Barras de metal, escudos, rojões, pedaços de paus, extintores de incêndio e mangueira de água foram as armas usadas por golpistas para iniciar a invasão ao Congresso e avançar sobre o efetivo limitado de policiais legislativos no último dia 8 de janeiro. Imagens das câmeras de segurança do Senado, obtidas pelo GLOBO, mostram cenas explícitas de vandalismo e depredação do patrimônio público enquanto agentes tentam, sem sucesso, conter o terrorismo sem precedentes na história do país.
A invasão de manifestantes se iniciou pelo Salão Negro, espaço onde ocorrem solenidades e que também serve como entrada do Senado. Três seguranças observam os manifestantes subirem a rampa do Congresso. Quando as primeiras vidraças começam a ser quebradas, eles correm para se proteger da violência dos invasores.
Para terminar de estraçalhar as vidraças, os manifestantes utilizam uma barra de metal e um carrinho. O primeiro invasor que aparece no vídeo segura um guarda-chuva e veste uma bandeira da seleção. Depois dele, dezenas de pessoas entram no local, a maioria usando verde e amarelo. Um encapuzado se aproxima e lança um rojão lá dentro.
A Polícia Legislativa do Senado contava, inicialmente, com 20 policiais em seu efetivo de plantão naquele domingo. Outros que estavam de folga foram convocados depois que foi constatada a gravidade dos fatos, chegando a um total de 60 policiais atuando para conter os manifestantes.
À medida que avançam, eles rompem o caminho até o Salão Azul, local que dá acesso a áreas estratégicas como o plenário e a Presidência. Uma fileira de nove policiais legislativos com escudos e capacetes forma uma barreira para conter os terroristas. Diante do avanço dos invasores, os policiais soltam bombas de gás e spray de pimenta, mas acabam sendo obrigados a recuar.
Com isso, os terroristas tomam conta da entrada do Salão Azul e começam a quebrar tudo que veem pela frente. Também usam uma mangueira para alagar o local.
Seguindo na invasão, os golpistas avançam com paus, barras de ferro e outras armas. Chegam na área conhecida como Praça das Bandeiras, enquanto os policiais recuam. Com essas armas, eles continuam o quebra-quebra, destruindo até mesmo um vaso de flores que orna o interior do Senado.
Alguns deles vestem equipamentos que foram abandonados pelas forças de segurança, como capacete, colete e escudos. Um dos golpistas tenta manipular a mangueira de incêndio. Outro espalha os destroços do vaso quebrado sobre o tapete azul para usá-los como armas cortantes. Também quebram as janelas de vidro.
De lá, os terroristas invadem o plenário e continuam a depredação. Os policiais legislativos montam uma barreira na área próxima e conseguem entrar no plenário para prender em flagrante 38 invasores que estavam no local.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entregou nesta sexta-feira as imagens e as provas colhidas pela Polícia Legislativa ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que ele apresente denúncias contra os 38 presos em flagrante pelas invasões. Dentre as provas apresentadas estão os vídeos das câmeras de segurança.
Cenário de destruição
Nesta sexta-feira (13), O Globo mostrou que, cinco dias após os atos terroristas de 8 de janeiro, o mau-cheiro ainda está impregnado no Senado Federal. O imenso carpete do Salão Azul e tapeçarias históricas foram molhadas com água e urina. As marcas dos vândalos também ficaram expostas nos quadros de ex-presidentes da Casa. Os retratos de José Sarney, Renan Calheiros e Ramez Tebet, em pintura a óleo e dispostos no Salão Nobre, foram rasgados e quebrados.
O cenário de destruição causado por vândalos apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro está detalhado em um relatório feito pela Diretoria-Geral do Senado, que estima um prazo mínimo de 40 dias para os reparos dos danos materiais. O valor total dos danos que puderam ser estimados é de R$ 3,5 milhões, segundo levantamento feito no dia seguinte aos ataques.
O custo real dos ataques que destruíram móveis históricos e obras de arte, porém, é tratado como “inestimável” pela perícia. Já os danos físicos e estruturais somam R$ 2 milhões, com a destruição de vidros e espelhos no edifício principal do Senado, bem como nos Anexos I e II. O Salão Azul, revestido de carpete e que dá acesso ao plenário, ao gabinete do presidente da Casa e Secretaria Geral da Mesa, foi alagado, urinado e estragado por substâncias químicas.
Os policiais legislativos responsáveis pela segurança do Senado relataram, em depoimentos, que os terroristas invadiram o Congresso Nacional utilizando bombas caseiras, estilingues com bolas de gude, fogos de artifício e rojões. Eles afirmam ainda que o grande número de invasores e a violência adotada por eles inviabilizou a tentativa de contê-los.
Os depoimentos foram prestados no domingo à Polícia Legislativa, no momento em que os policiais do Senado prenderam em flagrante 38 invasores. Um dos relatos foi de Gilvan Viana Xavier, coordenador-geral da Secretaria de Polícia do Senado Federal.
Ele conta que, antes dos atos terroristas, havia recebido informes de inteligência indicando que cerca de 5 mil manifestantes sairiam do quartel-general do Exército em direção ao Congresso Nacional com intenção de invadir o prédio. De acordo com seu depoimento, os manifestantes romperam os bloqueios da Polícia Militar do DF por volta das 15h e avançaram em direção ao Legislativo.
“Os manifestantes utilizaram pedras, paus, estilingues, grades para atacar os policiais legislativos no local, bem como destruir os obstáculos de acesso”, relatou. Prosseguiu Xavier: “Em face do número dos manifestantes, bem como a violência empregada não foi possível impedir a invasão do Senado Federal”.
Um dos invasores preso nos atos de domingo, Marcos dos Santos Rabelo, chegou a confirmar em depoimento que se dirigiu do QG do Exército à Praça dos Três Poderes munido de “pedaços de pau, um estilingue, 5 bolinhas de gude e 5 chumbadas de anzol (espécie de utensílio de chumbo usado para pescarias)”.
No depoimento, Xavier conta que os invasores agiram com agressividade e entraram quebrando tudo que viam em sua volta. Disse que os policiais legislativos tiveram que recuar devido à ” violência da turba”. Com informações d’O Globo.