O caso das joias presenteadas à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil teve um novo episódio revelado nesta terça-feira (7) pela imprensa. Apenas 37 dias depois de que a caixa de joias não declarada foi barrada na alfândega, José Tostes, então secretário da Receita Federal, foi demitido.
Nos 37 dias que transcorreram entre a primeira tentativa de trazer as joias para o país – por meio da comitiva do então ministro de Minas e Energia (MME) Bento Albuquerque que aqui chegava – e a queda de Tostes houve outras três tentativas de liberar a entrada do pacote.
O segundo intento foi feito pelo próprio Alburquerque, que retornou à era da alfândega para informar aos funcionários que as joias seriam um presente para Michelle Bolsonaro a fim de que a ‘carteirada’ vencesse os procedimentos previstos.
A terceira tentativa foi um envio de ofício do MME ao Ministério de Relações Exteriores (MRE), em 3 de novembro de 2021, pedindo auxílio na questão. A quarta tentativa foi a resposta do MRE, que solicitou à Receita Federal as informações úteis a respeito do que fazer para liberar a caixa de joias.
Com a queda de Tostes, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou em seu lugar Julio Cesar Vieira Gomes, um auditor fiscal de carreira próximo do clã familiar. À época, a demissão foi divulgada na imprensa como uma reestruturação do Ministério da Economia. Tal divulgação tinha como objetivo de minimizar a repercussão da demissão de Tostes.
O então secretário da Receita Federal não tinha uma boa relação com o clã Bolsonaro e vivia sob sua pressão. Para além da crise com as joias, também era pressionado por conta das investigações contra Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do RJ, sobre o escândalo das rachadinhas. À época, em 2020, um relatório da Receita Federal, assinado por Tostes, contribuiu para a abertura das investigações.
Demitido por Guedes na suposta “reestruturação do ME”, Tostes ganharia um cargo em Paris, na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), prometido pelo então ministro da Economia. Mas após deixar a Receita Federal jamais assumiu o novo cargo. Redação da Revista Fórum.