O servidor público Marcelo (nome fictício), de 41 anos, e parte de sua família apoiam pautas de esquerda e votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas eleições. Em 9 de janeiro, um dia depois dos atos terroristas ocorridos em Brasília, Marcelo enviou um email ao Ministério da Justiça denunciando a própria irmã. No dia anterior, ele havia recebido uma chamada de vídeo dela, de 49 anos, do saguão de um dos prédios dos Três Poderes, em Brasília.
Ela viajou de uma cidade na serra gaúcha à capital federal para participar de atos golpistas. No email, divulgado pelo UOL, ele encerra assim: “registro minha profunda tristeza por realizar denúncia do gênero contra familiar de primeiro grau. Trata-se de minha irmã”.
No relato que fez ao UOL, Marcelo afirma: “Minha irmã, que é servidora pública, disse que estava de férias e contou à família que viajou a Brasília ‘a trabalho’. Eis que, no domingo [dia 8 de janeiro], ela não apenas mandou no grupo da família no WhatsApp um vídeo dos ataques ao Congresso, como fez uma chamada de vídeo lá de dentro. Eu estava assistindo ao vivo pela internet [à cobertura dos atos golpistas], quando recebi a ligação dela. Fiquei revoltadíssimo.”
Marcelo conta ainda que após a reação negativa da família, ela apagou o vídeo. Ele afirma ainda que os problemas começaram logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff: “ela defendia o kit covid, com cloroquina [sem eficácia contra a doença]. Tivemos uma briga pesada e ficamos um tempo sem nos falar.”
Mesmo assim, ele diz que “a participação dela nos ataques em Brasília foi surpresa absoluta. Até minha sobrinha disse estar decepcionadíssima com a atitude da própria mãe”.
A denúncia
Desde aquele dia, tenho acompanhado o máximo possível de postagens e assistido aos vídeos feitos pelos vândalos, para ver se ela está identificável em algum. Nada até agora. Marcelo afirma que a denunciou no e-mail do Ministério da Justiça e no do Ministério Público Federal.
“Infelizmente não consegui juntar vídeos, fotos ou prints. É apenas meu relato, mas, se solicitarem informações da companhia aérea ou dados de geolocalização do celular dela, encontram provas”, conta.
“Mandei o e-mail de denúncia chorando. É uma sensação muito ruim, de fracasso, ver alguém do seu núcleo mais íntimo com esse perfil, travestido de um patriotismo fajuto. Sei que isso pode trazer complicações para ela, até no trabalho. Mas crime não tem desculpa e é a Justiça quem tem de decidir”, encerra. Redação da Revista Fórum com informações do UOL.