A Polícia Militar do Distrito Federal fechou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta segunda (31), após receber informações de que caminhões que participam em bloqueios de estradas pelo país estariam se dirigindo à capital. Os bloqueios estão relacionados à não aceitação do resultado das urnas por parte de bolsonaristas e, em vídeos divulgados pelas redes sociais há denúncias de apoio da Polícia Rodoviária Federal à postura golpista.
A informação é do jornalista Renato Souza, do portal R7. De acordo com sua apuração, há risco de ataques a órgãos públicos. Os alvos mais óbvios seriam órgãos do Judiciário, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal Eleitoral (TSE), frequentes alvos de Jair Bolsonaro e seus apoiadores em discursos e narrativas.
Embalados por discursos de não aceitação do resultado eleitoral repassados por WhatsApp, bloqueios de caminhões começaram a tomar estradas importantes de Santa Catarina e do Mato Grosso horas depois do anúncio dos resultados da apuração, na última madrugada. Com o passar das horas se espalharam para 18 estados. Realizados em locais onde há redutos do bolsonarismo, os atos logo ganharam a adesão de moradores, também indignados com a derrota. Enquanto isso, nada do presidente se pronunciar.
Bloqueios de caminhões foram registrados desde a noite de domingo em estradas importantes de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Tocantins, Acre, Amazonas, Acre, Roraima, Pará, Rondônia, Bahia e Maranhão.
Um dos vídeos que estão circulando neste dia seguinte às eleições resume a indignação com a derrota e o discurso golpista. Nas imagens é possível ver um homem, ainda não identificado pela reportagem, fazendo um discurso dentro de um salão. Pelo sotaque, parece ser do oeste de Santa Catarina, mas ainda não foi possível confirmar a procedência exata da filmagem.
“Eu, você, o brasileiro está expondo: ‘eu não aceito o comunismo’. Vamos aguardar as próximas horas e já ver quem tem amigo caminhoneiro, do agronegócio, e já vai falando com seus amigos. Por enquanto pacificamente, por enquanto. Agora vai ficar no coração de cada um aceitar se o Brasil vai ser comunista ou não! Eu não aceito”, declarou, ao que os demais presentes responderam que também não aceitavam para em seguida todos fazerem barulho.
“Eu vou morrer, nós vamos morrer, ninguém é eterno. Mas não vou me entregar pra filha da p**a de comunista e acabou! Agora é que define quem é homem e quem é menino, quem é mulher e quem é menina. Está feito o recado. E tem que reverberar no Brasil inteiro.
AGORA: Polícia Militar do DF fecha Esplanada dos Ministérios, em Brasília, após informações da inteligência apontar a aproximação de caminhões, com risco de ataques a órgãos públicos.
— Renato Souza (@reporterenato) October 31, 2022
Apoio (não tão) velado da PRF
Um segundo vídeo que circula nas redes sociais e aplicativos de mensagens, é possível ver um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), durante bloqueio na região de Blumenau e Rio do Sul, em Santa Catarina, dizendo que não irá multar os manifestantes. Ele chegou a chamar os manifestantes de “nossos patrões” e, após sua fala, foi ouvida uma efusiva comemoração dos presentes.
Antes de finalizar a fala, deu satisfações aos presentes sobre a atuação da corporação: “Vamos fazer imagens, mas é só porque a chefia pediu, para mostrar que está pacífica e a dimensão do movimento”.
Em outro vídeo, gravado durante bloqueio em Santa Catarina, aparentemente em região litorânea, um agente da PRF se dirige aos manifestantes e expõe ordem vinda de superiores de que deve permanecer ali apenas acompanhando a movimentação. “O que eu tenho para dizer agora é que a única ordem que nós temos é para estar aqui com vocês, só isso”, diz o agente.
Visto que no último domingo a PRF foi implacável em mais de 500 operações pelo país, sobretudo no Nordeste, para fazer valer o código de trânsito brasileiro, surpreende que nesta segunda-feira (31) não se importem em ver tantas estradas bloqueadas. A corporação também não se manifestou ainda a respeito das operações, o que fez com que o Ministério Público Federal (MPF) enviasse um ofício a Silvinei Vasques, diretor-geral da PRF exigindo explicações em até 24 horas sobre as providências tomadas em relação ao bloqueio.
Ao G1, a corporação informou que acionou a Advocacia-Geral da União para ajuizar ações contra os bloqueios e posteriormente retirá-los. Redação da Revista Fórum com informações do Uol, do G1 e da Agência Pública.