Jair Bolsonaro (PL) não consegue esconder sua apatia. Calado desde sua derrota para o presidente eleito Lula (PT) no segundo turno das eleições, ou seja, há mais de um mês, o ainda ocupante do Palácio do Planalto, nas poucas aparições públicas que fez, deixou claro, não só pelo silêncio, mas pelo seu semblante, um ‘abatimento emocional profundo’.
A tristeza de Bolsonaro ficou evidente, por exemplo, no último evento em que esteve presente. Nesta quinta-feira (1) ele participou de uma cerimônia de promoção de oficiais do Exército em Brasília e, o que se viu, foi um presidente em fim de mandato com expressão fechada, claramente incomodado.
Apesar de ter sido fechada à imprensa, a cerimônia foi transmitida pela TV Brasil e, durante cerca de 1 hora de evento, Bolsonaro permaneceu em silêncio e, muitas vezes, foi flagrado olhando “para o nada”. O evento, nas redes sociais, foi comparado a um velório.
Ao jornalista Chico Alves, do portal UOL, aliados e pessoas próximas confirmaram que a situação do futuro ex-presidente não é nada boa. “Ele acreditava que haveria alguma mudança no quadro político, por conta das manifestações à porta dos quartéis e nas rodovias, mas acho que percebeu que não tem jeito”, disse um amigo de Bolsonaro que esteve com ele em outra cerimônia militar recente, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), ocasião em que o mandatário também ficou em silêncio.
Segundo um outro aliado, Bolsonaro, que já estava emocionalmente desestabilizado, teria ficado ainda mais apático após a notícia de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antecipou a diplomação de Lula – o que deixa o petista apto para iniciar o mandato – para 12 de dezembro.
“À medida que a mudança de governo se aproxima, ele nota que a situação é irreversível. A tristeza dele é preocupante, talvez seja caso médico”, revelou o interlocutor.
Os planos de Bolsonaro
Em longa entrevista ao jornal Gazeta do Sul publicada nesta sexta-feira (2), o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) rechaçou a possibilidade de um golpe militar, reconheceu a vitória de Lula (PT), disse que o presidente eleito “tem que governar” e ainda expôs os planos de Bolsonaro.
Segundo o militar, Bolsonaro deve se lançar candidato à presidência, mais uma vez, em 2026. “Julgo que o presidente Bolsonaro sai dessa eleição forte. 58 milhões de votos não é pouca coisa e ele tem plenas condições de se articular com uma Câmara e um Senado onde tem uma base muito consistente e eleita em cima das ideias dele. Então, ele tem condições ao longo desse período de liderar esse grupo, apresentar-se como uma oposição responsável”, afirmou. “O presidente pode ser eleito em 2026 em uma situação muito melhor do que a de agora”, prosseguiu.
Na mesma entrevista, Mourão revelou ainda o que Bolsonaro pretende fazer – ou não fazer – até o dia 1º de janeiro, data em que está marcada a cerimônia de posse do presidente eleito Lula.
“O presidente não vai renunciar. Essa questão da passagem da faixa é de menor importância nesse momento. É apenas um ato simbólico, que significa o final de uma transição entre um grupo que está saindo do governo e outro que está chegando. Pelo que eu sei, o presidente não irá passar a faixa e também não irá renunciar. Consequentemente, alguém colocará a faixa em uma almofada e entregará ao novo presidente após ele subir a rampa”, atestou. Redação da Revista Fórum.