A reunião marcada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os governadores dos estados, que discutiria nesta segunda-feira (9) as demandas de cada unidade da Federação acabou ganhando novos participantes e teve como pauta a resposta aos ataques terroristas bolsonaristas ocorridos no último domingo (8) nas sedes dos Três Poderes da República com a conivência das forças de segurança. Somaram-se à reunião o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira, o presidente em exercício do Senado, Venesiano do Rêgo, e ministros do Supremo Tribunal Federal, entre eles a presidente Rosa Weber.
Lula começou falando sobre o ineditismo da reunião, agradeceu a presença de todos e logo começou a narrar os acontecimentos. “O que vimos ontem [domingo, 8] já estava previsto. As pessoas que estavam nas ruas e em portas de quarteis não tinham reivindicação. Eu sempre negociei, e nunca tive problemas pra negociar. Mas essa gente não tem pauta de negociação. A única negociação que essa gente poderia ter, é que se entrou com um recurso para negar o resultado do processo eleitoral e o ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, negou o pedido e multou o partido que o fez para que seu presidente parasse de ser massa de manobra”, declarou Lula, em clara crítica a Valdemar Costa Neto, presidente do PL de Bolsonaro.
Lula lembrou a fuga de Bolsonaro aos Estados Unidos, a negação da entrega do Palácio do Planalto e os ataques feitos ao general Hamilton Mourão, vice-presidente de Bolsonaro chamado de covarde pelos fundamentalistas golpistas. “Estavam em todos os estados na frente dos quarteis reivindicando o quê? Aumento de salario? Construção de habitação? Uma vida melhor? Nada disso, eles reivindicaram golpe”, declarou.
Lula foi além e arriscou uma análise mais ampla sobre a importância da investigação e punição exemplar dos envolvidos nos ataques terroristas à Praça dos Três Poderes. O presidente considera que é preciso “reparar um defeito que vem lá de trás, de quando se começou a negar tudo no país”.
“Eu sou o maior perdedor de eleição presidencial no país: não tem ninguém que perdeu mais do que eu, como não tem ninguém que ganhou mais do que eu. E todas as vezes que eu perdi, eu voltava pra casa e ia lamber minhas feridas – como dizia o Brizola – e me preparava para a outra eleição. Essa gente começou a reivindicar o negacionismo das eleições”, comentou o presidente. Em seguida, Lula fez uma forte defesa da democracia e disparou contra militares e polícias que atuaram como forças auxiliares para os golpistas, especialmente nos últimos meses. Lembrou a todos o terror que é um país sob um regime autocrático e ditatorial.
“Nós sabemos que na história desse país tivemos pessoas que foram presas e torturadas, e outras que morreram, porque ousaram falar em derrubar um governo. Todos aqui sabem quanta gente foi torturada por não concordar com o Regime Militar, e agora tem gente reivindicando golpe na frente dos quarteis, e não tem um general pra dizer que isso não pode acontecer e que o Exército não apoiaria tal aventura. Dá a impressão que tinha gente que gostava dessa multidão pedindo golpe. No Segundo Exército, em São Paulo, parece que gostaram. Ficaram lá dois meses e tinha banheiro químico, barraca, almoço, churrasco… como aqui em Brasília”, disparou.
“Nós não fizemos nada até que eles fizeram. Fizeram aquilo que não esperávamos que fizessem. E depois da grande festa democrática do dia primeiro de janeiro, todos fomos pegos de surpresa. Eu estava em São Paulo, em Araraquara, atendendo as vítimas da enchente, quando vi a notícia de que a Suprema Corte, o Palácio do Planato e o Congresso Nacional estavam sendo invadidos. Não quis acreditar. E tive que falar com o meu ministro para tomar uma atitude forte, porque a polícia de Brasília negligenciou. Há uma conivência explícita da polícia apoiando os manifestantes. Vi soldados do Exército conversando com manifestantes como se fossem aliados”.
O presidente Lula ainda ressaltou que mandantes e financiadores dos ataques não deram as caras nas ruas e que o governo agora irá se empenhar em investigar quem são esses mandantes. “Eu sou especialista em acampamento e em greve e digo para vocês: não é possível um movimento durar o tempo como eles duraram na porta dos quarteis, sem financiamento. Em nome de defender a democracia, não seremos autoritários com ninguém, e nem mornos com ninguém. Vamos investigar e descobrir que financiou. A democracia é o nosso bem maior e a razão pela qual me candidatei a presidência da República. Quando acabar meu mandato, quero entregar o país muito melhor do que recebi e com a democracia consolidada”, finalizou o presidente antes de convidar a todos os presentes para uma visitar ao STF – o principal alvo da destruição bolsonarista. Da Revista Fórum.