Depois de um período de queda, em consequência do corte de tributos e das reduções do preço nas refinarias da Petrobrás, o preço da gasolina nos postos voltou a subir na última semana, de acordo com levantamento nacional da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Após o segundo turno da eleição presidencial, no dia 30 de outubro, pode haver mais aumento ainda.
Há alguns fatores que podem esclarecer o reajuste, de acordo com avaliação de Carla Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
“O que explica o aumento dos preços médios da gasolina ao consumidor são, principalmente, os preços praticados pela refinaria privatizada na Bahia (ex-Rlam), que também acompanha o movimento do mercado internacional. E isso responde ao fato de no levantamento da ANP para a semana de 9 a 15 de outubro, a Bahia ter aparecido como o estado com o preço médio da gasolina mais caro do país (R$ 5,56), com alta de 10,3% em relação à semana anterior”, relata Carla.
A refinaria de Mataripe (antiga Refinaria Landulpho Alves – Rlam), em São Francisco do Conde na Bahia, hoje privatizada e sob controle da Acelen, empresa do fundo árabe Mubadala, subiu, nas duas últimas semanas, os preços do diesel e da gasolina. Os novos valores foram justificados pelos gestores como uma tentativa de acompanhar as últimas altas do preço internacional do petróleo.
Além disso, segundo a pesquisadora, há a elevação do preço do etanol. O impacto da chuva na produção agrícola tem contribuído para a elevação dos preços do etanol hidratado, assim como do anidro, que compõe em 27% a fórmula da gasolina comum vendida nos postos.
Em relação ao reajuste na refinaria baiana, é evidente que Jair Bolsonaro (PL) tem sua dose de responsabilidade, por foi sob sua gestão que a empresa foi privatizada.
“Claro, se a gente for considerar que o governo Bolsonaro foi quem concluiu a privatização da Rlam, teria algum tipo de relação, que é uma questão que já estava anunciada, tanto pelo Ineep quanto pela Federação Única dos Petroleiros (FUP). A privatização faria com que a empresa, com controlador privado, tendesse a seguir o mercado internacional com foco em ampliar suas margens”, explica Carla.
“Acontece que, em tese, a Petrobrás também segue a mesma política de preços de paridade de importação, que é o PPI. Quando houve esse movimento recente dos últimos meses de redução de preços internacionais, a gestão da Petrobrás foi reajustando seus preços de forma próxima, acompanhando essa redução, o que não tem acontecido agora com o movimento de aumento do preço internacional. Com isso, o preço médio praticado pela Petrobrás se descolou do preço internacional, o que a gente avalia que pode ser pela proximidade do segundo turno da eleição, tendo em vista o impacto direto sobre a popularidade do presidente, caso haja um aumento do preço dos combustíveis neste momento”, analisa a pesquisadora do Ineep.
Carla Ferreira acredita que da forma como está hoje, podem ocorrer mais aumentos após o segundo turno da eleição.
“A partir dos dados que a gente observa, do levantamento dos preços de paridade de importação que a ANP faz, considerando os dados da semana passada, o preço da Petrobrás está abaixo da paridade de importação. Caso se mantenha esse cenário, provavelmente, havendo a passagem do segundo turno, esses preços podem vir a subir. Mas também depende do mercado internacional, que ainda continua muito volátil”, acrescenta a pesquisadora.