Candidata ao Senado pelo PSOL na Bahia, Tâmara Azevedo se apresenta, em entrevista a ao site Política Livre, como a única postulante fielmente de esquerda para o posto nas eleições deste ano. Segundo Tâmara, ela é “a única que foge dessa lógica da velha política que há décadas mantém refém a população baiana”.
A candidata não poupa críticas aos seus adversários. Para ela, o senador Otto Alencar (PSD) nunca foi um representante da esquerda no Congresso. “Em Brasília, votou quase 90% das vezes com o governo Bolsonaro”, diz Tâmara.
“Por anos ele foi aliado do carlismo na Bahia, amigo do velho ACM, ele foi secretário em seu governo nos anos 1990. Eu o vejo como um oportunista”, acrescenta.
Tâmara também afirma que não via de forma positiva o seu partido lançar um candidato para disputar a Presidência da República. “Nós temos responsabilidade com o Brasil, sabemos do risco que o país corre com o fascismo e não podemos apostar em nada que possa prejudicar o retorno da democracia neste país”, justifica. Com informações do Política Livre.
Confira a entrevista na íntegra:
Política Live: Por que o eleitor baiano deveria confiar o seu voto à senhora?
Tâmara Azevedo: Para começar, sou a única candidata de esquerda nessa disputa, a única que destoa, que foge dessa lógica da velha política que há décadas mantém refém a população baiana. Mesmo com a vitória de Lula, a gente sabe que o presidente não governa sozinho: precisa de um Congresso que não se acovarde e pense no povo. Eu tenho certeza que carrego comigo essas virtudes. Quem estiver cansado do mais do mesmo, agora tem uma candidata mulher, negra, baiana raiz e com a cara da Bahia.
A senhora se classificou como a “única candidata da esquerda” ao Senado pela Bahia. Por qual motivo rejeita o senador Otto Alencar, inserido na chapa do PT, deste campo?
Desde quando Otto é de esquerda? Por anos ele foi aliado do carlismo na Bahia, amigo do velho ACM – ele foi secretário em seu governo nos anos 1990. Eu o vejo como um oportunista. Quando foi conveniente, se estabeleceu na base do governo, mas não tem um histórico de militância política na esquerda nem sintonia com movimentos sociais. Otto Alencar também não tem identidade. Nasce no carlismo, berço do coronelismo. Além do PFL, passou pelo PTB, pelo PL, partido hoje que abriga Bolsonaro, pelo PP e ajudou a fundar o PSD, partido hoje que é a cara do Centrão. Em Brasília, votou quase 90% das vezes com o governo Bolsonaro. Se isso é ser de esquerda…
Na Bahia, o PSOL afirma que o PT baiano se aliou ao antigo carlismo e, por isso, não apoia a candidatura de Jerônimo Rodrigues. Mas, nacionalmente, o PT buscou costurar alianças com o União Brasil, tentou atrair o MDB e outras forças do Centrão para apoiar Lula. Não é o mesmo procedimento? Por que, então, o apoio nacional e o rechaço ao PT na Bahia?
Não rechaçamos o PT na Bahia, temos uma postura crítica em relação ao governo, mas quem a gente rejeita mesmo, ideologicamente, moralmente e politicamente, é o bolsonarismo, o carlismo e o coronelismo, posturas antidemocráticas. Essa é a água suja que Otto bebeu a vida inteira, em que Cacá Leão foi batizado e em que Raíssa se banha, da cabeça aos pés, se hidrata, dessa política odiosa e de interesses.
A senhora acredita que o PSOL deveria ter lançado candidatura própria?
Não, nós temos responsabilidade com o Brasil, sabemos do risco que o país corre com o fascismo e não podemos apostar em nada que possa prejudicar a manutenção da democracia neste país. Estamos com Lula visando a construção de um governo de transição. Temos bala na agulha e a nossa carta guardada na manga para o momento certo. Nos últimos anos vemos a quantidade e qualidade dos quadros que o PSOL tem alavancado e temos certeza que vamos ter uma maior presença da sigla no Congresso.
A senhora tem ficado atrás dos seus concorrentes nos últimos levantamentos. Confia nas pesquisas eleitorais?
Sabemos que pode retratar um momento, mas o volume dos levantamentos, quem contrata e o propósito há de se questionar. Hoje em dia existem vários e nem todos tem métodos confiáveis, uma boa amostragem e perguntas coerentes, tanto que vemos o aumento da judicialização. Os próprios resultados tão distintos entre elas, mostram que não são 100% precisas. O importante é que percebemos a cada dia o crescimento, engajamento maior da campanha e maior aceitação da nossa proposta.
A Câmara dos Deputados aprovou a proibição das saídas temporárias de presos, que deve tramitar agora no Senado. Pautas consideradas conservadoras como essa têm sido aprovadas nesta legislatura e é provável que a mudança de um terço das cadeiras, ainda que não haja reeleições, não altere esse quadro. A senhora já visualiza a atuação em um Congresso conservador se for vitoriosa nas eleições de outubro?
Sei do desafio que me espera. O desmonte nos últimos anos, o retrocesso, não foi resultado só do desgoverno Bolsonaro, mas também de todos os parlamentares que o apoiam que endossam os seus projetos. Mas também sei que política é a arte de convencer, de entrar em consenso, de perder por um lado e ganhar em outro. Estou pronta para defender as propostas do partido, as pautas progressistas, e dialogar com os campos que se mostrarem abertos para ouvir nossas reivindicações. Não adianta achar que vou mudar tudo sozinha, pelo contrário, será necessária uma importante habilidade de articulação para fazer avançar as propostas. Contudo, confiamos ainda que o resultado em 2022 será diferente da última eleição e vamos conseguir eleger muito mais nomes de esquerda e do campo progressista. Isso vai ser essencial para o próximo governo e ajudar a reconstruir o Brasil, colocando comida na mesa das mães de família e gerando emprego. Extraído na íntegra do site Política Livre.