O papa Francisco desembarcou no Canadá no último domingo (24) para uma viagem de seis dias durante a qual deve pedir perdão a povos indígenas por abusos cometidos em internatos administrados pela Igreja Católica. O roteiro é chamado pelo pontífice de “peregrinação penitencial”.
Aproximadamente 150 mil crianças indígenas foram separadas de suas famílias e matriculadas à força em 139 internatos do país durante o final do século 19 até a década de 1990. Investigações posteriores revelaram que muitas delas foram espancadas e abusadas sexualmente por diretores e professores. Estima-se que aproximadamente 6.000 alunos tenham morrido de doenças, negligência e desnutrição.
O sistema de internato foi subsidiado pelo Estado, mas administrado principalmente pela Igreja Católica. Antes de embarcar, o papa Francisco pediu orações e disse esperar que a viagem ajude no processo de reconciliação da instituição com os povos indígenas, conhecidos como Primeiras Nações, um movimento que, segundo ele, já
foi iniciado. “Esta é uma viagem de penitência. Digamos que esse é o seu espírito.”
O pontífice aterrissou em Edmonton, no oeste do Canadá, iniciando a primeira de três etapas da viagem. Ao descer do avião, foi recebido pelo premiê canadense, Justin Trudeau, e pela governadora-geral e representante da rainha Elizabeth 2º, Mary Simon. Francisco descansou neste domingo e deve se reunir nesta segunda com integrantes de povos indígenas em Maskwacis, na província de Alberta, cerca de 100 km ao sul de Edmonton. Cerca de 15 mil pessoas são esperadas no local para acompanhar o pontífice.
Depois, o papa deve visitar Quebec antes de partir para Iqaluit, cidade do arquipélago ártico no extremo norte canadense. Ele deve retornar ao Vaticano na sexta (29). Embora com propósito de reconciliação, a viagem também foi alvo de críticas. “Agora é tarde demais, porque muita gente já sofreu”, afirmou Linda McGilvery, que passou oito anos da infância em um internato. Para George Arcand Jr., chefe da Confederação do Tratado das Seis Primeiras Nações, a visita ao Canadá é histórica e parte importante de uma “jornada de cura”, mas ainda há muito a ser feito para reparar as vítimas e seus familiares.
RoseAnne Archibald, chefe das Primeiras Nações, que também cumprimentou o papa, criticou a organização unilateral da viagem e a natureza que chamou de “arcaica” da igreja, citando que a instituição não tem mulheres em cargos de liderança. Uma comissão nacional de inquérito classificou os abusos nos internatos de “genocídio cultural”. Ainda hoje os indígenas, que representam quase 5% da população total do Canadá, vivem majoritariamente em situação de pobreza.
Com mais de dez horas de voo, trata-se da viagem mais longa feita pelo papa desde 2019. No começo do mês, o pontífice de 85 anos cancelou uma visita à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul devido a um problema no joelho que o obrigou a usar bengala e cadeira de rodas.
Mais cedo, a bordo do avião papal, o pontífice voltou a dizer que anseia visitar a Ucrânia como parte dos esforços para colocar fim ao conflito que completou cinco meses neste domingo. No último dia 14, o papa recomendou tolerância zero em caso de abusos sexuais de crianças, ao se manifestar publicamente sobre a causa que levou uma delegação brasileira ao Vaticano. Com informações do Folhapress.