Uma vira-lata caramelo foi adotada depois de ficar cerca de três meses no pátio do Hospital Municipal de Teixeira de Freitas (HMTF), no extremo sul da Bahia, e chamar a atenção dos funcionários e pacientes. Testemunhas afirmam que ela acompanhava o antigo dono, que foi internado na unidade, mas não resistiu e morreu.
A cadela permanecia na área externa e no estacionamento da unidade, e recebia água e comida dos funcionários. A situação inusitada despertou a curiosidade do assessor da Secretaria da Saúde do Município, Adriano Moreno.
Ele disse que há cerca de dois meses foi lotado para uma demanda no HTMF e todos os dias encontrava a cadela no mesmo local. Buscou informações com outros funcionários e todos comentavam ela havia chegado para acompanhar o então tutor, que foi paciente do hospital.
Na unidade funcionava um hospital de campanha para tratamento de pacientes com Covid-19, que foi desativado em abril deste ano. Os funcionários não confirmaram qual a causa da morte do antigo dono, nem o nome do rapaz.
“Cheguei aqui há cerca de dois meses e já tinha observado a cadela na área onde tinha a tenda do hospital Covid. Assim que a tenda do hospital de campanha foi desmontada, alguns funcionários foram lotados em outros setores. Em contato com eles, principalmente do setor de nutrição e da manutenção, me contaram que ela já estava aqui há um tempo”, disse Adriano.
Ele acionou o Projeto Resgate, uma ONG que resgata animais abandonados em Teixeira de Freitas. Simara Soares, diretora da entidade, foi até o local e disse ter ficado encantada com a forma que a cadela era tratada.
“O dono estava internado e faleceu. Ela [a cadela] perambulava em alguns lugares, mas dormia lá no pátio do hospital esperando o dono voltar para casa. Ainda bem que o pessoal não enxotou. Pelo contrário, davam comida e água. Eu vi que ela era dócil e levei para o abrigo. Postei nas redes sociais e a história comoveu as pessoas”, comentou.
Repercussão
Simaria compartilhou a informação na conta da ONG no Instagram e diversas pessoas quiseram conhecer a história e a cadela que acompanhava o paciente. A entidade fica no bairro Trancredo Neves, vizinho ao Hospital Municipal, e foi criada para cerca de 10 cachorros resgatados.
No entanto, o trabalho – e o carinho pelos animais – cresceu, e atualmente o abrigo do Projeto Resgate acolhe cerca de 80 cães, todos retirados da rua em situação de abandono ou vítimas de acidente, e sobrevive somente com doações.
“Tive que construir o abrigo porque eu pegava animais de rua e cuidava sozinha. Damos prioridade a resgatar cães gravadas, vítimas de acidente ou doentes. A gente higieniza, castra para que não haja reprodução e disponibiliza para adoção”, disse a diretora da ONG.
‘Carinhos que se completam’
Após ver o anúncio e a história da cadela nas redes sociais, a fotógrafa Tamires Cabral, de 32 anos, disse ter ficado apaixonada. Ela disse que sempre gostou de animais e estava trabalhando no processo de luto após a perda de outro cão de estimação há cerca de oito meses.
No sábado (20), ela foi até a sede do Projeto Resgate e encontrou a cadela, que passou a se chamar Moana. Tamires é casada e tem uma filha de 2 anos, que se encantou pelo animal. Segundo ela, a chegada da cadela levou uma nova energia ao ambiente.
“Quando Branca [a antiga cadela] morreu, fiquei sem pegar outro cachorro. Eu não compro e não vendo animais e vários amigos queriam me dar. Mas decidi esperar um cão que esteja precisando de mim. Quando vi Moana, disse: ‘é ela’”, comentou a fotógrafa.
“A gente está sofrendo o luto da perda da nossa cachorrinha. E ela [Moana] estava sofrendo o luto pelo antigo dono. Claro que ninguém apaga ninguém, mas os nossos carinhos se completam”.
Moana recebeu tratamento VIP, foi levada para higienização, e está com a saúde sendo monitorada pela nova tutora. Tamires disse ainda que é possível que a cadela esteja gestante, pela forma como tem se portado e pela aparência física.
Sozinha ou em família, o pet foi acolhido pela nova tutora e vai amenizar um tanto o sofrimento pela perda do antigo dono. E o carinho trocado passou a preencher a nova casa depois do luto que ficou. Com informações do g1 Bahia.