O assassinato do guarda-civil petista Marcelo Arruda, que foi morto a tiros em Foz do Iguaçu (PR) pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, num atentado terrorista com motivações políticas, não é um caso isolado. Ainda em 2018 e até mesmo antes mesmo da eleição que alçou Jair Bolsonaro (PL) à presidência, mortes, agressões e ameaças feitas por bolsonaristas contra petistas e militantes de esquerda já eram registradas e, desde então, não pararam de crescer.
O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes em 14 de março de 2018 já anunciava o clima de ódio que serviria como base para a atuação de bolsonaristas na campanha eleitoral e durante o governo Bolsonaro. Além do fato de que os milicianos envolvidos na morte da vereadora do PSOL tinham relações com o atual presidente, bolsonaristas debocharam e seguem debochando do assassinato brutal, que se tornou um símbolo da violência política no país.
Naquele ano, Bolsonaro já falava em “fuzilar a petralhada” e, assim como faz até hoje, incentiva a violência contra opositores, prega o armamento da população e facilita o acesso a armas de fogo.
O resultado disso é uma escalada sem precedentes de violência política, que envolve assassinatos, agressões e ameaças, não só contra petistas mas também contra militantes de esquerda ou pessoas que simplesmente se opõem ao atual governo.
Para se ter uma ideia, somente entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021 foram registrados 69 casos de violência praticada por bolsonaristas contra cidadãos no geral, lideranças de movimentos sociais e políticos, segundo memorial elaborado pelo PT e entidades. Confira a íntegra do documento aqui.
Relembre abaixo alguns casos de violência política de bolsonaristas contra opositores:
– 15 de novembro de 2017: mulher é agredida por bolsonarista ao dizer que votaria em Lula
Uma foi agredida em uma padaria de São Paulo (SP) por um apoiador de Jair Bolsonaro simplesmente por ter dito que, entre o então deputado e o ex-presidente Lula, votaria em Lula nas eleições do ano seguinte. R* contou, no relato que postou no Facebook, que parou com uma amiga para comer na padaria Bologna, na rua Augusta, em São Paulo, antes de ir para casa. No local, dois homens que comiam no mesmo balcão que ela começaram a incomodá-la e, em dado momento, um deles perguntou se em um segundo turno nas eleições de 2018 ela votaria em Lula ou Bolsonaro. Bastou ela dizer que votaria no petista para que o homem começasse a destilar uma série de ofensas de cunho racista e classista. A princípio, R* conta que ignorou as ofensas e se dirigiu ao caixa para pagar a conta e ir embora mas, diante da ofensiva dos dois homens, resolveu rebater. Um funcionário da padaria, então, teria entrado entre eles para intervir e, em um momento de distração, um dos apoiadores de Bolsonaro desferiu um soco em seu olho.
– 27 de março de 2018: Caravana de Lula é atacada com tiros no Paraná
Um dos ônibus que acompanha uma caravana de Lula no Paraná, no trajeto entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, foi atingido por pelo menos três disparos de arma de fogo. Ninguém ficou ferido. Além dos tiros, opositores armaram emboscadas na rodovia com pregos para furar os pneus dos veículos.
– 6 de outubro de 2018: carreata de apoio a Haddad é atacada por bolsonarista
Uma carreata de apoio ao então candidato à presidência Fernando Haddad (PT) em Maringá (PR) foi atacada por um bolsonarista. O agressor, que dirigia uma motocicleta com um adesivo de campanha de Jair Bolsonaro, avançou contra o ato de rua, arrancou bandeiras dos militantes e as usou para quebrar os vidros das janelas do carro onde estava a presidente do Sindaen (Sindicato dos Trabalhadores nas empresas de água, esgoto e saneamento de Maringá e região noroeste do Paraná), Vera Pedroso, que teve a mão cortada por conta dos estilhaços. Ela foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local e levou cinco pontos. Os militantes presentes na passeata tentaram conter o motociclista até a a chegada da polícia, mas instantes depois outros quatro homens apareceram para ajudá-lo e, em meio à mais agressões, conseguiram fugir.
– 7 de outubro de 2018: Bolsonaristas atropelam cineasta
O cineasta Guilherme Daldin vestia uma camiseta com a imagem do ex-presidente Lula e estava acompanhado de amigos nas proximidades da Rua Trajano Reis, no centro de Curitiba, quando foi atropelado por um carro. Daldin estava parado ao lado de um bicicletário. “Eu conversava com os amigos e o carro foi jogado contra mim, o pneu passou por cima dos meus pés. O carro saiu em disparado e quando amigos conseguiram chegar perto do motorista ele ameaçou atirar dizendo que portava uma arma”. A placa do carro foi identificada e através dela foi possível encontrar o perfil do facebook do motorista que revela em suas postagens ódio e pedido de morte a quem apoia o PT.
– 8 de outubro de 2018: mestre Moa do Katendê é assassinado a facadas
O mestre de capoeira Moa do Katendê, de 63 anos, foi assassinado a facadas por dizer que apoia Fernando Haddad, então candidato do PT à presidência, em Salvador (BA). O crime ocorreu após o primeiro turno das eleições. O assassino é eleitor de Jair Bolsonaro e matou o capoeirista por discordar das suas posições políticas. Quando foi atacada, a vítima estava em um bar com o primo Germino, de 52 anos, que também foi ferido com os golpes de faca.
– 10 de outubro de 2018: bolsonaristas armados atacam Casa do Estudante em Curitiba
Um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi agredido por bolsonaristas pelo fato de estar usando, na ocasião, um boné do MST. Ele estava com alguns amigos na praça do campus universitário quando foi espancado pelo grupo, que gritava “Aqui é Bolsonaro”. Armados, os bolsonaristas ainda depredaram a Casa do Estudante da universidade.
– 28 de novembro de 2019: bolsonarista mata idoso a socos por divergência política em SC
Apoiador de Jair Bolsonaro, Fábio Leandro Schwindlein, de 44 anos, matou o idoso Antônio Carlos Rodrigues Furtado, de 61 anos, após agressão com socos e pontapés por discussão sobre política. Rodrigues teria um posicionamento mais à esquerda e Fábio Leandro já demonstrou em diversas publicações nas redes sociais ser bolsonarista. O crime ocorreu na Avenida Alvin Bauer na região central de Balneário Camboriú. Segundo boletim de ocorrência feita pela polícia, Fábio Leandro estava “muito alterado e proferindo palavras impróprias de cunho ofensivo”, quando começou a agredir o idoso “A vítima foi para a calçada e em seguida, F.L.S iniciou com as agressões. Após o ato, a vítima caiu no chão, e o autor continuou a agredi-lo. Em ato contínuo, a vítima levantou-se e pediu para cessar com a agressão, pedido este ignorado pelo autor do fato. Neste momento, a vítima caiu novamente no chão, desta vez, desacordado”, diz o boletim. Rodrigues teve uma parada cardíaca no local e morreu.
– 18 de março de 2021: Rodrigo Pilha é preso por faixa contra Bolsonaro e sofre tortura na prisão
O ativista Rodrigo Pilha, preso no dia 18 de março de 2021 por estender uma faixa chamando o presidente Jair Bolsonaro de genocida, foi espancado e torturado na prisão. Enquanto esteve na Polícia Federal prestando depoimento, Pilha foi tratado de forma respeitosa, mas ao chegar no Centro de Detenção Provisória II, área conhecida como Covidão, em Brasília, alguns agentes já o esperavam perguntando quem era o petista. A recepção de Pilha foi realizada com crueldade. Ele recebeu chutes, pontapés e murros enquanto ficava no chão sentado com as mãos na cabeça. Enquanto Pilha estava praticamente desmaiado, o agente que o agredia, e do qual a família e advogados têm a identificação, perguntava se ele com 43 anos não tinha vergonha de ser um vagabundo petista. E dizia que Bolsonaro tinha vindo para que gente como ele tomasse vergonha na cara.
– 15 de outubro de 2021: bolsonarista armado ameaça radialista Jerry Oliveira
Em 15 de outubro de 2021, a 8ª Delegacia de Polícia de Campinas (SP) informou que estava investigando o caso do radialista Jerry de Oliveira, da Rádio Noroeste, que estava sendo ameaçado por um bolsonarista que mora no seu bairro, chamado Lourival Bento. Ele relata que, além de intimidações verbais, o filho de Lourival chegou a se dirigir a ele com uma arma na mão dizendo que “ninguém mais falaria mal do Bolsonaro”.
– 12 de dezembro de 2021: Equipe da TV Bahia é agredida por seguranças e apoiadores de Bolsonaro em Salvador
Uma equipe de jornalistas da TV Bahia, uma afiliada da Rede Globo, foi agredida em Itamaraju, Sul da Bahia, por seguranças e militantes bolsonaristas. Os jornalistas agredidos são Camila Marinho e o cinegrafista Cleriston Santana, que aguardavam a chegada do presidente Jair Bolsonaro. Após deixar o helicóptero, o presidente seguiu em direção ao estádio municipal Juarez Barbosa acompanhado de um séquito de bolsonaristas e cercado por seguranças. Quando os repórteres da TV Bahia e da TV Aratu, afiliada do SBT, tentaram se aproximar do carro em que o presidente estava, foram impedidos pelos seguranças. Um dos seguranças deu o golpe “mata-leão” na jornalista Camila Marinho. Os jornalistas da TV Aratu Xico Lopes e Dário Cerqueira também foram agredidos.
– 15 de junho de 2022: usando drone, bolsonarista despeja fezes e urina em apoiadores de Lula durante ato
Apoiadores do ex-presidente Lula que aguardavam o início de um ato político do petista em Uberlândia (MG) com Alexandre Kalil (PSD), ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato do governo de Minas Gerais, foram surpreendidos por um drone que sobrevoou o local jogando um líquido fétido no público presente. A presença do drone de pulverização – usado normalmente para agricultura – provocou uma correria no local. O responsável pelo ataque foi preso.
– 7 de julho de 2022: bolsonarista lança explosivos contra ato de Lula na Cinelândia
Explosões foram registradas durante o ato político que o ex-presidente Lula (PT) realizou recentemente na Cinelândia, Rio de Janeiro (RJ). Segundo testemunhas, o artefato foi lançado da parte de fora da área onde está o público, cercada por grades, e explodiu no chão, próximo às pessoas que prestigiavam o evento. O autor do ataque foi preso.
– 7 de julho de 2022: bolsonaristas atacam juiz que prendeu Milton Ribeiro
O juiz federal Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília, que deu a ordem de prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro no caso que apura corrupção e propinas no MEC, foi atacado por bolsonaristas com uma quantidade grande de fezes e ovos enquanto dirigia, indo de casa para o trabalho. Ele trafegava pela capital federal quando seu carro foi atingido pelos excrementos e ovos, que cobriram quase todo o para-brisa do veículo, tirando toda sua visibilidade. O magistrado precisou dirigir alguns quilômetros, quase sem enxergar, para conseguir fugir e chegar a um local seguro. Com informações da Revista Fórum.