Criticada pela oposição, que viu na iniciativa uma desconsideração para com o crescente contingente de desabrigados e desalojados pelas chuvas na Bahia, mesmo diante da reação enérgica e rápida do governador interino, Adolfo Menezes (PSD), em favor das vítimas, a viagem de Rui Costa (PT) à Europa também virou alvo de especulações em Brasília sobre um suposto descontentamento seu com o andamento da montagem do governo do presidente eleito Lula.
Apesar das justificativas apresentadas pelo governador da Bahia de que a viagem fora programada há vários meses com a família e, além disso, sua alegação de que deixara todos os ajustes na equipe antecipadamente programados, poucos políticos habituados à rotina brasiliense, inclusive deputados baianos, acreditam em sua versão. Pelo contrário, consideram que a ida à Europa, num momento crucial para Lula como o atual, seria um sinal de insatisfação.
A maioria associa o alegado descontentamento de Rui às indicações da ex-ministra do Planejamento e ex-presidente da Caixa Econômica Federal Miriam Belchior como sua secretária-executiva e do deputado federal Márcio Macedo (SE) para ministro da Secretaria-Geral. No caso de Míriam, cujo nome passou a circular como opção para a posição antes mesmo de Rui anunciá-la, sua indicação acabou impondo a ele uma mudança nos planos que tinha para o ministério.
Rui deixou a Bahia certo de que indicaria o atual secretário estadual de Infra-estrutura, Marcus Cavalcanti, para a secretaria executiva da Casa Civil, mas, diante da imposição do presidente eleito em relação a Míriam, acabou tendo que colocá-lo como Secretário Especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que agora passou a ser pleiteado pela senadora Simone Tebet (MDB-MS).
“Marcus foi de Zero 1 de Rui para Zero 4”, diverte-se um deputado do PT que não nega torcer abertamente contra o sucesso do governador como auxiliar de Lula. Em sua avaliação, na prática, apesar da importância da Casa Civil em qualquer governo, ainda mais na Presidência da República, Rui recebeu um ministério esvaziado, exclusivamente operacional, cuja parte política e estratégica ficará quase que totalmente na mão de terceiros.
Ele diz que em Brasília a maioria acredita que, pela configuração política da pasta, na qual a secretaria de Relações Institucionais foi entregue a outro deputado experiente, Alexandre Padilha (SP), a imagem que se tem é de que Rui ficará “tutelado” entre as forças políticas do PT paulista, consideradas as mais influentes do partido no país.
A presença de Macedo, um conhecido desafeto de Rui na Secretaria-Geral, seria outro péssimo sinal para o governador, de cuja adaptação na nova função de ministro chefe da Casa Civil, inclusive, muitos políticos duvidam, exatamente por causa do nível de autonomia ao qual se acostumou na Bahia depois de oito anos exercendo o cargo político e administrativo máximo do Estado. O governador só deve retornar ao Estado nesta quinta-feira. Do site Política Livre.