Cartão-postal da Chapada Diamantina, o Morro do Pai Inácio é um local que além de dar um prazer visual a quem desfruta de suas belezas, está permeado de um mito que dá o nome do lugar. É contado pelos moradores mais antigos de Palmeiras, município onde está localizado o morro – que Inácio era um escravo que teve um romance com a filha de um fazendeiro poderoso da região.
Por um tempo o romance proibido dos dois foi secreto, mas logo o pai da moça soube de tudo. O fazendeiro enfurecido com o fato ordenou ao seu capataz que tirasse a limpo o caso e, sendo confirmado, torturasse e matasse o escravo. Esta ao saber da decisão do pai em punir o seu amado, correu ao seu escravo para contá-lo e impedir que lhe fosse feito algum mal.
À pedido da sinhazinha, Inácio aceitou fugir com a promessa de que iriam se encontrar e ficar juntos para sempre. Como prova de seu amor deixou com ele, sua linda e querida sombrinha comprada na Europa, para que ele sempre recordasse dela. Despediram-se rapidamente antes que o capataz pudesse surpreendê-los. O escravo Inácio deu início a sua fuga o mais rápido possível.
Passaram-se meses de um lugar para o outro em grutas, cavernas, acampado na mata, sempre próximo de rios e cachoeiras onde se banhava e se alimentava com facilidade. Certo dia o capataz soube o paradeiro do escravo e saiu em seu encalço. Inácio teria corrido e só pegado a sombrinha da sua amada. Quando teve a ideia de se esconder no topo do morro a sua frente e escapou da busca momentaneamente.
O fazendeiro ofereceu recompensa pela captura do escravo fugitivo vivo ou morto. Pistoleiros então seguiram morro acima após uma pista do esconderijo de Inácio, que enganou seus perseguidores mais uma vez. Depois pensou em se apresentar ao capataz e aos capangas para que estes tentassem alveja-lo e simularia uma queda do morro para que pensassem que ele teria morrido e, assim, o deixariam viver em paz. E tudo ocorreu como havia pensado.
Os capangas sob a ordem do capataz se espalharam pelo morro. Grudado em sua sombrinha, o negro Inácio correu para a beira do morro que ficava a uns trezentos metros de altura. E ao sentir que os capangas se aproximavam atirando, deu um salto fantástico para o precipício, abriu a sobrinha e sumiu. Nenhum dos pistoleiros teve coragem de ficar tão próximo a borda da pedra do morro para verificar a queda e o paradeiro do corpo do escravo, nem mesmo o capataz.
Como não encontraram o corpo, decidiram voltar ao coronel e dizer que o escravo havia se jogado do morro e que ao bater nas pedras haveria morrido e o corpo ficara em pedaços espalhados morro abaixo. Como foi dado como morto, o escravo parou de ser perseguido pelo fazendeiro. Porém, o negro Inácio, continuou vivo como havia planejado. No local onde ele fez o pulo daquela borda saliente da pedra, há alguns poucos metros abaixo, havia uma outra borda de pedra onde ele amorteceu o salto e se encolheu encostado em um vão junto a parede do pedra do morro, para evitar ser localizado pelos inimigos.
O fazendeiro não acreditou e foi até o morro para verificar, mas quando viu o local onde o escravo que havia pulado se convenceu da morte. O sonho do casal só se realizou após a morte do fazendeiro e eles tiveram um filho e viveram juntos. Daí surgiu o nome para aquele lindo morro, em homenagem ao escravo Inácio que se tornou pai do filho de sua sinhazinha.
Filme sobre a lenda
O filme ‘A Lenda do Pai Inácio ou Kokumo?’, uma produção da instituição Grãos de Luz e Griô, que fica em Lençóis, Chapada Diamantina, está disponível no canal de um portal de vídeo. O audiovisual, com direção geral de Marcos Carvalho, faz uma releitura da lenda, contando um pouco da história da vida do negro que teria se apaixonado pela filha de um barão.
Leia também
#Chapada: Montagem compara a região do Morro do Pai Inácio em duas imagens com diferença de 57 anos