Após dizer que é “italiano”, sinalizando um possível plano de fuga para a Itália diante de novas denúncias, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria nesta quinta-feira (2), diretamente dos EUA, onde está desde 30 de dezembro, procurado aliados para tratar das acusações feitas contra ele pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES).
O parlamentar revelou em entrevistas à imprensa que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada no dia 9 de dezembro em que Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira detalharam um plano de golpe de Estado.
O plano consistiria em Marcos do Val marcar uma reunião com Alexandre de Moraes para grampear o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de tirar do magistrado uma declaração comprometedora, como a de teria “extrapolado” a Constituição e, assim, fazer com que as eleições fossem anuladas, Bolsonaro se mantivesse no poder e o magistrado fosse preso.
Segundo o relato, Bolsonaro estaria de acordo com o plano e prints de mensagens do deputado Daniel Silveira a Marcos do Val após a reunião confirmam em partes o conteúdo do encontro golpista.
De acordo com apuração da jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, o ex-presidente, a aliados, confirmou que participou da reunião relatada por Marcos do Val, mas que teria ficado em silêncio e que somente Silveira teria falado no encontro. Bolsonaro teria informado a interlocutores que permaneceu “absolutamente calado, inclusive com medo do descontrole e do medo de ser gravado por Daniel Silveira”.
Seja como for, mesmo que tivesse ficado em silêncio, Bolsonaro poderia responder pelo crime de prevaricação, já que teria presenciado o planejamento de um golpe de Estado, dentro da residência oficial da presidência, sem comunicar o fato à Justiça. Logo que a denúncia de Marcos do Val veio à tona, o senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, já havia confirmado a realização da reunião citada, dizendo, porém, que não houve nada de ilícito.
“Sobre o que está sendo noticiado hoje com relação ao senador Marcos do Val, ele já havia me relatado o que tinha acontecido, que isso seria trazido a público. Contudo numa linha de que essa reunião que aconteceu, ela seria uma tentativa de um parlamentar de demover as pessoas que estavam nessa reunião de fazer algo absolutamente inaceitável, absurdo e ilegal”, declarou.
“Eu peço aqui, obviamente, que todos os esclarecimentos sejam feitos e eu não peço aqui nem abertura de inquérito, pq a situação narrada não configura nenhum tipo de crime. Mas que todos os esclarecimentos sejam feitos para que não fiquem narrativas em cima de narrativas no intuito de superar os fatos. Fato é que dia 31 de dezembro o presidente Bolsonaro deixou a presidência”, prosseguiu Flávio Bolsonaro.
“Italiano”
Bolsonaro, até o momento, não se pronunciou de forma pública sobre a denúncia. Em entrevista à mídia dos EUA na manhã desta quinta-feira, no entanto, afirmou que, “pela legislação”, ele pode ser considerado “italiano”. “Pela legislação, eu sou italiano, eu tenho avós nascidos na Itália, e a legislação de vocês diz que sou italiano”, declarou.
Questionado pela imprensa se pretende fazer o processo de reconhecimento da cidadania italiana, tal como seus filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, o ex-presidente tergiversou e se limitou a dizer: “Pouquíssima burocracia e cidadania plena”.
A fala, feita justamente no dia da denúncia de Marcos do Val, que se soma ao caso da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, que está preso, indica que Bolsonaro, diante do cerco se fechando, não pretende retornar ao Brasil tão cedo e já vislumbra, inclusive, morar na Itália.
Ainda nesta quinta-feira, Marcos do Val prestará depoimento, autorizado por Moraes, à Polícia Federal, no âmbito do inquérito que apura os atos golpistas do dia 8 de janeiro e que devem implicar diretamente Bolsonaro. Com informações da Revista Fórum