Sem cargo eletivo pela primeira vez desde 1989, quando foi eleito vereador no Rio de Janeiro após ser transferido para a reserva pela Justiça Militar, Jair Bolsonaro (PL) terá mansão e salário pago pelo PL com dinheiro público do fundo partidário para se manter em Brasília e fazer oposição ao governo Lula (PT) a partir de 1º de Janeiro de 2023, quando terá que deixar o Palácio da Alvorada, residência oficial do Presidente da República.
A negociata foi feita em reunião com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto – que já cumpriu pena por corrupção -, logo na segunda-feira (31), quando Bolsonaro ainda se encontrava isolado e revoltado com a derrota nas urnas anunciada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na noite anterior.
Na reunião, Costa Neto ainda ofereceu um escritório político para Bolsonaro receber parlamentares da ultradireita, além de advogados para que ele possa se defender da avalanche de ações que devem tramitar na Justiça comum, já que a partir de janeiro o presidente não terá foro privilegiado.
A questão judicial é a principal preocupação de Bolsonaro, que chegou a cogitar a deixar o país, mas teria sido convencido a ficar e tentar manter o capital político com os 58 milhões de eleitores que votaram nele.
O salário que será pago pelo PL vai se somar às aposentadorias que Bolsonaro já tem como deputado e militar, mas seria insuficiente para pagar advogados para defendê-lo em mais de uma centena de processos dos quais é alvo somente nos últimos quatro anos.
A decisão de ficar em Brasília, em vez de voltar a morar no condomínio Vivendas da Barra – onde foi preso o Ex-PM Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos tiros que assassinaram Marielle -, foi influenciada por duas questões, além da política.
A primeira delas é se afastar do condomínio no Rio de Janeiro, onde Bolsonaro não teria sossego, segundo aliados. A outra questão é familiar, já que apenas Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que deve reassumir o cargo de vereador na Câmara do Rio, segue morando na capital fluminense.
A influência maior foi Michelle Bolsonaro, que pretende continuar vivendo próximo aos familiares dela no Distrito Federal. Em Brasília, o clã Bolsonaro deve morar no Lago Sul, área nobre onde o filho, Flávio, comprou uma mansão por R$ 6 milhões.
Na capital federal, às custas de dinheiro público, Bolsonaro tentará a todo custo manter vivo o movimento fascista que cunhou desde os tempos quando militou no baixo clero do Congresso. E isso faz parte do acordo com Costa Neto.
O grande desafio, no entanto, será desviar da avalanche de problemas jurídicos e familiares que deve enfrentar. Além de manter fidelidade ao partido do Centrão, algo difícil tanto para Bolsonaro, quanto para a sigla, que sempre tende a apoiar aqueles que estão no poder. Da Revista Fórum.