A assinatura de deputados da base aliada pela criação da CPI do MST na Assembleia Legislativa, que contraria os interesses do governo Jerônimo Rodrigues (PT), pode não ter sido um gesto isolado de rebeldia. Numa reunião ocorrida na última segunda-feira (10), entre líderes e parlamentares do grupo da maioria na Casa, um clima de insatisfação com o governo teria simplesmente explodido.
No encontro, governistas abriram o coração e se queixaram de demora na distribuição das funções comissionadas no interior, que, segundo eles, está paralisada, além de negligência no atendimento político e falta de perspectiva de liberação de emendas, clamando pelo retorno do governador da viagem à China, que acaba esta semana, para tentar resolver as pendências.
Uma das parlamentares mais exaltadas foi a líder do PSD, deputada Ivana Bastos, segundo relatos. Não foi à toa que ela e outros três deputados do partido assinaram o requerimento a favor da CPI e deixaram claro que não irão voltar atrás – os outros foram Ângelo Coronel Filho, Cafú Barreto e o presidente da Assembleia, Adolfo Menezes, que garantiu nesta terça-feira (11) à oposição que vai mandar instalar a comissão de investigação.
Outro insatisfeito é o líder do bloco independente formado por Solidariedade e PL, Luciano Araújo, filiado à primeira sigla. Dos seis parlamentares que integram o grupo, três são governo e três fazem parte da oposição, sendo que todos assinaram pela criação da CPI, incluindo Raimundinho da JR, que, além de integrar o bloco, é vice-líder da bancada da maioria na Assembleia.
“O problema todo é que estamos sem atendimento com a viagem de Jerônimo à China. Não somos mais atendidos pelo secretário Luiz Caetano (Relações Institucionais) e as demandas dos deputados não fluem, não têm andamento. A base se mostrou unida durante a votação para o TCM (Tribunal de Contas dos Municípios), mas não há o reconhecimento necessário neste início (de gestão)”, disse um parlamentar da base aliada ao site Política Livre.
Durante a eleição que resultou na vitória da ex-primeira-dama Aline Peixoto ao TCM, o governo prometeu acelerar o pagamento de emendas impositivas atrasadas e as de 2023, o que não ocorreu na prática nesses 100 primeiros dias de gestão, segundo dados da Secretaria da Fazenda (Sefaz).
De acordo com a pasta, dos R$ 149,9 milhões previstos para atender as demandas dos deputados estaduais em 2023, apenas R$ 363 mil foram efetivamente pagos em janeiro e fevereiro, sendo que somente três parlamentares com mandato foram contemplados: Maria Del Carmen (PT), com R$ 50,6 mil; Roberto Carlos (PV), com R$ 212,4 mil e Bobô (PCdoB), com R$ 100 mil.
Do montante, pouco mais de R$ 1 milhão teve empenho registrado nos dois primeiros meses, ou seja, há promessa de pagamento para logo. Nessa lista dos empenhos há ainda, além dos citados anteriormente que tiveram emendas pagas (apenas Roberto Carlos recebeu o total empenhado), os deputados Nelson Leal (PP), Rogério Andrade Filho (MDB), Antônio Henrique Júnior (PP), Olívia Santana (PCdoB) e Pedro Tavares (União), o único da oposição na lista.
“Essa questão de ter um atrito ali ou ali, uma insatisfação pontual, é natural nesse momento de início de governo. Não há uma crise, há apenas uma coisa ou outra para resolver, para ajustar. Isso é normal em qualquer governo, principalmente em um que está iniciando”, avaliou o experiente deputado Zé Raimundo (PT), em conversa com o Política Livre.
Vale frisar que, além da insatisfação com o governo, os dez parlamentares da base aliada que assinaram o requerimento a favor da instalação da CPI do MST também o fizeram por pressão dos produtores rurais. As informações são do Política Livre.