários dos Vestiários”, da Globo.
Benevenuto, primeiro árbitro que pertence aos quadros da Federação Internacional de Futebol (Fifa) a assumir ser gay, revelou que não gostava de futebol. Porém, se condicionou a participar da atividade como mecanismo de inserção social.
“Eu odiava futebol, não gostava. Gostava de brincar de outras coisas, de carrinho, de motorista de ônibus, de médico, mas para poder pertencer a um grupo, a conviver com meus amigos eu tive que gostar de futebol, porque futebol era masculino era ‘coisa de homem’”, contou.
“Tenho 41 anos, 23 deles dedicados ao apito. Até hoje, nunca havia sido eu de verdade. Os gays costumam não ser eles mesmos. Limitando nossas atitudes para não desapontar a expectativa do mundo hétero. Passei minha vida sacrificando o que sou para me proteger da violência física e emocional da homofobia. E fui parar em um dos espaços mais hostis para um homossexual. Era por saber disso que eu odiava o futebol”, afirmou o árbitro.
Benevenuto disse, ainda, que foi vítima de homofobia por parte de dirigentes. “Depois de jogos, os caras xingarem ‘ah, seu viadinho’, ‘seu gay’, esse tipo de coisa bem chula, bem desagradável assim. Às vezes, você fica sem forças de fazer alguma coisa porque eu citei, não vi punição alguma, então foram essas coisas que aconteceram de desagradáveis que ainda acontecem”, relatou.
Veja outros trechos da entrevista com declarações de Benevenuto:
“Eu namorei meninas, tentei enganar meus instintos. A religião era muito presente na minha família, e por isso cresci dentro da igreja. E lá está registrado nas escrituras da Bíblia: homem que se deitar com outro homem é pecador. Uma imposição para que sejamos héteros. Na minha igreja até existia o debate, um interesse em entender o universo LGBTQIA+, mas ainda assim ser o que eu sou é considerado errado e, sendo errado, haverá punições divinas”.
“Ser árbitro me coloca em uma posição de poder que eu precisava. Escolhi para esconder minha sexualidade? Sim. Mas é mais do que isso. Eu me posicionei como o dono do jogo, o cara de autoridade, e isso remete automaticamente a uma figura de força, repleta de masculinidade. Eu queria ter esse comando e exigir respeito, como quem diz: ‘Ei, eu estou aqui! Vocês vão ter de me engolir e respeitar, me dar a oportunidade de estar entre vocês no futebol porque, sim, eu sou gay, mas sou uma pessoa normal, como todo mundo. Vocês não são melhores do que eu porque gostam de mulher’”.
“Tenho atração por homens e não sou menor por isso. Não estou no campo por isso. Não estou procurando macho, não estou desejando ninguém. Não estou ali para tentar nada. Quero respeito, que entendam que posso estar em qualquer ambiente. Não é porque sou gay que vou querer transar com todo mundo, vou olhar para todos. Longe disso. Eu só quero respeito e o direito de estar onde eu quiser”.
“O difícil é lidar com o medo que tenho de morrer. Vivemos no Brasil, o país que mais mata gays no mundo. Aqui não é apenas preconceito, é morte. É um submundo. Os gays no futebol estão em uma caixa de pandora. Jogadores, árbitros, torcedores… E nós somos muitos! Já não há espaço dentro desse armário apertado. Já não cabe mais. Chega! Sigo não suportando as piadas. A diferença é que agora não mais ficarei sufocado”.
“A partir de hoje, não serei mais as versões de Igor que eu criei. Não serei o Igor personagem árbitro, personagem para os amigos, personagem para a família, personagem dos vizinhos, personagem para a sociedade hétero. Serei somente o Igor, homem, gay, que respeita as pessoas e suas escolhas. Sem máscaras. Somente o Igor. Sem filtro e finalmente eu mesmo”. Com informações da Revista Fórum.