Auditores da Superintendência Regional do Trabalho do Estado de São Paulo, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, resgatou cinco homens em condições análogas à escravidão na montagem e preparação do festival Lollapalooza, realizado neste final de semana.
Segundo o depoimento dos trabalhadores que foram resgatados, eles atuavam como carregadores de caixas de bebidas e eram obrigados a enfrentar jornadas de 12 horas diárias em situação degradante. “Depois de levar engradados e caixas pra lá e pra cá, a gente ainda era obrigado pela chefia a ficar na tenda de depósito, dormindo em cima de papelão e dos paletes, para vigiar a carga”, disse um dos resgatados ao site Repórter Brasil.
Reincidente
Em nova fiscalização feita por auditores do Trabalho, realizada nesta sexta-feira (4), cerca de 800 funcionários que atuam nos bares do festival estão com os seus direitos trabalhistas “gravemente violados”.
Os auditores encontraram uma série de infrações cometidas pela empresa terceirizada Team Eventos, que substituiu a Yellow Stripe, que foi flagrada com os cinco trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Ao Repórter Brasil, a Team Eventos declarou que teve menos de 24 horas para organizar tudo. “Em menos de 24 horas tivemos que mobilizar grande contingente de pessoal e promover ajustes em nossa operação a fim de realizar o serviço. [Estamos] trabalhando nas adequações cabíveis”, declarou.
Os trabalhadores contratados pela Team Eventos realizavam jornadas irregulares de 12 horas, sem remuneração por hora extra e sem descanso previsto em lei. O valor do exame médico admissional é descontado do salário e não recebiam vale-transporte.
Produtora do Lollapalooza pode ser proibida de fazer novas edições do festival no Brasil por trabalho escravo
A Bancada Feminista do Psol na Câmara Municipal de São Paulo, mandato coletivo que é representado institucionalmente pela vereadora Silvia Ferraro, protocolou junto à Justiça paulista, na última sexta-feira (24), uma ação em que pede medida cautelar contra o Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do mundo que reunirá ao longo deste final de semana no Autódromo de Interlagos, Zona Sul da capital, artistas de sucesso nacionais e internacionais.
Na peça jurídica, o mandato coletivo pede para que a Justiça proíba a Time For Fun (T4F), empresa que produz o Lolla no Brasil, de realizar novas edições do festival no país diante do novo flagrante de trabalho análogo à escravidão na montagem e preparação do megaevento, cujo ingresso pode chegar a custar mais de R$ 5 mil.
Na última terça-feira (21), uma operação realizada por auditores da Superintendência Regional do Trabalho no Estado de São Paulo, órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego, resgatou 5 trabalhadores em condições análogas à escravidão no Autódromo de Interlagos.
Segundo depoimento dos próprios trabalhadores, eles atuavam como carregadores de caixas de bebidas e eram obrigados a enfrentar jornadas de 12 horas diárias em situação degradante, tendo que dormir no local sob a ameaça de serem demitidos caso voltassem para suas casas. “Depois de levar engradados e caixas pra lá e pra cá, a gente ainda era obrigado pela chefia a ficar na tenda de depósito, dormindo em cima de papelão e dos paletes, para vigiar a carga”, disse um dos resgatados ao site Repórter Brasil.
“Com idade entre 22 e 29 anos, eles não tinham dignidade alguma, dormiam dentro de uma tenda de lona aberta e se acomodavam no chão. Não recebiam papel higiênico, colchão, equipamento de proteção, nada”, detalhou, por sua vez, Rafael Brisque Neiva, um dos auditores que participaram da operação de resgate.
Os trabalhadores prestavam serviços para a Yellow Stripe, empresa terceirizada contratada pela T4F, que organiza o Lollapalooza no Brasil. Em nota, a organização do festival informou que, após a constatação do ocorrido a partir da operação de resgate, a T4F encerrou “imediatamente a relação jurídica estabelecida com a Yellow Stripe”. “A T4F considera este um fato isolado, o repudia veementemente e seguirá com uma postura forte diante de qualquer descumprimento de regras pelas empresas terceirizadas”, diz a produtora em nota [leia a íntegra ao final desta matéria].
Acontece que esta não é a primeira vez que há registros de trabalho análogo à escravidão no festival. Em 2018, a produtora foi denunciada por utilizar mão de obra de pessoas em situação de rua, sem qualquer formalização contratual, submetendo-as a condições degradantes. Esses trabalhadores recebiam entre R$ 40 e R$ 50 por uma jornada de 12 horas. Já em 2019, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP) apresentou denúncia ao Ministério Público do Trabalho para que fosse investigada a mesma situação.
Em 2022, o Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, fez a mesma denúncia, apontando que as pessoas em condição de vulnerabilidade eram “contratadas” para trabalhos exaustivos em troca de refeições ou baixa remuneração. As informações são da Revista Fórum.